O que Albert Einstein, Salvador Dali, Sergey Brin (cofundador do Google) e Freddie Mercury têm em comum? Todos foram refugiados que fizeram contribuições extraordinárias em seus respectivos campos. As sociedades que acolhem refugiados e migrantes se beneficiam das contribuições deles e dos empregos que eles geram. Abrir nossas portas a migrantes, em vez de encarcerá-los na ilha de Manus ou outros lugares, nos enriqueceria muito.
A detenção de refugiados
A Austrália e o Ocidente têm uma história conturbada no que diz respeito a refugiados, em grande parte devido a receios da população quanto ao impacto possível dos refugiados. Entre os 80 mil vistos emitidos anualmente em todo o mundo para refugiados, a Austrália concede cerca de 6.000. É um número baixo, considerando que há 1 milhão de refugiados deslocados em todo o mundo. Estamos salvando o equivalente à população de um pequeno subúrbio, deixando uma nação inteira de pessoas miseráveis e em situação de risco.
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O governo desencoraja os refugiados de buscar asilo na Austrália, prendendo os que se arriscam na perigosa viagem marítima da Indonésia à Austrália em campos de detenção na ilha de Manus e em Nauru, campos construídos e operados com bilhões de dólares dos contribuintes australianos. Embora 14 mil refugiados vivam na Indonésia, o país não os acolhe de modo permanente – seu governo os proíbe de trabalhar. Desde 2013, os detentos estão proibidos de radicar-se na Austrália e recusam ofertas de se radicarem em Papua Nova-Guiné, país vizinho perigoso e instável.
Os Estados Unidos prometeram recentemente receber 1.250 refugiados. Enquanto isso, porém, outros mil permanecem detidos, entre os quais 196 cujos pedidos de asilo foram rejeitados e que podem ficar detidos de modo permanente. Eles estão vivendo encarcerados há quatro anos e se descrevem como física e mentalmente arrasados. A solução humanitária seria acolhê-los, mas receios da comunidade não permitem que isso aconteça.
É importante, por isso, entender que acolher refugiados nos enriqueceria, pois poderíamos nos beneficiar de suas contribuições.
Em 1999, o Dr. Munjed Al Muderis, refugiado iraquiano, fugiu do regime de Saddam Hussein porque se recusou a obedecer uma ordem de decepar as orelhas de desertores do exército do Iraque. Hoje o Dr. Al Muderis é professor de ortopedia na Austrália e desenvolveu novas próteses de membros inferiores e superiores que são presas a implantes. Devido ao envelhecimento de suas populações, os países ocidentais precisam de mais médicos. Os imigrantes podem ajudar, aumentando a disponibilidade de serviços como a assistência médica.
Os imigrantes também geram empregos locais pelo fato de abrirem negócios. Um estudo americano constatou que imigrantes têm duas vezes mais chances de abrir empresas que americanos natos. Apenas 13% da população dos EUA é composta de imigrantes, mas 27,5% dos empresários do país são imigrantes. O Google é hoje uma empresa de muitos bilhões de dólares e 72 mil funcionários, graças a seu cofundador Sergey Brin. Um estudo australiano indica que quase 10% dos refugiados abre empresas. A razão de imigrantes muitas vezes demonstrarem as qualidades de empreendedores é que imigrar é uma empreitada que envolve pensamento estratégico, trabalho árduo e disposição de correr riscos.
Imigração e crescimento econômico
Quando há escassez de mão-de-obra local, trabalhadores imigrantes podem suprir essa carência e ajudar estabelecimentos locais a crescer. O empreendedor Jonathan Barouch, por exemplo, observa que as empresas de tecnologia da informação têm problemas para recrutar profissionais “porque é dificílimo encontrar pessoas locais para cumprir funções técnicas como as de engenheiros de software, gerentes de produtos e especialistas em interface e experiência de usuários”. A contratação de imigrantes experientes significa que eles podem trabalhar com profissionais locais e supervisionar estagiários. Isso poupa as empresas da necessidade de se transferirem para fora do país, o que, por sua vez, beneficia profissionais e empresas locais.
Os 20 anos de crescimento ininterrupto da Austrália se devem em parte, também, à abertura do país à imigração. A imigração é responsável por mais da metade do crescimento da população australiana nas duas últimas décadas e mais de um quarto de sua população. O recente ‘boom’ de mineração no Estado da Austrália Ocidental, um fator crucial que contribuiu para o crescimento econômico do país, foi alimentado por trabalhadores imigrantes contratados por empresas para aproveitar a demanda crescente por recursos minerais. Por essa razão, um terço da população desse Estado é formado por migrantes.
Estudos também demonstram que a imigração geralmente não afeta o desemprego, a segurança no emprego ou os salários locais. Isso acontece porque a economia não tem um número fixo de empregos pelos quais as pessoas competem. A imigração aumenta o número de empregos disponíveis, na medida em que os imigrantes se tornam novos fregueses dos estabelecimentos comerciais locais. Isso ajuda as empresas a crescer para atenderem ao aumento da demanda por seus serviços.
A imigração aumenta a demanda de habitação e infraestrutura, mas também incentiva as empresas a construir mais. Afinal, se a população local consistisse em dois homens e um pouco de mato, haveria pouquíssima infraestrutura e um nível de vida baixíssimo. Em vez de reduzir a imigração, deveríamos incentivar mais construção, para reduzir os preços dos imóveis e a escassez de infraestrutura.
Ajudar refugiados não precisa atingir os contribuintes no bolso. Por exemplo, ONGs beneficentes canadenses vêm financiando os custos de vida de longo prazo de mais de 200 mil refugiados ao longo de 30 anos, usando dinheiro de fontes privadas. Um empresário canadense, Jim Estill, doou generosamente mais de US$1 milhão para abrigar mais de 200 refugiados sírios, lhes dar aulas de inglês e ajudá-los a abrir negócios, de modo a reduzir sua dependência da previdência social. Em princípio, qualquer pessoa deveria ter o direito de financiar os custos de vida de um refugiado com seus próprios recursos.
Se fossem revogadas as leis que punem companhias aéreas por transportar passageiros sem documentação correta, os refugiados poderiam buscar asilo sem arriscar a vida em travessias marítimas de alto risco. Essas leis impõem multas a companhias aéreas que transportam passageiros sem vistos para a Austrália, os EUA e a União Europeia, levando muitos refugiados a morrer afogados quando atravessam o mar em embarcações inseguras. Se essas leis fossem revogadas, os refugiados poderiam simplesmente comprar passagens aéreas baratas.
Abrir nossas portas a imigrantes e refugiados beneficia a nós, seus anfitriões, e salva os refugiados da perseguição. Talvez venhamos a acolher um futuro fundador de uma grande empresa de tecnologia ou cirurgião que salve vidas. Acolher refugiados e imigrantes não é apenas um ato humanitário, mas um gesto que faz bem à economia.
*Vladimir “Zeev”
Vinokurov é advogado australiano. As opiniões aqui expressas são suas.
Tradução de Clara Allain.
Gazeta do Povo
www.miguelimigrante.blogspot.com
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