A Organização Internacional da ONU para as Migrações (OIM) levou
a cabo, nos últimos meses, uma recolha de dados sobre as chegadas e registos de
mulheres naturais da Nigéria que têm sido forçadas por traficantes a partilhar
a rota dos refugiados no Mediterrâneo para entrarem na União Europeia.
De acordo com a OIM, cerca de 3600 nigerianas desembarcaram em
Itália nos primeiros seis meses deste ano, valor que duplicou quando comparado
com período homólogo de 2015.
O investigador português do instituto de
estudos estratégicos e internacionais, Miguel Santos Neves, que
coordenou o relatório "A Protecção dos Direitos Humanos
e as Vítimas de Tráficos de Pessoas" alerta para a necessidade de as
autoridades terem cuidados acrescidos face aos fluxos de tráfico humano para a
Europa.
"Este tráfico de pessoas está neste momento misturado com
os fluxos de migrantes. O problema é que tem uma série de implicações em
termos de gestão de segurança . É um fenómeno crescente que já está
identificado, obviamente, desde finais dos anos 2000 e todos os dados indicam
que se têm intensificado", comenta o investigador Miguel Santos Neves.
A especialista de combate ao tráfico humano da OIM, Simona
Moscarelli, em declarações ao diário
britânico The Guardian estima que mais de 80% destas mulheres
sejam traficadas e obrigadas a prostituir-se em Itália e outros países
europeus; "estamos a ver este ano uma crise
que é absolutamente inédita e que representa o maior aumento dos últimos dez
anos no número de nigerianas que chegam à Europa".
"Intensificação
que tem que ver com o próprio fenómeno ou crise migratória que tem sido
aproveitada pelos traficantes para intensificarem a sua actividade. Isto
significa que a forma como os migrantes têm sido recebidos e a necessidade que
há em investigar em que medida é que os traficantes estão misturados com as
próprias vítimas implica, por parte das autoridades, um trabalho de
acompanhamento e de investigação bastante cuidado para impedir que este tipo de
violação de direitos humanos continuem a ocorrer no contexto europeu", descreve Miguel Santos Neves.
A indústria sexual que liga a Nigéria à Itália não é recente, a
ligação opera-se há mais de três décadas e transformou-se em indicadores de uma
crise assustadora, muitas vezes ocultada na forma como estas pessoas,
integradas na indústria de tráfico sexual, chegam à Europa. O que muda
agora é o facto destas redes se apoiarem nos centros de recepção de migrantes e
refugiados no território italiano como meio de passagem até chegar à
distribuição destas mulheres e crianças pela Europa.
RFI
www.miguelimigrante.blogspot.com
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