quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Cidades precisam funcionar para as mulheres, alerta relatório do PNUD

 É necessária uma ação urgente para remover o viés de gênero das cidades. O veredito vem do novo relatório “Cidades Vivas: Planejando Cidades que Funcionem para as Mulheres”,  lançado nesta segunda-feira (24) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em conjunto com o ARUP e a Universidade de Liverpool.

Baseada nas vozes e experiências de mulheres em todo o mundo e apoiada por estatísticas e pesquisas globais, a publicação mostra que a limitação da participação feminina nas decisões de planejamento urbano pode exacerbar e perpetuar as desigualdades nas cidades. 

O preconceito de gênero embutido nas cidades se reflete nos monumentos públicos, que majoritariamente homenageiam homens, até em questões de segurança e saúde, como o acesso a banheiros públicos adequados.

Apesar de as mulheres constituírem 50% da população urbana global, as cidades não foram planejadas com elas em mente
Legenda: Apesar de as mulheres constituírem 50% da população urbana global, as cidades não foram planejadas com elas em mente.
Foto: © Rafael Martins/PNUD

É necessária ação urgente para remover o viés de gênero das cidades e melhorar a segurança, a saúde, o acesso à educação e ao emprego para as mulheres, alerta um relatório lançado nesta segunda-feira (24) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em conjunto com o ARUP* e a Universidade de Liverpool.

O documento, intitulado “Cidades Vivas: Planejando Cidades que Funcionem para as Mulheres”, mostra que apesar de as mulheres constituírem 50% da população urbana global, as cidades não foram planejadas com elas em mente. Por isso, é preciso que gestores, planejadores urbanos e urbanistas trabalhem para que as cidades, onde estão concentradas  mais 4,5 bilhões de pessoas, sejam mais inclusivas, seguras e justas para as mulheres.

O relatório baseia-se nas vozes e experiências de mulheres em todo o mundo, assim como em uma revisão completa de dados e pesquisas, para identificar questões e recomendações com base em quatro temas críticos: segurança e proteção; justiça e equidade; saúde e bem-estar; e enriquecimento e realização pessoais.

As descobertas, apoiadas por estatísticas e pesquisas globais, mostram que a limitação da participação feminina nas decisões de planejamento urbano pode exacerbar e perpetuar as desigualdades nas cidades. As principais questões incluem o assédio sexual em espaços públicos (refletido, por exemplo, nas experiências de 97% das mulheres de 18 a 24 anos no Reino Unido) e a falta de acesso a instalações adequadas (um terço das mulheres em todo o mundo não têm acesso a banheiros apropriados). 

O preconceito de gênero embutido nas cidades também se reflete na homenagem aos heróis do passado e do presente por meio de monumentos públicos, com apenas 2-3% das estátuas representando mulheres em todo o mundo. Ademais, as mulheres não estão bem representadas nas principais decisões que afetam o futuro do meio ambiente, com a média de apenas um em cada sete ministérios do setor ambiental em todo o mundo sendo liderado por mulheres.

Soluções - O novo relatório argumenta que não basta remover, com urgência, as barreiras para que as mulheres assumam posições de planejamento, construção e liderança de cidades. É preciso fazer mais para conscientizar quem tem influência sobre planejamento urbano hoje, de forma a mostrar a essas pessoas a importância de considerar aspectos de gênero e incorporá-los em seus projetos.

Focadas em soluções, as recomendações do relatório fornecem aos tomadores de decisão e urbanistas as ferramentas necessárias para ir além da mera consulta e envolver ativamente as mulheres em todas as etapas de projeto e planejamento urbano – da concepção à entrega. 

Desigualdade - O informe mostra também que acelerar a participação das mulheres na governança urbana em todos os níveis é um pré-requisito para o melhor funcionamento das cidades, pois aquelas que funcionam melhor para as mulheres são mais resilientes e inclusivas para todas as pessoas.

“Alcançar a equidade de gênero faz parte de cada um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Quando as cidades são projetadas sem considerar as diversas necessidades e percepções das mulheres de todas as idades e identidades, isso pode ter um impacto adverso não apenas em suas vidas, mas em suas famílias. Restringe suas oportunidades e impacta negativamente o desenvolvimento sustentável geral da sociedade”, destaca o administrador do PNUD, Achim Steiner. “Cidades com igualdade de gênero podem gerar enormes benefícios econômicos, ambientais, políticos e sociais”, finaliza. 

 A diretora europeia de Cidades, Planejamento e Design da Arup, Léan Doody também acrescenta que o preconceito de gênero embutido no planejamento das cidades tem tido efeito negativo na vida das mulheres em todo o mundo. “Estamos pedindo aos urbanistas e planejadores que adotem as recomendações deste relatório para atender agora às necessidades das mulheres nas cidades, enquanto trabalhamos para atrair mais mulheres para cargos de liderança”.

As recomendações examinam todas as necessidades e aspirações das mulheres, inclusive a segurança, e apontam que questões como discriminação baseada em gênero, falta de acesso a educação de qualidade e oportunidades de emprego ou a moradia e infraestrutura básica, afetam negativamente as mulheres. O documento demonstra também que o preconceito de gênero embutido nas cidades afeta a capacidade de enfrentar a mudança global do clima, com as mulheres enfrentando uma exposição desproporcional aos riscos climáticos.

Recomendações - O relatório apresenta recomendações factíveis ​​para os principais tomadores de decisão e profissionais urbanos sobre como projetar e planejar áreas urbanas mais inclusivas, seguras e equitativas para as mulheres, o que gera benefícios para todas e todos. 

Também são fornecidos exemplos de projetos e iniciativas em todo o mundo, que tiveram êxito ao abraçar a participação das mulheres. Entre os exemplos, estão iniciativas em Atenas (Grécia), Cochabamba (Bolívia), Bogotá (Colômbia), Nairóbi (Quênia), Dacar (Senegal), Da Nang (Vietnã) e São Francisco (EUA).

Para garantir que as cidades funcionem melhor para as mulheres, o relatório enfatiza que as autoridades devem trabalhar em conjunto – incluindo organizações dos setores público e privado, juntamente com grupos da sociedade civil – e projetar e planejar cidades mais inclusivas, seguras e equitativas para mulheres e meninas.

*ARUP: coletivo de 16 mil projetistas, consultores e especialistas que trabalham em 140 países, dedicados ao desenvolvimento sustentável


brasil.un.org/

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