Por: Juliana Lima
Sete pessoas foram resgatadas de trabalho escravo na fazenda Ouro Preto, na cidade de Caracaraí, em Roraima, em novembro de 2021. Segundo a fiscalização, o local onde os trabalhadores dormiam era feito de lonas e estava sujeito à “entrada de cobras, aranhas e escorpiões”. Entre os escravizados estavam três indígenas do povo Macuxi e dois imigrantes venezuelanos.
O responsável pela fazenda Ouro Preto e autuado por trabalho escravo é o empresário Carlos Alberto de Salles Júnior, cuja empresa, a Invicta, foi contratada em agosto pela prefeitura de São Luiz, cidade vizinha a Caracaraí. O serviço prestado é de plantação de mudas de açaí para um projeto social da prefeitura que visa atender 41 famílias. Para pagar pela contratação, a prefeitura utilizou R$ 1,5 milhão repassados pelo senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) por meio de emendas parlamentares.
Essa não é a primeira vez que a Invicta é contratada pela prefeitura de São Luiz. Em 2018, a empresa havia sido contratada para trabalhar em obras em estradas vicinais, cujo pagamento também veio por meio de emendas parlamentares, dessa vez destinadas pelo então senador Romero Jucá (MDB).
“Tem várias obras que ele [o empresário Carlos Alberto] está fazendo para a prefeitura. São verbas das emendas do [Romero] Jucá ainda. Vamos esperar terminar as obras, mas depois vamos pensar em fazer novos contratos, pois pega muito mal para nós [essa autuação]”, disse o secretário de obras da prefeitura de São Luiz, Ary Lunard, à ONG Repórter Brasil.
Procurado, o senador Mecias de Jesus disse que não participa da escolha das empresas que vencem pregões realizados pelas prefeituras e que “repudia veementemente qualquer tipo de trabalho análogo às condições de escravidão”. O ex-senador Romero Jucá também disse que não compactua com o trabalho escravo e que a prefeitura deve ser responsabilizada no caso.
Segundo dados disponíveis no site da prefeitura de São Luiz, a Invicta recebeu ao menos R$ 8 milhões em pagamentos da prefeitura nos últimos anos. Na Receita Federal, a empresa descreve que tem como atividade principal a construção de edifícios, mas também trabalha com o cultivo de açaí e eucalipto, coleta de látex, fabricação de conservas de frutas, serviços de terraplanagem e construção de rodovias e ferrovias.
De acordo com os fiscais que participaram do resgate dos sete trabalhadores da fazenda de Carlos Alberto, os escravizados não tinham condições apropriadas de moradia e tinham que tomar banho em um açude raso perto do local. Além disso, não tinham carteira assinada e um deles, o cozinheiro, era submetido a jornadas exaustivas de trabalho.
Procurado pela Repórter Brasil, o empresário Carlos Alberto de Salles Júnior não quis se manifestar.
Fonte: Repórter Brasil
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