terça-feira, 7 de junho de 2022

Guerra na Ucrânia aumenta a pobreza na América Latina e no Caribe


Publicação da CEPAL aponta que a desaceleração econômica, a maior inflação, e a lenta e a incompleta recuperação dos mercados de trabalho, aumentarão a pobreza, a extrema pobreza e a insegurança alimentar na região em 2022.
Legenda: Publicação da CEPAL aponta que a desaceleração econômica, a maior inflação, e a lenta e a incompleta recuperação dos mercados de trabalho, aumentarão a pobreza, a extrema pobreza e a insegurança alimentar na região em 2022.
Foto: © CEPAL

A Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL) lançou nesta segunda-feira (6) um novo informe especial que analisa os impactos econômicos e sociais da guerra da Ucrânia na região e oferece recomendações aos países sobre como enfrentá-los.

Segundo o organismo regional das Nações Unidas, as economias latino-americanas e caribenhas enfrentam uma conjuntura difícil em 2022, num contexto externo de incerteza, inflação (especialmente em alimentos e energia) e desaceleração da atividade econômica e do comércio.

De acordo com o informe da CEPAL 'Repercussões na América latina e o Caribe da guerra em Ucrânia: como enfrentar esta nova crise?', a região enfrenta contextos internos caracterizados por uma forte desaceleração econômica, aumentos da inflação e uma lenta e incompleta recuperação dos mercados de trabalho, o que aumentará os níveis de pobreza e extrema pobreza. Assim, 7,8 milhões de pessoas se somariam aos 86,4 milhões cuja segurança alimentar já está em risco.

O documento foi apresentado pelo secretário-executivo interino da CEPAL, Mario Cimoli, em uma coletiva de imprensa, que mostrou que a presente conjuntura não deve ser vista como um fenômeno isolado porque seus efeitos se combinam com outros provocados por mais de uma década de crises acumuladas: a crise financeira internacional, as tensões econômicas entre os Estados Unidos e a China, e a pandemia.

Neste marco, o estudo indicou que depois da expansão econômica observada em 2021 (6,3% do crescimento do PIB regional), a região alcançará em 2022 um crescimento médio anual de 1,8% (como informou a CEPAL), que tende a retornar ao lento padrão de crescimento de 2014-2019 (apenas 0,3% em média por ano, com a consequente queda do PIB por habitante).

Os avanços na vacinação, as menores restrições à mobilidade e a reabertura das escolas impulsarão uma recuperação dos níveis de participação no mercado de trabalho, em especial das mulheres, que foram as mais afetadas porque saíram em maior proporção que os homens do mercado de trabalho durante a pandemia. A ação conjunta de uma maior participação no mercado de trabalho e um baixo ritmo de crescimento e, portanto, de criação de empregos, levará a um aumento da taxa de desocupação em 2022.

O documento apontou que as economias da América Latina e do Caribe começaram a experimentar um incremento na taxa de inflação em 2021. Enquanto que no final de 2021 a inflação anual alcançou 6,6%, essa taxa aumentou para 8,1% em abril de 2022, momento em que muitos bancos centrais antecipavam que a inflação se manteria elevada no restante do ano.

Levando em conta os efeitos do lento crescimento e da aceleração da inflação, a CEPAL prevê que a pobreza e a extrema pobreza se elevarão acima dos níveis estimados para 2021. A incidência da pobreza na região alcançaria 33,7% (1,6 pontos percentuais mais do que o valor projetado para 2021), enquanto que a extrema pobreza alcançaria um 14,9% (1,1 pontos percentuais mais do que em 2021). Este resultado reflete o forte aumento do preço dos alimentos. Esses níveis são notoriamente superiores aqueles observados antes da pandemia e implicam outro retrocesso na luta contra a pobreza, ressalta o informe da CEPAL. 

O documento observou também que os preços elevados das matérias-primas, o aumento dos custos de transporte e as mudanças nas cadeias internacionais de fornecedores deverão impactar nas exportações de bens da região. Em dezembro de 2021, a CEPAL projetava um aumento de 10% do valor das exportações regionais de bens e 9% do valor das importações. No entanto, a alta de preços de vários dos principais produtos que a região comercializa, elevou a projeção de 2022 para uma expansão de 23%, tanto das exportações quanto das importações.

Para responder a conjuntura e dinamizar um crescimento sustentável e inclusivo, serão necessárias políticas fiscais e monetárias a favor do crescimento. A CEPAL propõe seguir utilizando a política fiscal como elemento central da política de desenvolvimento, o que requer fortalecer os ingressos públicos para ampliar o espaço fiscal. É necessário reduzir a evasão, reorientar os gastos tributários e fortalecer a progressividade da estrutura tributária.

A CEPAL recomenda, neste momento, que a segurança alimentar seja uma prioridade. Por isso, não se deve restringir o comércio de alimentos e fertilizantes, que aceleraria a inflação e seria mais danoso para os mais pobres. Também deve-se considerar ações como manter ou aumentar os subsídios aos alimentos, implementar acordos de contenção de preços da cesta básica com produtores e cadeias de comercialização, e reduzir ou eliminar tarifas de importação de grãos e outros produtos básicos.

A médio prazo, são necessárias políticas agrícolas e industriais que fortaleçam o apoio à produção agropecuária, assim como aumentar a eficiência no uso de fertilizantes, priorizando os biofertilizantes. A política industrial é chave para reduzir a dependência da importação de fertilizantes no médio prazo.

Ao mesmo tempo, em matéria de segurança energética, é necessário avançar nas fontes renováveis e na integração energética regional. São necessários mecanismos de estabilização de preços dos combustíveis, assim como subsídios focalizados e temporais nos grupos da população mais vulnerável e nos setores produtivos orientados ao mercado interno, segundo a publicação da CEPAL.

“A América Latina e o Caribe enfrentam novos cenários geopolíticos. A ruptura da globalização pode levar a diferentes configurações regionais que determinarão suas políticas com base em objetivos de soberania em defesa, energia, alimentos e setores industriais-chave, desde aqueles de mais alta tecnologia, até alguns insumos de utilização ampla, como os fertilizantes. A região não pode continuar atuando de maneira fragmentada. É necessário aumentar o papel da articulação regional nas respostas à crise: formular e implementar as respostas de América Latina e do Caribe em seu conjunto ou de seus blocos de integração”, concluiu o secretário-executivo interino da CEPAL.

  • Acesse aqui o documento completo: Repercussões na América latina e o Caribe da Guerra em Ucrânia: como enfrentar esta nova crise? (em espanhol).

Assessoria de imprensa: prensa@cepal.org ou (56) 22210 2040.

www.miguelimigrante.blogspot.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário