sábado, 23 de abril de 2022

Guerra encolhe perspectivas econômicas mundiais enquanto a inflação se acelera, afirma FMI

 Análise do conselheiro econômico e diretor do Departamento de Estudos do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, aponta que instabilidade atrasa crescimento econômico, que não deve passar de 3,6% nos próximos anos; ele afirma que fragilidade econômica causada pela pandemia e prolongamento do conflito pode apagar ganhos que tiraram milhões de pessoas da pobreza.

O Fundo Monetário Internacional, FMI, alerta que as perspectivas econômicas globais sofreram um grande encolhimento devido à invasão da Ucrânia pela Rússia.

O conselheiro econômico e diretor do Departamento de Estudos, Pierre-Olivier Gourinchas, afirma que o conflito acontece ao mesmo tempo em que a economia global ainda buscava se recuperar dos efeitos da pandemia.

Forte dependência de commodities aumentou globalmente deixando cerca de dois terços dos países em desenvolvimento vulneráveis a choques econômicos
World Bank/Thomas Michael Perry
Forte dependência de commodities aumentou globalmente deixando cerca de dois terços dos países em desenvolvimento vulneráveis a choques econômicos

Guerra na Ucrânia

Pierre-Olivier Gourinchas explica que mesmo antes da guerra, a inflação estava em alta em muitos países devido a desequilíbrios entre oferta e demanda e às políticas de apoio para conter os efeitos da pandemia. O resultado foi um movimento de retração da política monetária.

Ele adiciona que os atuais confinamentos na China podem criar gargalos nas cadeias logísticas globais.

O diretor do Departamento de Estudos do FMI disse que além do impacto humanitário imediato e trágico, a guerra atrasa o crescimento econômico e acelera o aumento da inflação.

Pierre-Olivier Gourinchas ainda afirma que houve um aumento acentuado dos riscos econômicos e que as autoridades enfrentam dilemas de políticas ainda mais difíceis.

O especialista lembra que as projeções para o crescimento global foram revisadas para baixo e devem chegar a 3,6% tanto em 2022 como em 2023, principalmente em razão do impacto direto da guerra na Ucrânia e das sanções à Rússia.

Além da forte contração esperada nos dois países, as perspectivas de crescimento da União Europeia foram revisadas em baixa de 1,1% devido aos efeitos indiretos do conflito. A situação torna a região a segunda maior a contribuir para o rebaixamento geral das previsões.

O representante do FMI lembra que a Rússia é um importante fornecedor de petróleo, gás e metais e, juntamente com a Ucrânia, de trigo e milho. A oferta reduzida provocou um forte aumento dos preços desses produtos.

Os países mais afetados são os importadores de commodities nas regiões da Europa, do Cáucaso e da Ásia Central, do Oriente Médio e Norte da África e da África Subsaariana.

Mas, para ele, a escalada de preços dos alimentos e combustíveis prejudicará as famílias de baixa renda em todo o mundo, inclusive nas Américas e no resto da Ásia.

A Europa Oriental e a Ásia Central têm estreitas ligações comerciais diretas e de remessas com a Rússia e deverão sofrer um impacto. O deslocamento de cerca de 5 milhões de ucranianos para países vizinhos, em especial Polônia, Romênia, Moldávia e Hungria, intensifica as pressões econômicas na região.

É esperado que inflação alta persista, com interrupções contínuas na cadeia de abastecimento e altos preços da energia
© ILO/Feri Latief
É esperado que inflação alta persista, com interrupções contínuas na cadeia de abastecimento e altos preços da energia

Inflação e commodities

A perspectiva a médio prazo foi revista em baixa para todos os grupos, exceto os exportadores de commodities que se beneficiam do aumento dos preços da energia e dos alimentos.

Embora a tendência da inflação já viesse em alta por causa da alta dos preços das commodities e dos desequilíbrios entre oferta e demanda, o FMI acredita que a inflação permanecerá elevada por muito mais tempo por causa do conflito.

Segundo o relatório, a guerra também aumenta o risco de uma fragmentação mais permanente da economia mundial em blocos geopolíticos com padrões tecnológicos, sistemas de pagamentos transfronteiriços e moedas de reserva distintos.

O FMI alerta que esse movimento causaria perdas de eficiência a longo prazo, aumentaria a volatilidade e representaria um grande desafio à estrutura baseada em regras que tem governado as relações internacionais e econômicas nos últimos 75 anos.

O representante aponta que a prioridade mais imediata é acabar com a guerra. De acordo com Pierre-Olivier Gourinchas, também deve ser dada especial atenção à estabilidade da ordem econômica mundial para garantir que a estrutura multilateral que tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza não seja desmantelada.

Ele afirma que em questão de semanas, o mundo sofreu mais uma vez um grande choque. No momento em que se vislumbrava uma recuperação duradoura após a pandemia, irrompeu a guerra, que pode eliminar ganhos recentes.

Para o diretor do FMI, os desafios que enfrentados exigem medidas de políticas apropriadas e concertadas em nível nacional e multilateral para evitar resultados ainda piores e melhorar as perspectivas econômicas para todos.

Onunews 

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