sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A questão migratória como responsabilidade moral

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Seja de forma legal ou ilegal, a questão migratória pelo mundo é uma emblemática que não é fácil de ser resolvida. O contexto político do mundo atual dificulta a imigração legal para a maioria dos que desejam mudar para outro país, tanto os refugiados de guerra quanto os que fogem da pobreza e conflitos internos em seus países, o que acaba por aumentar a imigração ilegal mundo afora.
A migração existe desde que o mundo é mundo. Bem se sabe que o processo que hoje acontece em larga escala e em todo mundo, foi impulsionado com o processo de expansão europeu com a conhecida era das “grandes navegações” – onde a conquista de territórios e o domínio político predominavam como objetivos maiores.
Hoje, com o processo de globalização, a facilidade de deslocamento tornou-se um grande fator para aqueles que decidem pela migração e as motivações para mudar de país são bem diferentes da época das grandes navegações. Atualmente a busca de melhoria de vida, a fuga de um conflito armado entre diferentes poderes, a perseguição cultural ou política de um grupo ou indivíduo.
Entretanto, a ordem de que não se pode entrar em um país causa desconforto e desespero naquele que precisa de acolhida e começa aí uma onda da imigração ilegal que traz mais violência inclusive entre a população nativa e os imigrantes. O que vive a Europa hoje é um pouco do que se vê dessa emblemática trazida pela mudança de território.
Com o aumento do número de refugiados na Europa, sobretudo em 2015, o autor Zygmunt Bauman destaca a questão dos refugiados como uma separação entre o “eu” e “nós” no livro “Estranhos à nossa porta”. Bauman identifica um “pânico moral” que motiva políticas restritivas de direitos dos imigrantes e discursos em que o nacionalismo é oferecido como salvação.
Na análise do autor, as migrações envolvem muito mais a responsabilidade moral, que foi perdida e deve ser recuperada.
Com o conflito na Síria e em outros países do oriente médio, países como a Inglaterra, cujas fronteiras recentemente foram militarizadas e não estão mais abertas aos refugiados desses países, estão tendo que lidar com a gravidade que envolve a imigração ilegal.
Diariamente, a tentativa de imigrar ilegalmente da Turquia ou Síria para os países da Europa causa várias mortes e mostra a intensidade da crise imigratória naquela região. Mais de 10.000 imigrantes ilegais perderam a vida tentando atravessar o mar mediterrâneo.
Por outro lado, há países, como a Alemanha e a Áustria, que abriram suas fronteiras por tempo indeterminado para os refugiados, mas estão enfrentando um aumento no índice de violência dentro do território muitas vezes causada pelo conflito entre os nativos e os imigrantes, somada à falta de condições necessárias para recomeçar a vida em outro país. Muitos refugiados ficam sem comida, são alvo de maus tratos por parte de autoridades, enfrentam filas gigantescas e muita burocracia para receber o visto de imigração, etc.
Diante tudo isso, Suzana Velasco, autora do livro “Imigração na União Europeia: uma leitura crítica a partir do nexo entre securitização, cidadania e identidade transnacional”, *analisa a obra de Bauman e completa dizendo que também “é necessário sair do campo moral para se refletir por que certas mortes causadas pela imigração ilegal — como a do menino sírio Alan Kurdi, numa praia da Turquia, em 2015 — causam mais comoção que outras, ou por que o muro proposto por Donald Trump provoca perplexidade, mas não os mais de mil quilômetros de cercas já existentes entre México e Estados Unidos”.
*Trecho da análise da obra de Zygmunt Bauman publicada no Jornal O Globo, em 18 de fevereiro de 2017.
GazetaBrazilian
www.miguelimigrante.blogspot.com

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