"A única coisa que procuro é um país onde viver": palavras de um refugiado no campo de Lesbos, uma reflexão sobre o drama dos migrantes.
"Qualquer país está bem, a única coisa que procuro para mim e para a minha família é um lugar onde viver". É sempre esta resposta simples e pungente que se ouve no campo de refugiados de Mytilene, na ilha de Lesbos, que acolhe hoje cerca de duas mil pessoas: iraquianos, sírios, afegãos, iranianos... fugindo da guerra, da violência, da perseguição e da fome. O campo, rodeado de arame farpado amarrado às paredes de cimento, tem vista para o mar cristalino onde as margens artificiais de terra bloqueiam a ressaca e o acesso. Naquele limbo de salvação, não se trabalha, espera-se. Esperam por uma assinatura num pedaço de papel, uma autorização de residência, que lhes ofereça, sem qualquer certeza, a oportunidade de recomeçar a viver.
Entretanto, os dias neste Campo podem transformar-se em anos. As crianças brincam com pedaços de pau de madeira, pedaços de ferro recolhidos onde quer que se encontrem, com carrinhos de bebé sem rodas, com muita imaginação. Todos estavam à espera da chegada de Francisco: "Um homem sábio", diz uma mulher com um véu na cabeça e olhos brilhantes, "que traz esperança". As histórias nestes locais são terríveis: milhares de quilômetros a pé, sem comida, sem abrigo, tortura, privação, medo, exploração. Muitos viram morrer os seus entes queridos e amigos. Uma criança olha fixamente para o seu pai, que mostra aos jornalistas que seguem o Papa os seus braços desfigurados pelas queimaduras causadas pelos Talibãs. Diz que vem do Afeganistão, que não tem mais nada, que fugiu para não morrer e para salvar a sua família. Ao seu lado, a sua mulher aperta-lhe a mão. Mais adiante, câmaras e lentes apontam para uma mulher começa a chorar, enquanto um homem numa cadeira de rodas espera, sem sapatos, na esperança de se encontrar com o Papa.
Tudo ao redor dos contêineres brancos, com os seus números de identificação, desenham caminhos quadrados, cortados pelos fios utilizados para pendurar as poucas roupas consumadas que alguém possui. Nessas vielas, feitas de pedras, estão carrinhos de compras cheios de vasilhas de água, carrinhos, bicicletas, bacias, latas, cabos, varais de roupa e pedaços de plástico que cobrem os barracos de madeira encostados às estruturas de resina. Na entrada do acampamento encontra-se a periferia deste lugar, constituída por tendas e remendos. O Papa veio para abraçar esta humanidade, símbolo daqueles que são relegados: onde o mar não tem um bom cheiro, não é uma estrada para viajar ou brincar, mas uma fronteira intransitável que muitas vezes mata.
Francisco atravessou a parede mais difícil de quebrar, a parede de cristal: todos podem vir e ver a pobreza, o horror do abandono e do sofrimento, mas aqueles que vivem em lugares como este só podem ver o que acontece à sua frente, não podem atravessar. Francisco quebrou esta fronteira, quebrou esta enésima barreira, mudou as regras do egoísmo, da burocracia e da indiferença: tocando, ouvindo, levar consigo, pedindo que o homem seja amado, que não nos afastemos do sofrimento. Uma pergunta dirigida a cada um de nós, refletida nos olhos de cada criança, homem e mulher que pede ajuda, e que de forma alguma pode ser ignorada.
vaticannews.va
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