segunda-feira, 16 de outubro de 2017

E se houvesse uma alternativa à imigração?


Día Mundial de la Alimentacion

As migrações não são algo novo. Desde que as primeiras sociedades agrícolas se fixaram em determinadas zonas do planeta, pessoas e comunidades deixaram seus lugares de origem em busca de algo (comida, água, terras, bem-estar...) ou fugindo de alguma coisa (fome, sede, guerra, climas adversos...). Hoje, em um mundo cada vez mais populoso e interligado, a ameaça climática, o círculo vertiginoso de fome e guerra e a desigualdade transformam a emigração e o êxodo rural nas únicas opções para (cada vez mais) milhões de pessoas.

“Uma multidão de pessoas famintas, maltrapilhas e desesperadas começou a caminhar para a fronteira. Mulheres, crianças, velhos… Naquele momento desabei”. Poderia ser o relato do que o sírio Omar, a chadiana Hadje ou o sul-sudanês Robert viveram nos últimos anos. Mas é o depoimento de Alejandra Soler, espanhola nascida em 1903, no projeto documentário Vencidxs. Soler recordava suas impressões ao cruzar a fronteira da França durante a Guerra Civil espanhola (1936-1939). Todos abandonaram seus lares para fugir da violência.

A decisão de emigrar, no entanto, nem sempre é forçosa, embora às vezes pareça. “A percepção de que ir embora é a única opção nem sempre corresponde à realidade, mas, no fim, o que pesa é que a pessoa não vê outra saída”, observa Paola Termine, da FAO (agência da ONU para a alimentação e a agricultura). Pesquisas realizadas pela Organização Internacional das Migrações (OIM) revelam as motivações dos migrantes que aguardam na Líbia o momento de viajar à Europa. Quase nove em cada 10 responderam: falta de oportunidades.

Essa falta de oportunidades costuma vir junto com a pobreza e a fome, produtos da espiral perversa do conflito e da violência. “Se criarmos empregos e integramos os jovens, o horror do Boko Haram desaparecerá”, previa Kashim Shettima, governador de Borno, o esquecido estado do norte da Nigéria onde surgiu o grupo jihadista. A mudança climática, em forma de desertificação, fenômenos meteorológicos extremos ou secas, também frustra as perspectivas de futuro e obriga centenas de milhares de pessoas a se mudar.

Uma em cada sete pessoas no mundo é migrante, segundo dados da própria OIM. E a tendência é de crescimento. Em 2015, 244 milhões de pessoas emigraram de seus países (41% a mais que em 2000). Os efeitos que esse aumento quantitativo teve nas nações desenvolvidas são bem conhecidos: desde o famoso muro que o presidente norte-americano pretende erguer até a onda de pânico da imigração que percorre a Europa.

Paradoxalmente, no entanto, a maior parte das migrações continua acontecendo dentro do mesmo país, 769 milhões de pessoas. Os motivos, a origem e o destino, são quase sempre os mesmos: falta de oportunidades, zonas rurais e grandes cidades (mais de 150 milhões dos migrantes internos vão do campo para as cidades na China). À perda de identidade dos que partem, soma-se o vazio para os que ficam. “Se os mais preparados vão embora, que opções haverá no campo?, pergunta-se Termine. “E o problema é que esses movimentos sempre deixarão alguém para trás: crianças, velhos...”, observa. “Sem os jovens, não dá para continuar produzindo alimentos”, diz Justus Lavi Mwololo, de uma associação de camponeses do Quênia.
Essa tendência à urbanização, por outro lado, tem efeitos positivos nas economias de muitos países, além de injetar dinheiro nas zonas rurais através das remessas familiares, de acordo com um relatório da própria OIM. O que preocupa é a velocidade em que esses movimentos acontecem e o aumento previsto para os próximos anos como resultado da explosão demográfica. Apesar da falta de estatísticas, essa migração maciça para as cidades impede o fornecimento de serviços a todos e dá lugar a bolsões de pobreza urbana em diferentes países e continentes. De Daca (Bangladesh) a Lagos (Nigéria), acrescenta o documento.
Qualquer movimento humano em massa pode desestabilizar as comunidades de destino. A tendência preocupa Governos de todo o mundo, conforme se deduz do último relatório da ONU sobre políticas de população: oito em cada 10 países analisados tinham políticas para reduzir o êxodo rural.
El Pais
www.miguelimigrante.blogspot.com

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