Nos últimos anos, o Distrito Federal tem se tornado lar de muitos
estrangeiros que procuram o Brasil – seja ao fugir de algum tipo de
conflito em seus países de origem, seja em busca de melhores condições de vida.
Até julho do ano passado, 6.646 deles declararam ser residentes da capital, de
acordo com a Polícia Federal, que não incluiu nos cálculos os imigrantes
que possuem passaporte diplomático. Portugueses são os estrangeiros que
mais vivem por aqui, com 1.302 registros até 2015. Entre os paquistaneses, a
concentração é menor: apenas 26 escolheram o DF para morar, segundo a PF .
Entre eles, está o homem acusado de
terrorismo pela própria mulher, por supostamente planejar um atentado
contra o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek no último domingo
(10/7). Ele teria entrado no Brasil em 2014, na época da Copa do Mundo, e
conseguido um visto permanente após se casar e ter um filho com uma brasileira.
A denúncia, no entanto, não se confirmou e o homem foi liberado.
Não há como informar se o paquistanês chegou a pedir
refúgio no país. De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados
(Conare), “o sigilo rege o procedimento [de refúgio] de modo a garantir a
confidencialidade das informações do solicitante em relação a uma possível
prática persecutória”.
Morador de São Sebastião, ele segue alguns padrões verificados por
especialistas da área de que grande parte dos imigrantes que não vêm ao DF
para cumprir funções diplomáticas fixam residência fora do Plano Piloto.
A maioria acaba se concentrando em outras regiões administrativas,
justamente pelo alto custo de vida do Plano Piloto. Eles formam redes de
parentes, amigos e familiares e se aglomeram em uma mesma área. Um domina
melhor o português e vai ajudando os outros. Essas pessoas encontram suporte e
isso acaba facilitando o processo"
Aline Maria Thomé Arruda, professora do curso de Relações Internacionais
do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB)
E o motivo de eles procurarem a capital, segundo Aline, está intimamente
relacionado ao desenvolvimento econômico do DF. “Temos muitos casos de
estrangeiros que vêm por conta do emprego em embaixadas, mas também podemos
falar de outros casos. Vários muçulmanos vieram para trabalhar em
abatedouros de frango que exportam o produto para o Oriente Médio, por exemplo,
o que gerou muito emprego entre eles aqui”, analisa a especialista. O
abate Halal, como é chamado, deve ser realizado por pessoas da cultura e segue
uma série de procedimentos específicos, como ser feito de frente para Meca
(cidade sagrada para os muçulmanos).
Diferenças culturais
Ainda de acordo com a professora, o choque de culturas não é tão perceptível na capital federal como em outras cidades, a exemplo de São Paulo. O marroquino Farid Jabrane (na foto, com a mulher e as filhas), 40 anos, ilustra bem a teoria. Há 14 anos no Brasil, ele morou por um mês na terra da garoa antes de se mudar para o DF.
Ainda de acordo com a professora, o choque de culturas não é tão perceptível na capital federal como em outras cidades, a exemplo de São Paulo. O marroquino Farid Jabrane (na foto, com a mulher e as filhas), 40 anos, ilustra bem a teoria. Há 14 anos no Brasil, ele morou por um mês na terra da garoa antes de se mudar para o DF.
“Um amigo meu já vivia aqui e falou: ‘Farid, São Paulo é muito grande.
Você é recém-chegado e pode ser perigoso. Vem para cá’. E eu vim. Não falava
uma palavra em português”, relembra, bem-humorado.
Por ser formado em literatura inglesa, ele conta que lia muito sobre a
cultura ocidental e não teve problemas para se adaptar aos costumes locais.
“Sempre fui uma pessoa do mundo, disposta a conhecer tudo. Como eu estudava
bastante, já entendia um pouco da cultura e sabia o que poderia encontrar por
aqui”, conta Jabrane.
O desembarque no Brasil foi uma aventura. “Eu dava aulas de francês
no Marrocos e pedi o afastamento não remunerado no trabalho. Pensei: ‘Se der
errado, é só voltar'”, completa. Mas não foi preciso retornar à terra natal.
Hoje, Jabrane é professor da Secretaria de Educação do DF, casado com uma
brasileira e pai de três brasilienses. Voltar a morar no país de origem já não
é uma opção.
O angolano Adriano
Belmiro, de 24 anos, também não teve problemas de adaptação à cultura
brasileira. Formado em jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), ele
chegou à capital em 2011 para estudar. “Não tive muitas dificuldades e acho que
isso se deve ao grande e permanente contato que os angolanos e outros países
africanos falantes do português têm com a cultura brasileira”, afirmou Belmiro.
“Grande parte das novelas que passam em Angola são brasileiras.
Essa realidade se estende à música e é observada também na literatura, quer
seja originalmente brasileira ou traduzida de outras línguas para o português.
Esse contato prévio que temos com a cultura através dos meios de comunicação
facilitou bastante o processo”, completou o jornalista.
Refugiados
De acordo com o Conare, o DF concedeu 1.311 pedidos de refúgio a estrangeiros até julho de 2016. Outras 693 solicitações estão em fase de análise.
De acordo com o Conare, o DF concedeu 1.311 pedidos de refúgio a estrangeiros até julho de 2016. Outras 693 solicitações estão em fase de análise.
A pesquisa
“Integração dos refugiados no Distrito Federal: a importância do aprendizado da
língua portuguesa na inserção do mercado de trabalho”, realizada este ano como
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Ana Luiza Jardim, 22 anos, na
Universidade Católica de Brasília (UCB), destaca que a maior aglomeração
de refugiados está em Samambaia, com 53% do total. A jovem realizou
um estudo com 15 imigrantes, sendo dois da Síria, seis do Haiti, três de Gana e
quatro da Guiné, e traçou um perfil dos estrangeiros que pediram refúgio na
capital.
Segundo o
estudo, pessoas nessa situação buscam regiões administrativas afastadas do
Plano Piloto por não terem condições de morar nas áreas centrais, especialmente
por terem custo de vida mais elevado. Dos 15 entrevistados, apenas um se
declarou muito satisfeito com o mercado de trabalho encontrado na capital.
Quatro demonstraram muita insatisfação com o cenário. Sete se disseram
satisfeitos e outros três insatisfeitos.
Ana Luiza contou ao Metrópoles que
não pensava em trabalhar na área das relações internacionais quando entrou
na universidade. O interesse pelo tema surgiu a partir de um estágio voluntário
que fez no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“Fiz
o estágio e ele acabou despertando um lado meu que eu nem conhecia. Foi
extremamente interessante. Esse é uma tema que ainda está em descobrimento no
país e não existem pesquisas concretas”, acrescentou. “O estudo me abriu uma
visão mais clara das dificuldades que essas pessoas enfrentam no dia a dia”,
completou.
Em
sua pesquisa, Ana Luiza verificou que a maioria dos estrangeiros veio ao
DF com a preocupação de conseguir um sustento a partir do trabalho – e melhorar
a condição de vida de forma mais rápida. “Encontrar um lugar para abrigar suas
famílias” foi a prioridade de cinco dos entrevistados, ocupando a segunda
posição no ranking. Por fim, apareceram os itens “aprender português” e
“conseguir ajuda financeira da sociedade civil ou do governo”.
Metrópoles
www.miguelimigrante.blogspot.com
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