Com batom nos lábios e um turbante na cabeça, cerca de 30
refugiadas e solicitantes de refúgio que vivem no Rio de Janeiro disseram não à
violência contra as mulheres. Mas esse foi apenas o primeiro "não".
Nesta quarta-feira, teve início a campanha global “16 Dias de Ativismo Pelo Fim
da Violência Contra as Mulheres”, uma iniciativa criada em 1991 por lideranças
femininas de diferentes países para promover o debate e denunciar as várias
formas de violência contra as mulheres no mundo.
A campanha tem o apoio de diversas agências da ONU,
inclusive do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), que em 2015
reafirma seu compromisso com a prevenção da violência contra as mulheres em
geral e as mulheres refugiadas e deslocadas em específico. No Brasil, uma
abordagem ampliada dos 16 Dias que começou em em 20 de novembro, Dia
da Consciência Negra, a fim de incorporar a violência do racismo às discussões.
Foi neste marco que a Cáritas Arquidiocesana do Rio de
Janeiro, organização parceira do ACNUR, inaugurou na segunda-feira uma série de
atividades para debater a questão com as refugiadas e os refugiados. A primeira
delas foi uma roda de conversa com profissionais do Movimento de Mulheres de São
Gonçalo, em que se falou sobre a lei brasileira de proteção às mulheres (Lei
Maria da Penha) e os direitos das mulheres no Brasil, mas sobretudo trocar
experiências sobre como se dá o relacionamento entre homem e mulher em outros
países.
Na terça-feira, mulheres refugiadas e solicitantes de
refúgio de países como República Democrática do Congo, Colômbia e Ucrânia
participaram de duas oficinas de valorização e autoestima, uma de maquiagem e
outra de turbantes. Ambas destacaram o protagonismo, o orgulho e a beleza
feminina contra as violências dos padrões estéticos.
Por meio de oficinas sobre turbantes e maquiagens,
mulheres refugiadas que vivem no Rio discutiram temas relacionados à autoestima
e à prevenção da violência de gênero
"A maquiagem pode ajudar a mulher a entender que ela
é bonita", acrescentou a ucraniana Svetlana. "Quando a mulher cresce,
normalmente ela não se acha bonita. Mas quando coloca uma maquiagem, ela se
olha no espelho e diz: 'Nossa, sou linda'. Isso pode ajudá-la a desenvolver uma
autoconfiança. Isso muda a mulher."
A congolesa Isabeli entendeu o mesmo recado. "Essa
atividade mostrou que não existe mulher feia, todas são bonitas. Eu não me
maquio para os homens, mas para mim mesma, porque gosto de me sentir
bonita", disse a refugiada, que, assim como as outras participantes, levou
para casa um kit de maquiagem doado por uma empresa
"Quanto mais aproximada você está das suas raízes,
mais as pessoas vão rir. A violência da zombaria se dá porque essas mulheres
não estão no lugar da beleza, estão no lugar de apenas sobreviver", disse
a educadora Fabíola Oliveira, que comandou a oficina de turbantes e procurou
enaltecer a importância da mulher africana na história do Brasil.
"O turbante hoje se deu como um resgate da beleza,
porque elas também são belíssimas. A maquiagem veio ressuscitar e fazer emergir
essa beleza que está ali presente, só que soterrada pelo cansaço, pelo medo,
pela situação de indefinição, etc", completou.
A oficina comandada pela maquiadora Fátima Barros ensinou
às mulheres como se valorizar por meio da maquiagem. "A maquiagem é uma
libertação da mulher. É uma forma de ela se expressar do jeito que acha que
deve. Quando você se maquia, você toma um tempo para cuidar um pouco de si
mesma. É um momento só seu. Então, para mulheres que já sofreram violência,
acho que é um momento de estar se cuidando", comentou a maquiadora.
As ações da Cáritas Rio para os 16 Dias de Ativismo
continuam nesta sexta-feira, com um debate sobre igualdade e diversidade por
meio do artesanato. Na terça-feira, 1º de dezembro, será a vez de levar a
discussão para dentro do campo de futebol. Mulheres e homens refugiados
participarão dos jogos do Futebol das Nações, no Maracanã, em times mistos.
Por Diogo Felix, do Rio de Janeiro
Por: ACNUR
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