segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Maioria dos imigrantes que estão em Minas veio do Haiti

 A busca por um emprego formal é a principal dificuldade relatada por imigrantes e refugiados, especialmente os haitianos, a maioria entre os estrangeiros que residem em Minas. Até 2019, segundo o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados de Belo Horizonte (SJMR-BH), eles eram a maioria esmagadora de estrangeiros atendidos pela entidade (70,3%).

Foto Flavio Tavares 

Residente no Brasil há três anos, desde que deixou o Haiti, Gilene Louise, 26, está desempregada desde então. Mãe de uma menina de 6 meses, ela conta que até tentou trabalho, mas o fato de não ter onde deixar a filha tem sido um problema. O marido, que chegou com a mesma esperança, encontrou com muito custo um serviço na indústria, mas os rendimentos ainda não atendem as necessidades.

“A gente veio em busca de emprego, o Brasil é um país melhor que o Haiti, mas aqui é muito difícil. Eu não encontro nada porque não tenho com quem deixar a minha filha, e o que o meu marido ganha ainda é muito pouco para pagar as contas”, conta Gilene, em português ainda rebuscado.

Emprego de faxineira durou só 15 dias

Em crioulo – língua do Haiti –, Mona Porfait, 30, conta que encontrou a mesma dificuldade. “Quero aprender uma profissão e ficar no Brasil, criar meus filhos aqui”, diz ela. A jovem chegou ao Brasil há quase dois anos e trabalhou com faxina, mas a permanência no emprego durou apenas 15 dias. “A gerente assinou a minha carteira, mas depois me dispensou, dizendo que a empresa não tinha dinheiro para mim”, revela Mona.

A tradução foi feita com a ajuda da Marie Lucie Sejour, 43, que reside no Brasil desde 2019. Enfermeira com experiência, ela não conseguiu validar o diploma no país. Marie conta que, na única oportunidade formal em terras brasileiras, viveu sua pior experiência com o racismo. 

“Trabalhei como cuidadora de idosos, mas era muita humilhação, me xingavam na presença dos outros até me mandar embora”, conta. Mesmo com formação e experiência para o cargo, Marie era designada para tarefas de faxina e serviços braçais que não condiziam com a função para a qual ela havia sido contratada.

Há dificuldades até para perceber o racismo vivenciado

Dados do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados de Belo Horizonte apontam que é em Contagem, na região metropolitana, que reside a maioria dos estrangeiros atendidos pela instituição em Minas. No município, a maior concentração de migrantes e refugiados está no bairro Jardim Laguna, que fica na regional Ressaca.

Muitos desses migrantes e refugiados buscam a Associação dos Moradores do Bairro Novo Progresso II (Amonp) para obter apoio e assistência com necessidades básicas para adaptação. “Houve uma crescente nos últimos anos. A partir de 2019, cada vez mais haitianos passaram a nos procurar e com demandas diversas, como ajuda com alimentação e saúde. Mas a principal é a questão do trabalho”, explica a assistente social Ronivia Soares de Oliveira, que atua na instituição desde 2017.

Na Amonp, o foco é o atendimento a famílias em situação de vulnerabilidade social. Em relação aos haitianos, o desafio foi tentar se inserir no contexto em que eles chegaram ao Brasil. 

“Encontramos um pouco de dificuldade porque eles (haitianos) têm uma percepção muito diferente da nossa em vários aspectos. São raros os que percebem que vivenciam racismo, por exemplo, mas, quando eles nos relatam o que passaram, ficam claras as situações de discriminação”, relata.

Poder público

Contagem tem 4.045 migrantes, a maioria nas regionais Industrial, Ressaca e Petrolândia. Os dados são da Polícia Federal (PF), de agosto de 2021.

A prefeitura informou que atua para atender as demandas diversas dos imigrantes, que têm a situação acompanhada pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. “Em 2022, o projeto é ampliar as ações”, conforme nota do Executivo.

Pedro Nascimento 
O Tempo 

www.miguelimigrante.blogspot.com

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