sábado, 16 de setembro de 2017

Maioria de imigrantes venezuelanos é de jovens com boa escolaridade

Estudo realizado pelo Conselho Nacional de Imigração aponta perfil sociodemográfico e laboral e vai ajudar na formulação de políticas migratórias para imigrantes no Brasil
A maioria dos imigrantes venezuelanos que estão entrando no Brasil por Roraima é composta de jovens com bom nível escolar, segundo uma pesquisa do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), vinculado ao Ministério do Trabalho (MTb), com apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). O estudo analisa o perfil sociodemográfico e laboral dos imigrantes venezuelanos. “Esse é um trabalho muito importante para conhecermos os principais dados desses imigrantes e subsidiar as políticas migratórias, de acordo com as necessidades da imigração venezuelana no Brasil”, afirmou o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, após a divulgação da pesquisa, nesta terça-feira (12), na sede do MTb, em Brasília.
A metodologia foi preparada pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) e a execução ficou por conta da Cátedra Sérgio Vieira de Melo, da Universidade Federal de Roraima (CSVM/UFRR). Na primeira parte do estudo, foram aplicadas 650 entrevistas entre não indígenas, com 18 anos ou mais de idade, em 33 bairros do município de Boa Vista. Na outra parte, foi realizado um estudo etnográfico, nas cidades de Boa Vista e Pacaraima, com famílias e líderes dos Warao – etnia indígena oriunda, principalmente, da região do delta do Orinoco, na Venezuela.
Segundo o Presidente do CNIg, Hugo Gallo, “o Conselho Nacional de Imigração possui um papel fundamental na política migratória do Brasil e demonstra claramente com a presente pesquisa a importância de sua atuação, não só pelo desenvolvimento de estudos técnicos e especializados, mas principalmente pela capacidade de dialogo com a sociedade civil e pelo enfrentamento imediato dos fluxos migratórios, os quais são dinâmicos e ensejam uma atuação capaz de lidar a tempo com as dificuldades que muitas vezes são conhecidas ou apenas afloram com o fluxo”.
Segundo ele, “a pesquisa com os imigrantes não indígenas constatou forte potencial de inserção na sociedade e no mercado de trabalho brasileiro, devido às características etárias e educacionais”.
Apesar de se tratar de um mesmo fluxo migratório, o estudo revela que as políticas públicas para indígenas e não indígenas devem ser distintas, considerando as suas diferenças culturais, de necessidades e de perspectivas.
“Há uma maior necessidade de aprimorar as políticas migratórias para este segmento da população, com a ampliação e melhoria na qualidade do atendimento nas áreas de saúde, educação e assistência social, passando pela devida capacitação dos agentes públicos locais. Além disso, há a necessidade de fortalecer as atividades da sociedade civil já em andamento”, diz Gallo.
Veja os principais resultados da pesquisa:
NÃO INDÍGENAS
Perfil sociodemográfico
O levantamento mostra que 72% dos imigrantes venezuelanos são jovens entre 20 e 39 anos, a maioria do sexo masculino (63%) e solteiros (54%). Praticamente um em cada três (32%) tem curso superior completo ou pós-graduação, enquanto três em cada quatro (78%) chegam com nível médio completo.
O principal motivo para emigrar foi a crise econômica (77%) e a maioria dos entrevistados (67%) entrou no Brasil em 2017. Eles vêm de 24 regiões venezuelanas, mas principalmente dos estados de Bolívar (26%) e Monagas (16%) e de Caracas (15%).
Mais da metade (58%) deles teve apoio de redes migratórias, como amigos e familiares que já residem no Brasil, mas em geral os venezuelanos em Roraima têm pouco conhecimento do Português e muitos não estudam o idioma.
Trabalho e Moradia
A pesquisa revelou que pouco mais da metade dos venezuelanos já acessa serviços públicos em Roraima, principalmente na área da saúde (39%), mas quase a metade do total (48,4%) não utilizou nenhum serviço público.
Segundo o estudo, 82% do total pediram refúgio. Nesse caso, cerca de 1/3 dos migrantes tem apenas o protocolo de refúgio, 23% possuem carteira de trabalho, 29% têm CPF e 4% não possuem nenhum documento.
A maioria vive em moradia alugada (71%), compartilhando o imóvel com outras pessoas e pagando aluguel de até R$ 300 (56%).
A maioria dos venezuelanos já trabalha em alguma atividade remunerada (60%), com 28% formalmente empregados. Os principais ramos de atividade são o comércio (37%), serviço de alimentação (21%) e construção civil (13%). Mais da metade dos entrevistados (54,2%) informaram que enviam dinheiro (de R$ 100 a R$ 500) para cônjuge e filhos na Venezuela, para ajudar no sustento desses familiares.
Deslocamento no Brasil e perspectivas de retorno
Segundo a pesquisa, a maioria dos venezuelanos aceitaria mudar para outro estado, se tivesse apoio do governo federal (77%), mas o deslocamento no Brasil dependeria de oferta de trabalho (80%), ajuda econômica (11,2%) ou auxílio com moradia (5,2%). Já a proximidade da fronteira (38%) e o sentimento de integração em Boa Vista (37%) são os principais motivos para permanecer em Roraima.
Apenas 25% afirmaram que pretendem voltar à Venezuela. A maioria, por outro lado, disse que não pretende retornar tão cedo (47%) ou não sabe (27%). Entre os que pretendem voltar, a maioria estima um prazo superior a 2 anos (47%), mas só se houver melhoria das condições econômicas (61%) do país vizinho.
MIGRANTES WARAO
Presença no Brasil
A presença dos Warao em Boa Vista começou em 2014, mas a escolha pelo Brasil intensificou-se a partir de 2016.
Os indígenas Warao podem ser encontrados principalmente no Centro de Referência ao Imigrante (CRI) e nas ruas de Boa Vista e Pacaraima. No CRI, criado em novembro de 2016, são aproximadamente 500 Warao. Mas os registros apontam a circulação e residência dos Warao em Pacaraima, Boa Vista, Manaus, e mais recentemente em Belém.
No caso deles, o principal argumento para emigrar são a fome, ausência de serviços públicos relacionados a educação e saúde, e o descaso do governo venezuelano com os indígenas.
A maioria declarou ter deixado parte da família na Venezuela, cuidando dos bens materiais, para migrar acompanhados de outra parte da família, a fim de enviar recursos. Eles se disseram preocupados com os familiares que ficaram e querem trazê-los para o Brasil.
Serviços e trabalho
Os Warao têm acesso aos serviços de educação e saúde, quando chegam ao CRI. Casos mais graves relacionados à saúde são encaminhados para o hospital infantil, Hospital Geral de Roraima ou Casa do índio. Por outro lado, em Pacaraima e Boa Vista, os Warao em situação de rua ainda não têm assistência – o mesmo acontece com os Panare, em Boa Vista.
A maioria dos indígenas abrigados no CRI é do sexo masculino e não exerce atividades econômicas. Já as mulheres costumam continuar realizando o trabalho que faziam antes de migrar, como pedir doações em vias públicas, produzir artesanatos e costuras.
Em Pacaraima, os homens Warao conseguem trabalho no descarregamento de carretas ou em fazendas e sítios na região – neste caso, com a companhia das mulheres.
Perspectivas futuras
A pesquisa do CNIg constatou que os Warao pensam em retornar para a Venezuela quando a crise diminuir, mas também há os que querem trazer familiares para o Brasil. De um modo geral, o desejo é de continuar em Roraima, de preferência na cidade e com condições econômicas para o autossustento.
SEgs
www.miguelimigrante.blogspot.com

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