Por meio de um projeto de revalidação de diplomas, a Associação Compassiva, parceira da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), possibilita que pessoas refugiadas tenham seus conhecimentos validados para que possam continuar estudando e conquistem empregos relevantes no país.
Salim é sírio e nasceu em Alepo há 35 anos. Em 2013, ele chegou ao Brasil, onde se sente em casa, graças à concessão de vistos especiais para as pessoas afetadas pela guerra em seu país.
Ele vive em São Paulo e já se acostumou com o ritmo frenético da cidade. Desde sua chegada, acessou diversas organizações da sociedade civil que prestam serviços e orientação às pessoas em situação de refúgio na capital. Uma destas organizações mudou sua vida ao abrir a porta para muitas possibilidades futuras.
“Sou muito grato ao Brasil, aos brasileiros e a quem trabalha nas organizações porque todos me ajudaram muito, de diferentes formas. Mas foi aqui, na Compassiva, que eu dei um importante passo para minha integração no país. Foi aqui que eu consegui revalidar o meu diploma”, disse.
Salim é formado em Engenharia de Computação e Informação, e para que pudesse ter um trabalho à altura de sua formação, a revalidação do diploma foi essencial. Este trabalho é resultado do projeto “Revalidação de Diplomas de Refugiados no Brasil”, promovido pela Associação Compassiva, uma organização parceira da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
A revalidação de diplomas é um importante instrumento para que pessoas refugiadas no Brasil possam exercer no país a profissão de sua área de formação, sendo este tema um dos principais desafios do processo de integração desta população.
“Aqui no Brasil eu já trabalhei em uma fábrica de jeans, no comércio de acessórios de para celulares, fui manobrista em um estacionamento. Foi difícil no começo, mas agora, trabalho em um escritório de advocacia com carteira assinada e muito respeito, num ambiente muito amigável. Quero seguir adiante, dar continuidade aos meus estudos aqui e crescer junto com o Brasil”, declarou.
Diplomas estrangeiros de cursos universitários precisam ser validados por uma universidade pública no Brasil para que sejam plenamente reconhecidos em todo o território nacional. Neste processo, pessoas em situação de refúgio enfrentam muitas dificuldades.
“No Brasil, o procedimento de revalidação de diplomas emitidos no exterior é regulamentado pelo Ministério da Educação (MEC). O MEC concedeu autonomia para que as universidades públicas brasileiras determinem as condições para o processo de revalidação de diploma de graduação, mas não há um procedimento padrão: os valores são distintos e custosos, os documentos solicitados e os prazos divergem, além da maioria das provas serem aplicadas em português”, disse André Leitão, diretor da Compassiva, ressaltando os principais desafios deste processo.
Como resposta a crescente demanda por parte das pessoas refugiadas no Brasil, o ACNUR apoia a ONG Compassiva desde o início de 2016 em um projeto para prover assistência específica e sistemática à revalidação de diplomas.
Por meio deste projeto em parceria com o ACNUR, uma equipe da Compassiva presta atendimento individual aos refugiados que desejam ter seus diplomas reconhecidos. Em seguida, a organização verifica qual universidade pública tem cursos mais adequados ao perfil do refugiado, para submissão e acompanhamento do pedido de revalidação.
Além do apoio jurídico, o projeto prevê a possibilidade de auxílio financeiro para o pagamento das taxas de revalidação.
Desde 2016, a Compassiva já deu início a 57 processos, tendo revalidado 18 diplomas em diferentes cursos. Somente em 2017, já foram 12 diplomas revalidados dentre os 23 processos iniciados neste ano – a maioria dos requerimentos são de homens sírios e os cursos com mais diplomas revalidados são engenharia e ciência da computação, farmácia e química.
“É um processo detalhado, lento, oneroso, que exige muito diálogo e viagens, mas também muita satisfação quando as pessoas refugiadas conseguem aquirir algo que as farão estar mais integradas à sociedade brasileira. A revalidação de diplomas torna possível reconhecer os conhecimentos destas pessoas, valorizando-os por aquilo que são: seres-humanos que buscam dar continuidade aos seus sonhos”, disse Camila Suemi, advogada e coordenadora do projeto pela Compassiva.
Ao saber que teve seu diploma revalidado, depois de sete meses de espera, Salim mal conseguiu dormir naquela noite.
“O processo demorou, mas deu certo, enfim consegui ter o meu diploma revalidado. Foi uma conquista que mexeu muito comigo, não vi a hora do dia seguinte amanhecer para ter esse documento em mãos, nem consegui dormir. Fiquei muito feliz e passei a noite ligando para toda a minha família e amigos brasileiros”, disse Salim, com um largo sorriso no rosto.
O ACNUR espera que outras pessoas refugiadas também possam ter conquistas como estas. Com o apoio da Compassiva, refugiados têm a chance de olhar adiante e de enxergarem muitas oportunidades no Brasil.
Acnur
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