Filhos de imigrantes residentes no Rio Grande do Sul têm menor frequência escolar em comparação com as famílias de origem nacional em todas as faixas etárias, de zero a 24 anos. Na Educação Infantil, a prole de estrangeiros está presente 3,5 pontos percentuais a menos. A diferença aumenta para seis pontos percentuais nos ensinos Básico e Médio e salta para 13,6 na educação Técnica e Superior.
Os achados constam em estudo que traçou um perfil dos imigrantes que vivem no Rio Grande do Sul, liderado por Daiane Menezes, pesquisadora em sociologia do Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão.
O mais interessante foi conseguir incorporar a composição da família do imigrante e os seus filhos. Chegamos à constatação de que eles têm maior dificuldade para manter os filhos na escola. Não se consegue saber se isso ocorre pela dificuldade em realizar a matrícula, em validar anos anteriores da escolaridade ou pela questão da língua. Isso serve de atenção para os órgãos que trabalham com esse público, para que seja inserido desde cedo — avalia Daiane.
As restrições impostas pela pandemia de coronavírus também são hipótese considerada como entrave para o acesso à escola. Outro ponto destacado é que as famílias de migrantes têm menos filhos do que as brasileiras, com 2,8 pontos percentuais a menos neste indicador.
Para chegar às conclusões, Daiane se valeu de três bases de dados, com informações coletadas entre os anos de 2018 e 2021: o Cadastro Único (CadÚnico), onde se encontram os mais vulneráveis elegíveis a programas sociais, o Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), plataforma em que a Polícia Federal procede solicitações de regularização, e a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), ferramenta que contabiliza os inseridos no mercado de trabalho formal.
De 2018 a 2020, o Sismigra registrou 29.357 imigrantes no Rio Grande do Sul. O destaque é para os haitianos, que representam quase a metade dos 16.987 estrangeiros cadastrados na Rais em 2019. Os naturais da ilha caribenha somam um quarto das bases de dados do Sismigra e do CadÚnico, o que os consolida como líderes em presença no Rio Grande do Sul. Na sequência, existe marcada presença de uruguaios, venezuelanos e senegaleses. O destaque para os naturais do Uruguai, maioria na base de dados do Sismigra, com 29,3% do total de cadastrados, é atribuído à relação fronteiriça e aos acordos binacionais do Mercosul
Um dos registros mais comuns é o acordo de residência Brasil-Uruguai. Temos 7.752 uruguaios com esse direito no Brasil. A questão fronteiriça ajuda a colocar o Uruguai à frente — avalia Daiane.
Apesar da presença de naturais do país vizinho, de maioria branca, o perfil geral dos imigrantes no Rio Grande do Sul aponta para pessoas pretas e pardas.
Temos um perfil bem estabelecido, majoritariamente de jovens e homens. A gente impõe o nosso sistema para quem vem de fora. Existe diferença de remuneração em faixas de renda por cor, por sexo. Os imigrantes negros, pardos e as mulheres são menos remunerados, o que repete um padrão da sociedade brasileira — analisa a pesquisadora.
Os dados do Sismigra, que somaram mais de 29 mil estrangeiros, ainda mostram que apenas 22 pessoas obtiveram o status de refugiado em 2018. Depois, foram 37 em 2019 e 33 em 2020.
É um claro indício de que a migração ao Rio Grande do Sul é marcada por viajantes econômicos, que buscam oportunidades de emprego. O refugiado é aquele que comprova estar fugindo de grave perseguição política, religiosa ou de conflitos bélicos.
Na faixa etária dos 25 aos 39 anos, significativa maioria de imigrantes pertence ao mercado formal de trabalho. A situação se inverte nos estrangeiros com mais de 45 anos, que estão no Rio Grande do Sul em menor contingente.
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