Opinião é da directora do Centro de Estudos Africanos da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
A eventual cassação do mandato da Presidente brasileira afastada Dilma
Rousseff tem gerado incerteza nos estrangeiros que vivem no Brasil, em especial
a comunidade africana.
Muitos deles estudam e trabalham no país.
Os programas já consolidados pelo Governo do PT para os estrangeiros nos
últimos anos podem sofrer alterações caso seja confirmada a impugnação da
governante brasileira.
Esta é a avaliação da professora Vanicleia Silva Santos, do Departamento
de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e também directora
do Centro de Estudos Africanos da universidade.
“Esse impeachment teria algum impacto nas políticas que o Brasil tem
para com os africanos que aqui estão. Há pessoas que vêm com o visto de
estudante, também como refugiado político ou mesmo para morar de forma ilegal.
Em relação às políticas que o Brasil tem com os países africanos envolve as
relações diplomáticas até aos programas especiais que incentivam a chegada
desses estudantes no país”, explicou Santos.
A especialista destaca o Programa Estudante Convênio para graduação e
pós-graduação existe há 50 anos e está presente em universidades públicas e
privadas recebendo estudantes africanos de várias localidades. Não apenas
aqueles que falam o português, mas também outras línguas como o inglês e o
francês. Esses estudantes têm os mesmos direitos dos demais”, ressaltou.
Vanicleia Santos também destaca outro projecto do Governo para a
educação, a Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira), em que um terço dos seus estudantes são provenientes da
África, principalmente da Guiné-Bissau.
“Dos 2.800 alunos matriculado na Unilab, pouco mais de 800 são
estrangeiros, a maioria guineense. Eles moram nas dependências da Unilab por
quatro anos e quando terminam os estudos precisam retornar aos seus países. Se
quiserem retornar posteriormente ao Brasil para fazer uma pós-graduação podem
sim retornar”, frisou.
Para a docente, essa transição na política brasileira acaba gerando um
incómodo, uma incerteza em relação ao futuro para os estrangeiros, em especial
os africanos, que estão no país em busca de melhores oportunidades.
“Nos últimos 13 anos, o que a gente viu no Brasil foi uma política
voltada para a população mais pobre e isso é um ponto importante. Estamos hoje
num momento em que não apenas a política brasileira está em jogo, mas também um
possível retrocesso das políticas voltadas para as populações menos
favorecidas. Isso inclui os africanos”, ressaltou Vanicleia Santos, que diz
esperar que o actual Governo Michel Temer continue estendendo os laços com os
países africanos, embora tal não esteja a acontecer.
“O Brasil foi receptor dos africanos. Eles trabalharam na formação do
nosso país. O Brasil é o que é hoje porque os africanos trabalharam aqui por
400 anos sem serem remunerados. O que o ex-Presidente Lula da Silva propôs é
que o Brasil, além de ser apenas um país receptor, também promova um retorno a
esses países que tanto contribuíram para a nossa cultura, economia, etc. O que
penso hoje é que como a gente tem um espectro de um Governo que é sustentado
pelo grande capital e que teve sua campanha financiada pela FIESP (Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo), que programas esse governo terá para os
mais pobres?”, questionou a directora do Centro de Estudos Africanos da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Vanicleia Santos
Voz da America
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