Halima Aden em visita ao campo de refugiados de Kakuma, no Quênia. Foto: TEDxKakumacamp/Tobin Jones
Nascida em 1997 no campo de refugiados de Kakuma, nordeste do Quênia, a modelo Halima Aden, de origem somali, sacudiu as passarelas norte-americanas e europeias quando começou a carreira em 2017, desfilando para grandes nomes da moda e usando o seu hijab, o véu que muitas mulheres muçulmanas vestem.
Mais do que uma voz pela diversidade religiosa, a jovem de apenas 20 anos anos é também uma ativista dos direitos das crianças e adolescentes migrantes. Neste mês (2), Halima recebeu o título de embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) nos Estados Unidos.
Em junho, a manequim voltou ao assentamento de Kakuma, onde moram 185 mil refugiados e solicitantes de refúgio, forçados a abandonar seus países de origem por causa da guerra, fome e perseguição. "Meu maior medo era não ser capaz de reconhecer o lugar que eu chamei de 'casa' por sete anos", confessa a modelo. "Eu me preparei para o pior."
Em 2004, Halima, sua mãe e o irmão mais novo receberam autorização para emigrar para os Estados Unidos. Em St. Cloud, no estado de Minnesota, a jovem — e muçulmana praticante — foi eleita rainha do baile de formatura, ao final do Ensino Médio. Halima se tornaria a primeira concorrente do concurso de Miss Minnesota a usar o hijab, em 2016. "O hijab é um símbolo que vestimos sobre nossas cabeças, mas quero que as pessoas saibam que é a minha escolha. Eu o visto porque eu quero vesti-lo", declarou à época para um jornal local.
Aos 19 anos, a ex-refugiada foi a primeira modelo a usar véu e assinar com a agência IMG, a mesma da modelo Gisele Bündchen. De 2017 para cá, Halima apareceu nas capas das revistas Vogue, Harper's Bazaar, Teen Vogue e Glamour, além de participar de desfiles em Nova Iorque e Milão. Quando não está sob os flashes das câmeras, a modelo conversa com estudantes sobre a importância da inclusão e da aceitação, usando como exemplo sua história pessoal.
"Esse é o meu ponto principal: você não tem de se adequar. Você não tem de tirar o seu véu", defende Halima. "Sempre se resume a escolhas: deixar as pessoas viverem o tipo de vida que elas quiserem viver."
Apesar da alegria com a carreira promissora, a modelo não esquece suas origens — e o sofrimento de outros meninos e meninas vítimas de deslocamento forçado. "Eu me sinto muito culpada às vezes. Eu penso 'ok, eu tirei o máximo da minha jornada para a América? Eu tirei o máximo da minha vida? (Mas) eu conheço milhões de outras pessoas, outras garotas da minha idade, que ficaram para trás. Elas têm que viver suas vidas aqui (em Kakuma). Eu consegui sair'."
Migração e refúgio nos Estados Unidos
Com mais de 2 mil crianças separadas à força de seus pais na fronteira sul dos Estados Unidos, a modelo vê como urgente o trabalho de conscientização sobre os direitos dos migrantes menores de idade. "Eu fui uma criança refugiada e não posso nem imaginar o trauma que viria (do fato) de ser arrancada da minha mãe", afirmou Halima à publicação Teen Vogue, que traz a embaixadora do UNICEF na capa da sua edição de julho.
Para a manequim, a separação deixa os jovens "vulneráveis e exploração e abuso". "Crianças refugiados são uma questão apartidária", completa.
Também em entrevista para a revista, Halima defende que os refugiados não querem "piedade", mas soluções de longo prazo, como educação, água potável e saneamento, e oportunidades para construir uma vida melhor. "O que queremos é ser convidado para a conversa."
Em 2017, Halima viajou para a fronteira entre o México e a Guatemala, a fim de conhecer a assistência que o UNICEF presta a meninos, meninas e adolescentes da América Central. A região sofre com uma violência contínua causada por gangues e grupos criminosos, além de taxas preocupantes de extrema pobreza.
A modelo lembra que, em Kakuma, recebeu apoio da agência das Nações Unidas. "Antes de conseguir assinar meu próprio nome, eu (já) conseguia soletrar UNICEF."
Com o título de embaixadora, Halima se une ao time de personalidades, como as cantoras P!NK e Selena Gomez e a atriz Lucy Liu, que emprestam sua fama e sua visibilidade para promover os direitos das crianças e dos adolescentes.
Onu Brasil
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