sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Campanha dos 16 Dias de Ativismo começa no Rio com refugiadas belas e empoderadas

Com batom nos lábios e um turbante na cabeça, cerca de 30 refugiadas e solicitantes de refúgio que vivem no Rio de Janeiro disseram não à violência contra as mulheres. Mas esse foi apenas o primeiro "não". Nesta quarta-feira, teve início a campanha global “16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”, uma iniciativa criada em 1991 por lideranças femininas de diferentes países para promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo.

A campanha tem o apoio de diversas agências da ONU, inclusive do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), que em 2015 reafirma seu compromisso com a prevenção da violência contra as mulheres em geral e as mulheres refugiadas e deslocadas em específico. No Brasil, uma abordagem ampliada dos 16 Dias que começou em  em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a fim de incorporar a violência do racismo às discussões.

Foi neste marco que a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro, organização parceira do ACNUR, inaugurou na segunda-feira uma série de atividades para debater a questão com as refugiadas e os refugiados. A primeira delas foi uma roda de conversa com profissionais do Movimento de Mulheres de São Gonçalo, em que se falou sobre a lei brasileira de proteção às mulheres (Lei Maria da Penha) e os direitos das mulheres no Brasil, mas sobretudo trocar experiências sobre como se dá o relacionamento entre homem e mulher em outros países.

Na terça-feira, mulheres refugiadas e solicitantes de refúgio de países como República Democrática do Congo, Colômbia e Ucrânia participaram de duas oficinas de valorização e autoestima, uma de maquiagem e outra de turbantes. Ambas destacaram o protagonismo, o orgulho e a beleza feminina contra as violências dos padrões estéticos.

Por meio de oficinas sobre turbantes e maquiagens, mulheres refugiadas que vivem no Rio discutiram temas relacionados à autoestima e à prevenção da violência de gênero
"A maquiagem pode ajudar a mulher a entender que ela é bonita", acrescentou a ucraniana Svetlana. "Quando a mulher cresce, normalmente ela não se acha bonita. Mas quando coloca uma maquiagem, ela se olha no espelho e diz: 'Nossa, sou linda'. Isso pode ajudá-la a desenvolver uma autoconfiança. Isso muda a mulher."

A congolesa Isabeli entendeu o mesmo recado. "Essa atividade mostrou que não existe mulher feia, todas são bonitas. Eu não me maquio para os homens, mas para mim mesma, porque gosto de me sentir bonita", disse a refugiada, que, assim como as outras participantes, levou para casa um kit de maquiagem doado por uma empresa
"Quanto mais aproximada você está das suas raízes, mais as pessoas vão rir. A violência da zombaria se dá porque essas mulheres não estão no lugar da beleza, estão no lugar de apenas sobreviver", disse a educadora Fabíola Oliveira, que comandou a oficina de turbantes e procurou enaltecer a importância da mulher africana na história do Brasil.
"O turbante hoje se deu como um resgate da beleza, porque elas também são belíssimas. A maquiagem veio ressuscitar e fazer emergir essa beleza que está ali presente, só que soterrada pelo cansaço, pelo medo, pela situação de indefinição, etc", completou.

A oficina comandada pela maquiadora Fátima Barros ensinou às mulheres como se valorizar por meio da maquiagem. "A maquiagem é uma libertação da mulher. É uma forma de ela se expressar do jeito que acha que deve. Quando você se maquia, você toma um tempo para cuidar um pouco de si mesma. É um momento só seu. Então, para mulheres que já sofreram violência, acho que é um momento de estar se cuidando", comentou a maquiadora.

As ações da Cáritas Rio para os 16 Dias de Ativismo continuam nesta sexta-feira, com um debate sobre igualdade e diversidade por meio do artesanato. Na terça-feira, 1º de dezembro, será a vez de levar a discussão para dentro do campo de futebol. Mulheres e homens refugiados participarão dos jogos do Futebol das Nações, no Maracanã, em times mistos.

Por Diogo Felix, do Rio de Janeiro

Por: ACNUR


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