O número de pessoas que têm fugido da Ucrânia desde que a Rússia invadiu o território, a 24 de fevereiro, já ultrapassou todas as perspetivas mais pessimistas, afirmou o diretor-geral da Organização Internacional de Migrações (OIM).
“Podemos dizer que estes primeiros 12 dias ultrapassaram as perspetivas mais pessimistas que nós tínhamos“, admitiu António Vitorino, em entrevista à agência Lusa.
Segundo o responsável da agência das Nações Unidas, o fluxo de refugiados — que, de acordo com a ONU, já contabiliza mais de dois milhões de pessoas — “é a mais significativa vaga de refugiados, superior àquela que se verificou em 2015 com a chegada dos sírios, através da Grécia, aos países da Europa Central e superior, decerto àquela que se verificou no final dos anos 90 do século passado, com a guerra nos Balcãs e a desagregação da ex-Jugoslávia“.
Com cada vez mais pessoas a fugir da guerra, Vitorino reconhece que “a intensificação dos combates na Ucrânia” pode provocar “uma segunda vaga de chegadas [aos países da União Europeia] muito em breve”.
A invasão da Ucrânia já provocou, segundo a Organização das Nações unidas (ONU) mais de dois milhões de refugiados, sendo que a Polónia recebeu mais de um milhão de ucranianos em fuga, enquanto os restantes foram acolhidos sobretudo pela Roménia, Hungria e Eslováquia, no que diz respeito à UE.
No entanto, as Nações Unidas avançaram que a guerra na Ucrânia pode causar 10 milhões de refugiados, mais de um quarto da população do país.
Reconhecendo que este tipo de números terá, obviamente, consequências para a Europa, António Vitorino disse à Lusa que, para já, “o principal impacto” acontece nos países fronteiriços com a Ucrânia, como a Polónia, a Moldova, a Roménia, a Eslováquia e a Hungria.
“O passo subsequente é que muitas dessas pessoas prosseguem para outros países europeus e, portanto, em todos os países europeus vamos assistir à chegada de refugiados provenientes da Ucrânia, mas também há (…) um número significativo de refugiados que ficam nas instalações para o efeito criadas pelos países da linha da frente”, explicou o diretor da OIM.
Estas pessoas, alertou, “estão manifestamente necessitadas de assistência humanitária, de apoio imediato, de alojamento, de cobertores, de bens de primeira necessidade, de bens de higiene, de alimentação, porque saíram da Ucrânia apenas com o mínimo que podiam transportar numa viagem que, obviamente, foi para elas muito difícil e muito traumática”.
Por isso, a OIM está a apoiar os países limítrofes da Ucrânia, ajudando os governos que estão a acolher as pessoas. “Isso significa apoiá-los nos procedimentos fronteiriços, nos pedidos rápidos, [para que sejam] eficazes e permitam que as pessoas atravessem a fronteira”, adiantou António Vitorino, acrescentando que os atrasos e longas filas que se têm verificado nas fronteiras são, sobretudo, do lado ucraniano.
“Os países de acolhimento têm dado provas de grande flexibilidade e de uma grande generosidade no acolhimento. Mas, na Ucrânia, existe a lei marcial e os homens entre os 18 e os 60 anos não podem sair do país e, portanto, essa filtragem no acesso à fronteira tem sido feita com alguma lentidão”, disse.
Mas é depois de passada a fronteira para fora da Ucrânia que os problemas duplicam, avisou. “Uma vez passada a fronteira, há que distinguir dois grupos. Há um grupo que não permanece muito tempo na zona de fronteira e que prossegue para outros países europeus e há, depois, um grupo que vai crescendo, de pessoas que não têm nenhum projeto ulterior de viagem, não têm nenhum objetivo de destino para além da zona de fronteira“, explicou António Vitorino.
Essas pessoas são as que precisam de mais apoio. “Esse apoio tem sido feito por várias agências das Nações Unidas, coordenadas pelo Alto Comissariado para os Refugiados e é o apoio para situações de emergência, portanto, dar alimentação e permitir que as pessoas tenham cobertores, roupa quente para enfrentarem as condições de baixas temperaturas na região, bens de higiene de primeira necessidade e apoio social e psicológico”, sublinhou, lembrando que são pessoas que vêm de uma experiência muito traumática e de famílias separadas.
“A maioria das pessoas que está nessas instalações de acolhimento são mulheres, crianças e pessoas idosas que são particularmente vulneráveis e que se viram separadas dos seus familiares que ficaram na Ucrânia. Estão, portanto, numa situação de grande sofrimento psicológico e precisam de apoio psicossocial e de ser protegidas”, avisou, referindo que estes refugiados são os mais vulneráveis, quer a pressões, quer a riscos de exploração, de tráfico e de abuso sexual.
Por isso, nos próximos dias, António Vitorino vai visitar à Polónia e a Moldávia, onde pretende visitar no primeiro país um abrigo em Varsóvia, centros de receção nas cidades de Medyka e Mlyny e o armazém de Rsezsow e no segundo os centros de receção em Chisinau e em Palanca.
Observador
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