quinta-feira, 28 de julho de 2016

Refugiados transformam muros em obras de arte em bairro iraniano


Até recentemente, as pichações e os problemas causados devido ao despejo inadequado do lixo geravam tensões sociais entre iranianos e afegãos no bairro de Saadi, localizado na cidade de Shiraz, no Irã. Agora, graças às atuações da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e o governo do Irã, refugiados e a comunidade local se uniram para transformar a comunidade em um lugar mais colorido e harmonioso.

Assim como em outras regiões do Irã, o bairro de Saadi abriga muitos refugiados do Afeganistão. Antes do projeto de requalificação, as más condições de saneamento básico causavam desavenças na vizinhança. “As hostilidades viraram rotina entre iranianos e afegãos – tanto verbalmente como em pichações – eles culpavam uns aos outros devido aos problemas que enfrentavam diariamente”, lembra Alex Kishara, chefe do escritório do ACNUR em Shiraz.


Com o objetivo de promover o empoderamento dos residentes, o ACNUR e o governo iraniano reuniram artistas locais e mais de 60 voluntários da comunidade para desenvolver e implementar um projeto de transformação por meio da arte.
A comunidade iniciou o trabalho de recolhimento do lixo jogado pelas ruas e transformou as mensagens de ódio, gravadas nos muros, em surpreendentes e coloridos painéis de arte. Dois artistas – um iraniano e um afegão – e cinco estudantes de artes trabalharam com as crianças para desenvolver o projeto e oferecer orientação artística durante uma semana de pintura.

As mensagens ofensivas foram rapidamente substituídas por muros habilidosamente decorados com motivos iranianos e afegãos, simbolizando uma harmonia compartilhada. Alireza, de 13 anos, um dos participantes, pintou em seu muro favorito uma árvore frondosa com grandes galhos ao lado de uma frase persa que dizia: “os filhos de Adão são parte um do outro e foram criados a partir de uma mesma essência”. Um voluntário iraniano se ofereceu para pintar alguns rostos e um médico afegão ainda ofereceu avaliações gratuitas de saúde.


 Um grupo de voluntárias locais fazem uma pausa para descansar embaixo de um dos muros pintados. © ACNUR / S. Maleki

Em um primeiro momento, alguns membros da comunidade mostraram ceticismo e criticaram o projeto dizendo que o mesmo estava “fadado ao fracasso” ou que era “uma perda de tempo e dinheiro”. No entanto, os trabalhos artísticos começaram a despertar tanto interesse que logo várias pessoas começaram a participar. “Foi necessário comprar mais material quando os moradores, antes hesitantes, empolgaram-se para participar e ver suas próprias paredes pintadas também”, disse Sharifi, um artista e designer afegão.

O projeto estabeleceu um novo senso de comunidade entre afegãos e iranianos. Aqueles que não participaram diretamente da pintura das paredes foram para as ruas oferecendo refrescos e comidas para os voluntários. “O que é uma boa cidade? ”, perguntou retoricamente Alireza durante uma das rodas de conversa que aconteceu com a participação de crianças naquela semana. “Uma boa cidade é aquela composta por bons cidadãos”.

O projeto também amenizou algumas questões relacionadas a proteção dos refugiados. Mohammad, um jovem afegão de 13 anos que ficou órfão recentemente, retornou para Saadi depois que se desentendeu com seus irmãos. Ele se envolveu no projeto e revelou um grande talento criativo, cujas habilidades foram notadas por Sharifi. Agora ele conseguiu ingressar gratuitamente no Instituto Sepid de Artes.

O Irã tem mostrado grande generosidade ao acolher quase 1 milhão de refugiados durante uma crise prolongada que já dura quase 40 anos. Com o apoio do governo e do ACNUR, projetos como este, liderados pela comunidade, vão continuar servindo como exemplo de integração e cooperação.

Por Leah Cowan, Irán 

Onu

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