sábado, 19 de maio de 2018

Estudantes estrangeiros da Universidade Federal do Ceara repudiam bilhete racista e xenofóbico

Os estudantes estrangeiros da Universidade Federal do Ceará (UFC) lançaram carta aberta para repudiar o bilhete xenofóbico e racista encontrado no banheiro da bibliotecado Centro de Humanidades 2 (CH2), no bairro Benfica, em Fortaleza.
No documento escrito em espanhol, os estudantes destacam a importância de denunciar e tornar públicos atos de preconceito dentro do ambiente acadêmico.
Para a colombiana e autora da carta aberta, que optou por não se identificar, a situação causou preocupação entre os acadêmicos estrangeiros devido ao conteúdo de baixo calão e por não saber a autoria do bilhete.
“Somos de várias nacionalidades, da América Latina, da África e de alguns países da Europa. É muito ruim escutar isso e ter a sensação de que você não pode ficar tranquilo no canto da universidade porque há pessoas que não gostam da sua presença”, ressalta.
A colombiana soube do bilhete por meio de sua amiga brasileira. Ao ter conhecimento, decidiu junto a outros estudantes expressar repúdio contra o ato de preconceito. “Eu fiquei bem preocupada com o bilhete achado no prédio no qual tenho aula”, comenta.
O bilhete com conteúdo racista e xenofóbico foi encontrado por um estudante da UFC dentro do banheiro da biblioteca do CH 2. No bilhete, o autor ainda não identificado chama os universitários africanos de “fedidos” e caracteriza como “um povo burro e vitimista”. “Voltem para a África, gente fedida e burra! Fora africanos, venezuelanos, colombianos e todo lixo que contamina a UFC! A universidade não é centro de caridade, é lugar de gente inteligente e produtiva”, diz a mensagem.
Diante da repercussão, a Administração Superior da UFC afirmou, por meio de nota, que repudia a manifestação de racismo e xenofobia expressa pelo bilhete anônimo encontrado no último dia 11. Acrescentou também que se orgulha por ter no campus da instituição a presença de jovens de diversas nacionalidades que acrescentam ao ambiente acadêmico por meio dos seus aspectos culturais.
“A crescente presença de estudantes estrangeiros, das mais diversas origens, é vista como um resultado exitoso da nossa política de abrir portas e lançar pontes para o mundo globalizado. Assim, quem se pronunciou de uma forma tão abjeta, no malfadado bilhete do dia 11, está na contramão da história. Sua ação foi torpe e covarde, merecendo a condenação de todos os que fazem esta Universidade inclusiva e agregadora”, diz a UFC.
Outros casos de xenofobia
Esse não é o único episódio de preconceito vivenciado pelos estrangeiros. A colombiana, por exemplo, já escutou de outros estudantes brasileiros comentários xenofóbicos, mas ressalta que se trata de um grupo pequeno. “Às vezes, escuto: ‘Olha, a estrangeira que rouba as nossas bolsas e oportunidades’. Coisas do tipo. É triste ouvir isso porque nós viemos para cá com a esperança de estudar”, lamenta. Segundo ela, há grupos estrangeiros que vêm ao Brasil em busca por condições melhores de vida em decorrência de conflitos políticos e problemas econômicos e sociais  presentes no seu País de origem.
A estudante de jornalismo da UFC, Vicky Adjalla, saiu de Guiné, no continente africano, para estudar no Brasil em 2015. E de lá para cá sofreu bastante preconceito ao ponto de não se importar mais com esses casos. Acostumou-se, como define. “Uma vez eu estava perdida e me aproximei de uma senhora para me indicar para onde ir. Eu só falei: ‘Bom dia, por favor’. Ela disse: ‘Minha filha, eu não tenho nada’. Eu fiquei: ‘Como assim, eu só queria perguntar onde fica a minha rua”, relembra.
Tribuna do Ceara
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