Foto: Wendell ESCOTO / AFP
A caravana de centenas de migrantes que partiu no sábado (15) de San Pedro Sula, norte de Honduras, com a intenção de chegar aos Estados Unidos, dissipou-se ao entrar na Guatemala, devido aos controles impostos pelas autoridades.
Embora tenham chegado de forma compacta a Corinto, na fronteira com a Guatemala, os emigrantes se separaram em pequenos grupos para conseguirem entrar. Na hora de precisarem apresentar um documento de identificação e um teste negativo para covid-19, foram, porém, detidos e devolvidos para o território hondurenho, observou um fotógrafo da AFP.
Com poucos pertences guardados em malas e mochilas, cerca de 500 pessoas deixaram o grande terminal de transporte de San Pedro Sula, 180 km ao norte de Tegucigalpa, em direção a Corinto, aonde chegaram horas depois de uma longa viagem a pé, de ônibus, ou de carro.
Eles estão buscando "um futuro melhor para a família", declarou um nicaraguense que disse se chamar Ovaldo e não deu seu sobrenome.
Natural de Manágua, Ovaldo lamentou que a situação em seu país "é bastante difícil". Por isso, justificou, viajava com sua família, mesmo sabendo que "é um caminho muito duro".
Assim como ele, dezenas de homens e mulheres, alguns com filhos, reuniam-se no terminal desde a tarde de sexta-feira (14).
Ao amanhecer, saíram cerca de 100 pessoas e, com as primeiras luzes do sábado, os demais começaram a caminhar pela beira da estrada, sob um sol forte e temperaturas elevadas.
"Pedimos a Deus e ao governo hondurenho, já que ainda estamos em território hondurenho, que nos acompanhe até a fronteira com a Guatemala, que não tenhamos mais retenções", implorou Ovaldo.
"Vamos praticamente sem recursos ao governo guatemalteco. Se você está vendo, por favor, deixe-nos passar. Não queremos criar transtornos em nenhum desses países, queremos continuar nossa caminhada", disse ele à AFP.
Aos hondurenhos, juntaram-se nicaraguenses, haitianos, venezuelanos e africanos que atravessaram diferentes fronteiras por pontos cegos, caminhando em direção aos Estados Unidos em um fluxo migratório sem fim. A grande maioria não consegue atravessar o México.
Um jovem de 17 anos que se identificou como Daniel, natural de Villanueva, a 10 km de San Pedro Sula, disse aos jornalistas que emigrava por "necessidade econômica basicamente".
É preciso "buscar um futuro melhor. É muito difícil aqui, não há boa educação, e não há apoio do governo para poder estudar", queixou-se.
Reforço dos controles não impede resistência
De acordo com o Instituto Guatemalteco de Migração, policiais e soldados aumentaram os controles em Corinto para verificar se as pessoas cumpriam os requisitos para ingressar no país. Em caso contrário, seriam impedidas de passar.
As autoridades guatemaltecas informam que cerca de 150 pessoas entraram no país por postos não autorizados e, por falta de documentos e de exames de saúde, foram proibidas de ficar.
Um grupo de cerca de 100 migrantes que burlaram os controles migratórios foi detido no km 303 da jurisdição de Izabal, perto da fronteira. Diante da impossibilidade de continuarem a caminhada, jogaram pedras e outros objetos contra os policiais.
A agressão deixou pelo menos dez agentes feridos, confirmaram as autoridades, que buscavam um acordo com esses migrantes para um retorno voluntário para Honduras.
A última caravana de cerca de 7.000 pessoas partiu em janeiro de 2021. Foi desarticulada na Guatemala, ao ser atacada com pedaços de pau e bombas de gás lacrimogêneo por centenas de militares. Diante disso, os migrantes se viram forçados a voltar para Honduras.
Uma dúzia de caravanas iniciou sua marcha desde outubro de 2018, partido de San Pedro Sula. A maioria falhou em sua tentativa, devido a bloqueios por parte das autoridades dos Estados Unidos.
Como motivo para fazerem essa longa travessia, os migrantes alegam a falta de oportunidades para terem uma vida digna, a violência dos narcotraficantes e de membros de gangues que assolam suas comunidades e os fenômenos naturais, como enchentes e secas causadas pelas mudanças climáticas.
O Tempo.com
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