segunda-feira, 14 de maio de 2018

Imigrantes reconfiguram mercado

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Em 2017, mais de 25 mil autorizações de trabalho foram concedidas a estrangeiros pelo Ministério do Trabalho. Foram 24.294 autorizações temporárias e 1.006 permanentes. Os dados fazem parte do Relatório Anual elaborado pelo OBMigra (Observatório das Migrações Internacionais), da UnB (Universidade de Brasília), que também permite desenhar um perfil desses imigrantes. Segundo o relatório, a maioria dos estrangeiros que solicitou a autorização era homens, com nível superior completo. A eles foram concedidas mais de 22 mil autorizações, enquanto apenas três mil mulheres obtiveram o documento.

Das 25 mil autorizações expedidas no ano passado, mais de dez mil foram solicitadas por pessoas entre 35 e 49 anos de idade e mais de nove mil por estrangeiros na faixa etária de 20 a 34 anos.

Os estados que mais emitiram autorizações foram o Rio de Janeiro e São Paulo, com cerca de 11 mil e dez mil documentos, respectivamente. A maioria dos imigrantes que deram entrada no pedido de autorização era dos Estados Unidos, Filipinas e Reino Unido.

Os haitianos ficam mais abaixo na lista, mas o OBMigra considera esse povo o caso mais significativo porque a participação deles no mercado formal tem aumentado ano a ano. Embora o volume de venezuelanos ainda não seja grande, o ingresso deles em solo brasileiro também começa a crescer, especialmente em Roraima.

Nas cidades vizinhas a Londrina, os dados mais recentes disponíveis, de 31 de dezembro de 2016, contabilizam 780 estrangeiros com emprego formal de trabalho, segundo a Rais (Relatório Anual de Informações Sociais). Entre eles, 239 eram haitianos. As outras principais nacionalidades eram portuguesa (42), japonesa (38), paraguaia (31), argentina (31), colombiana (23) e bengalesa (19).

"O perfil da migração mudou e essa mudança está associada à própria Lei da Migração. A lei anterior só permitia a entrada para trabalhar se já tivesse vínculo empregatício, por isso vinham pessoas do norte global, de países desenvolvidos, com investimento no Brasil. No final da década passada, a lei foi flexibilizada", explicou o coordenador de Estatísticas do OBMigra, Tadeu de Oliveira.

A presença dos haitianos, segundo Oliveira, cresceu com a concessão de vistos humanitários, que permitiram a entrada deles no Brasil. "Algumas nacionalidades africanas começaram a usar essa estratégia dos haitianos (visto humanitário). O Brasil não tem muita tradição de deportar e isso reconfigurou o mercado de trabalho nacional", analisou o coordenador do OBMigra. "A mão de obra africana é um pouco menos qualificada do que a haitiana, mas eles são subutilizados. Poderiam estar inseridos em ocupações mais qualificadas. A língua é uma barreira e também tem a questão da exploração. Pela necessidade, acabam aceitando qualquer trabalho. E tem também a dificuldade de validação do diploma."

Pastoral une empresas e estrangeiros

A Pastoral do Migrante da Arquidiocese de Londrina costuma ser a ponte entre as empresas e os estrangeiros que buscam uma colocação no mercado de trabalho. O centro de apoio da Igreja Católica recebe os currículos e, com base no perfil dos candidatos, tenta fazer o encaminhamento. Algumas vezes, são os empregadores que entram em contato. "Temos uma rede de colaboradores", disse a missionária scalabriniana Inês Facioli, assessora da Pastoral do Migrante.

O primeiro contato dos estrangeiros é com a Cáritas, que faz a acolhida e auxilia na regularização da documentação. "Fazemos um trabalho sócio pastoral, que presta atendimento interno e de visitas, de contato com as paróquias, com as igrejas que eles frequentam. É a Pastoral do Migrante que faz o levantamento das condições de vida delas", explicou Facioli.

A pastoral delineou o mapa da concentração de estrangeiros em Londrina e região. Alguns bairros já abrigam algumas comunidades, como o jardim Maria Lúcia (zona oeste de Londrina) e os jardins Ana Rosa, Santo Amaro e Tupi, em Cambé, que concentram haitianos. Já os bengaleses e senegaleses estão na região central de Londrina e a maior parte vive nos municípios de Rolândia e Jaguapitã, também na Região Metropolitana de Londrina. "Há aproximadamente três mil estrangeiros vivendo na região, entre haitianos, bengaleses, senegaleses, colombianos, bolivianos, venezuelanos e angolanos."
Simoni Saris
Folha de Londrina
www.miguelimigrante.blogspot.com 

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