sexta-feira, 25 de março de 2022

Fronteiras Simbólicas e as (i)migrações no Alto Uruguai Gaúcho

 

Henrique Tizotto 

O encerramento da tríade acerca das fronteiras simbólicas e as (i)migrações no Alto Uruguai Gaúcho analisaremos as relações estabelecidas pela memória e a manutenção / ressignificação da identidade dos imigrantes. 

Hall, ao afirmar que “a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida ela tornou-se politizada (2005, p.21)”, reforça a ideia de que estamos sujeitos as influências externas na formação de nossa sociabilidade e principalmente na forma como interagimos com o mundo. Desta forma, um processo (i)migratório altera o curso “natural” de um determinado grupo social, que adentra em uma nova cultura em todas as suas nuances.

Dois elementos podem ser destacados nesse processo, o primeiro é dúbio pois é o despertar do nacionalismo, que segundo Guibernau, “este sentimento assenta em várias componentes: o sentido de pertencer à nação assente na consciência de ser parte de uma comunidade específica, como os "portugueses", por exemplo; uma história, uma cultura e uma língua partilhadas; a ligação a um determinado território; o direito da população a ser reconhecida como um demos, isto é, como um coletivo com capacidade para decidir o seu destino' Assim concebido, o nacionalismo é uma expressão da identidade nacional, definida como a crença na pertença a uma nação, cujos membros partilham a maioria dos atributos que a tornam distinta das outras (GUIBERNAU, 2013, p. 39).

Já o segundo elemento a ser destacado é decorrente do primeiro, pois a lembrança, a memória individual passa a fazer parte do cotidiano deste (i)migrante. Todavia, n”ão basta reconstituir pedaço por pedaço a imagem de um acontecimento passado para obter uma lembrança. É preciso que esta reconstituição funcione a partir de dados ou de noções comuns que estejam em nosso espírito e também no dos outros, porque elas estão sempre passando destes para aqueles e vice-versa, o que será possível se somente tiverem feito e continuarem fazendo parte de uma mesma sociedade, de um mesmo grupo (HALBWACHS, 2013, p. 39)

Portanto temos uma gama de sentimentos que se “misturam” e criam uma nova subjetividade. É o exemplo da folha que é amassada e depois posta em seu estado original, ela recupera sua forma, mas apresenta ranhuras, da mesma forma podemos compreender o processo de (i)migração. Aqueles que saem de seu país ou de seu estado para tentar mudar seu cenário socioeconômico adentram em um local cujo status quo está consolidado, e que normalmente, repelem todos os corpos estranhos que não se “encaixam” no perfil tido como ideal.

Assim, a reflexão que a sociedade precisa fazer é que estes processos são irreversíveis e que são fruto da política de supervalorização do capital e subvalorização da cidadania. Em que se pese, que os imigrantes ucranianos estão passando por um processo de guerra, estão sendo acolhidos em todas as partes do globo. Africanos na mesma situação são barrados ou deixados a mercê de sua sorte. O que diferencia estes dois grupos?

Referências

GUIBERNAU, Montserrat. Nationalisms: The nation-state and nationalism in the twentieth century. John Wiley & Sons, 2013.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. 2ª ed. São Paulo: Centauro, 2013.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 10.ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005

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