quarta-feira, 30 de maio de 2018

Imigrantes haitianos em Rolândia enfrentam dificuldades


Gina Mardones - Lucson Jean é casado com Marie Blondine Camille e tem 3 filhos: o cacula tem paralisia cerebral : 'Precisamos de muitas coisas, mas agora no frio precisamos mais de blusas e fraldas'

Lucson Jean é casado com Marie Blondine Camille e tem 3 filhos: o cacula tem paralisia cerebral : "Precisamos de muitas coisas, mas agora no frio precisamos mais de blusas e fraldas"


 A migração dos haitianos para o Brasil teve início em 2010, quando houve um grande sismo no País caribenho. Hoje há um fluxo contínuo. O município de Rolândia é um da Região Metropolitana de Londrina que mais atrai os haitianos em busca de oportunidades nos frigoríficos e indústrias, porém muitos desses estrangeiros passam por dificuldades, seja pela falta de empregos ou mesmo por dramas pessoais. Uma dessas pessoas é Lucson Jean, 34, casado com Marie Blondine Camille, 27, que trabalham como auxiliar de serviços gerais. O casal tem três filhos no Brasil: Lucson Fils, 8; Janaína, 5; e Wyclef, 3. O caçula tem paralisia cerebral. 

Recentemente Lucson sofreu um acidente de trabalho no frigorífico em que trabalha está afastado, sobrevivendo de um benefício que recebe do INSS. A mulher deixou o trabalho para cuidar do filho Wyclef. "Eu parei de trabalhar há dois anos. Precisamos de muitas coisas, mas agora no frio preciso mais de blusas e fraldas", ressalta Camille, dizendo que também recebe ajuda da Cáritas Arquidiocesana de Londrina, que doa cestas básicas e fraldas. "Mas não é todo mês que eles fazem essas doações." 

A Cáritas é uma entidade presta serviço de apoio, acolhimento e solidariedade, com destaque para o trabalho conjunto voltado para as situações de migração, em parceria com entidades como o Instituto de Migrações e Direitos Humanos e o Serviço Pastoral do Migrante. Na região de Londrina são cerca de três mil imigrantes, principalmente haitianos e bengaleses. 

Wyclef tem crises de epilepsia e toma remédios controlados. "Durante um período, a cada vez que tirávamos o aparelho de oxigênio, ele não conseguia respirar. Uma vez ele teve que fazer traqueostomia", lamenta. Depois do diagnóstico, a vida do casal ficou difícil. "Nem todos os remédios ele consegue de graça. Como a Marie não pode mais trabalhar para ficar o tempo todo com ele, a nossa renda caiu muito." 

Camille observa que sente falta de familiares. "Se tivesse mais alguém da família seria melhor. Quando ele fica internado, eu fico sozinha com ele no hospital. Não tenho ninguém para cuidar das outras crianças, que precisam ir para a escola. Se tivesse mais familiares aqui, com certeza eles ajudariam." 

Lucson relata o drama que passou antes de vir ao Brasil. "Perdi parentes no terremoto. Morava em Porto Príncipe. Minha casa quase caiu e graças a Deus minha mãe e meu pai sobreviveram. Infelizmente eles ficaram lá", destaca. Ele relembra que no Haiti trabalhava como motorista de caminhão. "Vendi a minha casa para vir aqui com minha esposa. Tenho um filho mais velho, de 13 anos, que deixei no Haiti, um que nasceu lá e consegui trazer para cá e mais dois filhos que nasceram aqui no Brasil", relata. 

Para chegar ao Brasil, Lucson enfrentou uma série de dificuldades. "Eu deixei o Haiti em outubro de 2011. Primeiro fui para o Peru, depois para Tabatinga (AM), onde fiquei um mês. De lá consegui ir para Manaus, onde fiquei por três meses. Mudei para Rolândia em 13 de fevereiro de 2012", detalha. Ele relata que a documentação não foi difícil conseguir, porém foi o processo foi demorado, porque tinham muitas pessoas na fila. "Tinha gente que esperava até cinco meses. Quem esperou por mais tempo passou por mais dificuldades, porque chegam com pouco dinheiro. Tinha um padre que ajudava os haitianos, mas como começou a chegar muita gente, ficou difícil para ele ajudar todos", destaca. 

Ao passar por dificuldades financeiras no Brasil, passou a enviar menos recursos aos familiares que permanecem no Haiti. "Eles pedem para mandar dinheiro quase todo mês, porque lá eles não sabem como aqui está difícil e o que a gente está passando aqui. Eu sei que a situação no Haiti está difícil, mas para nós também está" lamenta.

Vítor Ogawa
Folha Londrina

www.miguelimigrante.blogspot.com

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