sábado, 14 de julho de 2018

Imigrantes na seleção da França faz país repensar xenofobia

Talvez tenha sido em 1970 que a França começou a perceber uma mudança em jogo. Na Copa de 1978, na Argentina, um jovem nascido em Guadalupe foi o precursor do que viria a acontecer no futebol - e também na sociedade francesa.
Márius Tresor chamava atenção por sua agilidade e força, além de sua coragem em campo. O imigrante da colônia francesa escancarava para a sociedade local a sua habilidade. Em troca, ele conquistava não só o seu lugar na história do futebol frânces, mas também melhores condições de vida para a sua família.
- VIA GETTY IMAGES
Depois dele, outros nomes vieram, como Jean Tigana, jogador de origem malinês.
Em 1998, N'Golo Kanté, aos 7 anos, catava lixo nas ruas de Paris para depois enviá-los para empresas de reciclagem. Com esse trabalho, ele ajudava no orçamento dos pais imigrantes do Mali. Hoje, duas décadas depois, ele integra a equipe que pode levar o Mundial.
Naquele mesmo ano, Benjamin Mendy crescia em um subúrbio da capital. Aos 7 ou 8 anos, ele não se reconhecia como Bejamin, mas como Zidane ou Ribéry. Foi essa imaginação que tornou possível que Mendy se tornasse um profissional no esporte.
Para o pesquisador Jamil Chade, a vitória da frança na Copa de 1998 só foi possível com a presença dos jogadores imigrantes. E essa vitória inspirou as futuras gerações.
Porém, o título no esporte não é suficiente para que os imigrantes superassem as contradições e os desafios de viver às margens da sociedade europeia.
"Quando esses jogadores conquistam importantes vitórias, são usados como exemplos de uma integração que funciona. Quando perdem, são questionados por sua lealdade questionável vis-a-vis o país que lhes acolheu", comenta Chade.
O futebol passou a ganhar importância na França e o campo serviu como um espelho das mudanças culturais. De um lado, uma França xenófoba e racista. De outro, um país que sabia valorizar sua diversidade e, com isso, tornar-se uma potência.
A maioria branca e os defensores das raízes nacionalistas passaram a conviver - ou ao menos assistir - os franceses de pele escura que, mesmo incluídos, ainda são vistos como exceções.
Para o historiador Yvan Gastaut, a seleção francesa é mais do que um objeto político: é a prova de uma integração "bem sucedida" para o país.
"Depois de 1998, os Azuis tornaram-se uma caixa de ressonância, um lugar central para pensar sobre questões interculturais. Desde então, estamos em uma preocupação constante sobre a diversidade na França, que a equipe deve simbolizar. Podemos fazer de tudo no futebol, mas uma vitória será o símbolo da integração bem-sucedida; já uma derrota é a ausência de um senso de comunidade", explicou o pesquisador em entrevista ao Le Monde.
Porém, nunca antes em sua história uma seleção francesa foi tão repleta de imigrantes, ou tão africana.
Dos 23 convocados para a Copa de 2018, pelo menos 11 declaram o amor ao país de origem, para além do time que vestem a camisa. Desses, todos são filhos ou nasceram em países daquele continente.
Conheça os 11 atletas convocados pela seleção francesa e as suas origens imigrantes:
Steve Mandanda, goleiro, nasceu no Congo.
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Presnel Kimpembe, defesa, é filho de congoleses.
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Benjamin Mendy, defesa, é filho de imigrantes que nasceram no Senegal.
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Samuel Umtiti, defesa, nasceu em Camarões.
STEFAN MATZKE - SAMPICS VIA GETTY IMAGES
N'Golo Kanté, meio-campista, é filho de imigrantes do Mali.
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Blaise Matuidi, meio-campista, é filho de angolanos.
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Steven Nzonzi, meio-campista, tem sua origem no Congo.
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Paul Pogba, meio-campista, é filho de mãe guineense e pai congolês.
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Corentin Tolisso, meio-campista, é filho de imigrantes de Togo.
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Ousmane Dembélé, atacante, é filho de mãe senegalesa e pai malinês.
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Kylian Mbappé, atacante, é filho de pai camaronês e mãe argelina.
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Imigração na França

Imigração é um tema que está cada vez mais em discussão em países europeus, principalmente perto de eleições.
Se durante a campanha atual da Copa do Mundo os imigrantes franceses são aplaudidos, fora dos campos a França se destaca por ser um dos países com a mais alta taxa de rejeição de pedidos de asilo da Europa.
Só em 2017, o país recebeu 100 mil pedidos de asilo. A resposta do governo de Emmanuel Macron foi apresentar um projeto de lei que busca endurecer a política migratória.
Em maio deste ano, a polícia francesa desmontou o maior acampamento de imigrantes de Paris. Os refugiados, que estavam em situação irregular, foram transferidos para centros de acolhimento provisórios e o departamento de imigração do governo passou a analisar o status de cada um dos imigrantes.
HUFFSPT
www.miguelimigrante.blogspot.com

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