quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Rede de Apoio mostra que voluntariado pode ser resposta à violência contra imigrantes

Para Santo Agostinho todas as pessoas nascem defeituosas e egoístas e só são salvas pelo poder da intervenção divina. E talvez seja esse componente sobrenatural, que explique a transformação de vida pela qual passaram os mais de 200 voluntários que hoje formam a RAIR (Rede de Apoio ao Imigrante e ao Refugiado), que vem sendo construída em Campinas desde o ano passado.
Gente que sem pedir nada em troca, dispensa tempo, afeto e não raro dinheiro, para oferecer acolhimento a estrangeiros empobrecidos, que muitas vezes, carregam pouco mais que a esperança de melhores dias.
A rede tem braços oficiais por meio de organismos da administração municipal, mas transborda para a iniciativa privada e atinge o chamado terceiro setor.
Junta professores, estudantes, advogados ou empresários que dedicam parte do esforço diário de vida, a minorar sofrimento de desconhecidos.
  Campinas se transformou nos últimos anos, num dos destinos mais importantes para imigrantes que tiveram de deixar seu país de origem, afetados em geral por severas crises econômicas.
  De acordo com dados oficiais da prefeitura, o principal grupo – de 1.200 pessoas – é composto por latino-americanos vindos do Haiti, Bolívia, Peru, Colômbia, Cuba e Venezuela. Da África são aproximadamente 250 pessoas, entre congoleses, ganeses, angolanos, guineenses, senegaleses, nigerianos e somalis.
   A cidade também tem recebido pessoas do Oriente Médio e Ásia – sírios, palestinos, libaneses, jordanianos e paquistaneses. Até o início de setembro, esse grupo totalizava cerca de 150 indivíduos.
A estimativa, no entanto, é que esses estrangeiros já ultrapassem os dois mil.
Destes, pelo menos 10%  são considerados refugiados – pessoas obrigadas a sair de casa por conta de perseguições políticas, conflitos religiosos, ou mesmo expulsos pela guerra. Uma população vulnerável do ponto de vista social e que necessita de políticas de acolhimento praticamente inexistentes no Brasil.
E é neste ponto que surge o trabalho voluntário – como o do estudante de Direito da Mackenzie, Felipe Silva de Aguiar, que está finalizando o desenvolvimento de um aplicativo, que deverá se mostrar extremamente útil para esses estrangeiros.
O APP vai oferecer informações que vão desde a documentação necessária para a regularização, até formas de acesso a hospitais, delegacias, linhas de ônibus e orientações sobre vagas de emprego. 
A rede faz campanhas de coleta de fraldas para crianças refugiadas ou oferece cursos básicos de informática,
Eventualmente, promove campanhas para arrecadação de alimentos, roupas e utensílios. Houve casos de voluntários que chegaram a doar milhagens para que a rede pudesse comprar passagens para familiares de um sírio, que chegou ao Brasil antes da mulher e filhos.
Missas e cultos em crioulo já estão sendo realizados em Barão Geraldo ou no Jardim Florence II, onde a comunidade de haitianos é mais numerosa e mais bem estruturada.
Fugindo da guerra civil, o sirio Othman Idris se mudou para o Brasil há três anos. Diz ter sido muito ajudado e garante estar feliz. “O Brasil é um país muito bonito, com muita gente boa”, afirma.. Mas faz uma ressalva. “As pessoas tentam enganar a gente quando não sabemos falar direito”, desabafa.
Voluntários tentam criar empatia com estrangeiros
O administrador Sven Dinklage é alemão de nascimento e está há 20 anos no Brasil. Nos últimos anos reserva algumas horas do dia para auxiliar refugiados.
Diretor da Sietar – uma organização não governamental que cuida de atividades educacionais no campo das relações interculturais – faz palestras e dinâmicas para mostrar peculiaridades do Brasil aos estrangeiros. Além disso, mantém um grupo de professores de português a estrangeiros.
Ele conta que numa das dinâmicas, propõe uma espécie de jogo, em que as pessoas são convidadas a percorrer um caminho imaginário, que repete a saga dos imigrantes. “Queremos  provocar a empatia. A ideia é sensibilizar as pessoas a adquirirem o ponto de vista do imigrante”, conta o alemão.
O também voluntário Danilo Pinheiro Magalhães, diz ter sido criticado por, supostamente, ajudar estrangeiros em detrimento de brasileiros. “Temos de entender que eles não são inimigos”, diz. “Na verdade, nós todos aprendemos (com a interação)”, acredita.   
Estudante do curso de Relações Internacionais, Natália Francisco é um dos membros da prefeitura na Rede e lembra que o apoio de entidades religiosas é fundamental na consolidação do programa. “Recebemos ajuda e contamos com o apoio de grupos religiosos católicos, evangélicos e muçulmanos”, conta. 
Metro Campinas
www.miguelimigrantes.blogspot.com

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