Até recentemente, as
pichações e os problemas causados devido ao despejo inadequado do lixo geravam
tensões sociais entre iranianos e afegãos no bairro de Saadi, localizado na
cidade de Shiraz, no Irã. Agora, graças às atuações da Agência da ONU para
Refugiados (ACNUR) e o governo do Irã, refugiados e a comunidade local se
uniram para transformar a comunidade em um lugar mais colorido e harmonioso.
Assim como em outras
regiões do Irã, o bairro de Saadi abriga muitos refugiados do Afeganistão.
Antes do projeto de requalificação, as más condições de saneamento básico
causavam desavenças na vizinhança. “As hostilidades viraram rotina entre
iranianos e afegãos – tanto verbalmente como em pichações – eles culpavam uns
aos outros devido aos problemas que enfrentavam diariamente”, lembra Alex
Kishara, chefe do escritório do ACNUR em Shiraz.
Com o objetivo de
promover o empoderamento dos residentes, o ACNUR e o governo iraniano reuniram
artistas locais e mais de 60 voluntários da comunidade para desenvolver e
implementar um projeto de transformação por meio da arte.
A comunidade iniciou o
trabalho de recolhimento do lixo jogado pelas ruas e transformou as mensagens
de ódio, gravadas nos muros, em surpreendentes e coloridos painéis de arte.
Dois artistas – um iraniano e um afegão – e cinco estudantes de artes
trabalharam com as crianças para desenvolver o projeto e oferecer orientação
artística durante uma semana de pintura.
As mensagens ofensivas
foram rapidamente substituídas por muros habilidosamente decorados com motivos
iranianos e afegãos, simbolizando uma harmonia compartilhada. Alireza, de 13
anos, um dos participantes, pintou em seu muro favorito uma árvore frondosa com
grandes galhos ao lado de uma frase persa que dizia: “os filhos de Adão são
parte um do outro e foram criados a partir de uma mesma essência”. Um
voluntário iraniano se ofereceu para pintar alguns rostos e um médico afegão
ainda ofereceu avaliações gratuitas de saúde.
Um grupo de voluntárias locais fazem uma pausa para descansar embaixo de um dos muros pintados. © ACNUR / S. Maleki
Em um primeiro momento,
alguns membros da comunidade mostraram ceticismo e criticaram o projeto dizendo
que o mesmo estava “fadado ao fracasso” ou que era “uma perda de tempo e
dinheiro”. No entanto, os trabalhos artísticos começaram a despertar tanto
interesse que logo várias pessoas começaram a participar. “Foi necessário
comprar mais material quando os moradores, antes hesitantes, empolgaram-se para
participar e ver suas próprias paredes pintadas também”, disse Sharifi, um
artista e designer afegão.
O projeto estabeleceu um
novo senso de comunidade entre afegãos e iranianos. Aqueles que não
participaram diretamente da pintura das paredes foram para as ruas oferecendo
refrescos e comidas para os voluntários. “O que é uma boa cidade? ”, perguntou
retoricamente Alireza durante uma das rodas de conversa que aconteceu com a
participação de crianças naquela semana. “Uma boa cidade é aquela composta por
bons cidadãos”.
O projeto também
amenizou algumas questões relacionadas a proteção dos refugiados. Mohammad, um
jovem afegão de 13 anos que ficou órfão recentemente, retornou para Saadi
depois que se desentendeu com seus irmãos. Ele se envolveu no projeto e revelou
um grande talento criativo, cujas habilidades foram notadas por Sharifi. Agora
ele conseguiu ingressar gratuitamente no Instituto Sepid de Artes.
O Irã tem mostrado
grande generosidade ao acolher quase 1 milhão de refugiados durante uma crise
prolongada que já dura quase 40 anos. Com o apoio do governo e do ACNUR,
projetos como este, liderados pela comunidade, vão continuar servindo como
exemplo de integração e cooperação.
Por Leah Cowan,
Irán
Onu
www.miguelimigrante.blogspot.com
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