Em 1º de abril, o sorteio de chaves da Copa do Mundo de 2022 acontecerá no Catar, sede do torneio. Este é um grande evento para os fãs de futebol, que esperam ter a sorte de cair em um grupo fácil que ajudem o caminho de seus times favoritos até a partida final de dezembro.
Infelizmente, muitas vezes foi a sorte, em vez de leis e proteções robustas do Catar, que determinou o destino de milhões de trabalhadores migrantes, muitos dos quais foram atraídos para o país na última década pelo fascínio (e muitas vezes ilusão) por salários mais altos, mas que apenas encontraram o sofrimento dos terríveis abusos nas mãos de empregadores sem responsabilidade e sem escrúpulos. As autoridades do Catar criaram e mantêm um sistema que permite que isso continue, sem soluções eficazes para os trabalhadores explorados.
Ainda assim, esses trabalhadores migrantes construíram e restauraram oito estádios de última geração, hotéis, ferrovias e concluíram o aeroporto internacional, entre as principais obras de infraestrutura, para a realização dos jogos.
No entanto, o sistema abusivo do kafala (estrutura laboral para trabalhadores imigrantes na qual o empregador é responsável por “patrocinar” a ida e a permanência do trabalhador no país) tem, dia após dia, criado um sistema no qual trabalhadores migrantes são explorados por seus empregadores. Isto inclui não pagamento de salário, servidão por dívida por altas taxas de recrutamento e lesões e doenças em decorrência da negligência do empregador e ao trabalho em calor extremo. Pior de tudo, milhares de trabalhadores morreram no Catar na última década. Para suas famílias, que raramente recebem qualquer tipo de explicação ou compensação, essas perdas tiveram um enorme custo emocional e financeiro.
Se o Catar tivesse cumprido suas promessas de melhoria e aplicado rigorosamente as recentes reformas anunciadas, migrar para o Catar não seria uma loteria com resultados incertos e muitas vezes desfavoráveis, mas sim um caminho confiável para sair da pobreza.
A FIFA, que escolheu o Catar para sediar a Copa do Mundo, também compartilha a responsabilidade pelo sofrimento dos migrantes. Em vez de pressionar as autoridades do Catar para intervirem, encobriu a complacência do governo.
De acordo com os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos que a FIFA adotou em 2016, a Federação tem a responsabilidade de reparar os abusos que causou ou contribuiu, responsabilidade esta que ainda não foi cumprida.
Embora o sorteio da Copa do Mundo em 1º de abril seja algo pelo qual os fãs de futebol de todo o mundo estão ansiosos, para milhares de famílias ainda de luto, esta Copa do Mundo será um lembrete doloroso de sua perda irreparável. Não há nada que o Catar nem a FIFA possam fazer para compensar a perda de um ente querido, mas reparações que proporcionam algum alívio financeiro para famílias em dificuldades é o mínimo que poderia ser feito.
hrw.org/pt
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