terça-feira, 12 de abril de 2022

Há racismo embutido nas práticas de acolhimento de refugiados na Europa, diz professora

 


A resposta dos países europeus à chegada de refugiados da guerra na Ucrânia é, em geral, positiva. Muitos têm sido recebidos de forma solidária pelos vizinhos, recebendo ajuda humanitária, além do auxílio jurídico por parte dos governos. No entanto, esse tipo de acolhimento não foi observado em outras ocasiões, onde imigrantes vindos de outros locais encontraram dificuldades para se estabelecer nas nações europeias, afirmou a socióloga, professora, pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos e coordenadora acadêmica da cátedra Sérgio Vieira de Mello, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Svetlana Ruseishvili.

Em entrevista à CNN nesta segunda-feira (11), a especialista afirmou que os altos números de pessoas fugindo da Ucrânia (cerca de 4,5 milhões de refugiados em países europeus) e em deslocamento interno no país (cerca de 7,1 milhões), demonstram uma crise. Mas, do ponto de vista do acolhimento desses cidadãos, a resposta positiva impede que exista um agravamento da situação. “No ponto de vista dos números é uma grande crise, mas no ponto de vista da acolhida dos refugiados ucranianos na Europa, eu não diria que por enquanto é uma crise. Agora, tudo isso pode mudar, se a guerra continuar e demorar”, disse Ruseishvili. Os números foram divulgados pela ACNUR.

A recepção dos ucranianos tem sido diferente da de pessoas de diferentes regiões do planeta em outras ocasiões, como a crise de refugiados que atingiu a Europa em 2015.

Todos os pesquisadores têm ressaltado a questão de que há uma seletividade no acolhimento das pessoas refugiadas na Europa. De fato, a gente vê esse contraste muito grande quando a gente discute sobre 2015, a tal chamada de crise dos refugiados na Europa – crise porque os países europeus não estavam desejando receber essas pessoas, principalmente pessoas do Norte da África e do Oriente Médio. Hoje, nós temos uma resposta totalmente diferente. Isso tem a ver com um racismo embutido nas práticas de acolhida dos refugiados na Europa? Certamente sim, mas também há outras questões envolvidas.

Svetlana Ruseishvili

“As pessoas ucranianas são uma população europeia, o conflito acontece no território europeu, então essa proximidade linguística e cultural também despertam uma certa soliedariedade horizontal, soliedariedade popular, daquelas pessoas que a gente vê que estão acolhendo os refugiados dentro das suas próprias casas, o que talvez não aconteça com grupos que vêm de outras regiões. De qualquer maneira, isso não é desculpa para continuar com essas políticas seletivas de acolhida. A gente precisa tomar esse momento atual como um precedente para que as políticas de acolhida humanitária sejam iguais, igualitárias, para todas as pessoas que estão precisando de proteção”, afirmou a socióloga e pesquisadora.

CNNBrasil

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