Prevista para entrar em vigor até novembro deste ano, uma nova
lei francesa traz uma série de benefícios para imigrantes ilegais, mas pode
dificultar particularmente a vida de quem for expulso do país. Um dos pontos da
regulamentação impede que pessoas deportadas retornem para qualquer nação do
Espaço Schengen por um tempo mínimo de um ano – o que pode afetar em cheio os
brasileiros ilegais.
Por não precisar de visto para entrar na França, brasileiros
costumam retornar com facilidade ao país após serem expulsos, já que atualmente não ficam fichados
de nenhuma maneira. Em 2015, 92 brasileiros foram obrigados a deixar a França
Metropolitana – sem contar os territórios ultramarinos, como a Guiana Francesa.
O número faz do Brasil o 12º no ranking das nacionalidades que
mais foram alvo dessa sanção. Entre os latino-americanos, o país lidera o número de expulsões de imigrantes ilegais da
França. Os dados, confidenciais, foram obtidos pelo jornal Le
Parisien junto a uma fonte do governo francês.
Segundo a tradicional associação francesa La Cimade – que
defende imigrantes ameaçados de expulsão em longas batalhas judiciais –, os
brasileiros geralmente aceitam a sanção e preferem não exercer seu direito de
recurso. O motivo seria justamente a facilidade de poder retornar à França
rapidamente – e de quebra obter uma passagem gratuita para o Brasil.
A nova lei aprovada em março ainda aguarda os decretos de aplicação
para passar a valer, o que deve ocorrer no máximo até 1º de novembro. Formulada
pelo Partido Socialista, de maneira geral ela abre uma série de novos direitos
a imigrantes, como a possibilidade de obtenção da nacionalidade francesa para
estrangeiros que tenham chegado ao país com até seis anos de idade, tendo algum
familiar francês. Tanto que o conjunto de novas regras foi criticado pela
direita francesa, que o considera permissivo demais. Mas o capítulo sobre as expulsões seria uma exceção, considerado
um endurecimento da lei. A partir de agora, praticamente todas as expulsões
serão acompanhadas de uma Proibição de Retorno ao Território Francês (IRTF, na
sigla em francês) com duração de um até cinco anos.
O IRTF vale para todo o Espaço Schengen, que inclui 30 países da
Europa, e ainda inscreve a pessoa no chamado “cadastro SIS”, que impede a
entrada e obtenção de visto em qualquer uma dessas nações. Para completar, ao
final do tempo de proibição, o nome não é apagado do cadastro, como ocorre
atualmente. Uma tentativa de retorno pode render até três anos de prisão.
“Isso poderá ter um impacto particular sobre os brasileiros”,
afirma David Rohi, responsável pelos casos de expulsão na La Cimade. “Porque
esta lei prevê a proibição de retorno praticamente automática para uma grande
parte das medidas de afastamento. Essas decisões não são fáceis de serem
anuladas e nos parecem abusivas. Não é algo novo, mas até então não era algo
comum de acontecer”, completa.
Guiana Francesa
Embora não haja um número preciso, estima-se que a maior parte
dos casos de brasileiros expulsos ocorra na Guiana, território francês na
América do Sul que faz fronteira com o Amapá. “Brasileiros são expulsos da
Guiana Francesa repetidamente, às vezes a mesma pessoa até cinco vezes
seguidas”, afirma Rohi.
Os brasileiros lideram o número de pessoas que passaram pelo
centro de retenção de Caiena, a capital da Guiana Francesa, em 2015, com 433
casos – 75% deles acabam em expulsão após uma espera média de três dias. Os
Centros de Retenção Administrativa são locais onde imigrantes ilegais aguardam
decisões judiciais sobre sua situação. Cerca de 48 mil pessoas vivem em 24
centros de retenção em toda a França. Os dados são de umrelatório anual elaborado por cinco associações
francesas de apoio a imigrantes.
O ano de 2015 também foi marcado por um aumento do número de
pessoas de outras nacionalidades expulsas da Guiana Francesa rumo ao Brasil,
especialmente haitianos. Foram mais de 100 pessoas – contra apenas seis em 2014
– graças a um acordo entre França e Brasil que permite o envio de cidadãos sem
nacionalidade brasileira para território nacional.
Pelo menos 10.471 estrangeiros foram expulsos da França
Metropolitana em 2015. Lidera o ranking de nacionalidades a Romênia, seguida
por Albânia, Argélia, Tunísia e Marrocos – somados, respondem por 63% do número
total. O número de expulsos de territórios franceses ultramarinos, no entanto,
é muito maior, com cerca de 25 mil a cada ano, segundo associações.
RFI
www.miguelimigrante.blogspot.com
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