sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Migração tornou-se uma palavra feia, tóxica - Diretor-geral da OIM


O diretor-geral da Organização Internacional das Migrações (OIM), William Lacy Swing, considerou hoje que "a narrativa pública" sobre as migrações "neste momento é tóxica" e salientou que a entidade que dirige está a trabalhar para mudar essa realidade.

"A principal razão pela qual estou contente com a escolha do tema de hoje é que vamos mudar a narrativa pública sobre migrações - que neste momento é tóxica, é venenosa. Migração tornou-se uma palavra feia", disse o norte-americano William Swing, no decorrer da conferência de apresentação da Rede Parlamentar sobre Políticas da Diáspora, hoje no parlamento português.

Para o antigo embaixador dos EUA na África do Sul, é necessário que a comunidade internacional "comece a fazer uma leitura mais precisa da Migração".

"Esta leitura mais precisa é: as migrações sempre foram, historicamente, um fator positivo. Se todos os atuais migrantes de Nova Iorque decidissem sair amanhã e formar a sua própria cidade, seria a terceira maior dos Estados Unidos. Isso mostra que estão a fazer as suas contribuições", exemplificou o responsável.

A OIM, disse William Swing, está "a trabalhar para mudar essa narrativa, para proteger os migrantes e permitir-lhes fazer as contribuições que eles querem fazer".

"Estamos a trabalhar com os governos em várias formas de reduzir o custo social e financeiro das migrações", revelou o diretor-geral da OIM, referindo-se, especificamente, à redução dos custos das transferências de remessas para o país de origem.

"Temos de reduzir o custo das transferências de remessas para o país de origem. Em África este custo pode chegar a custar 15% do dinheiro arduamente ganho pelos migrantes. E só para o fazer chegar a casa", disse.

Estas remessas dos migrantes, disse o antigo embaixador, "ascendem a 600 mil milhões de dólares".
"Isto é o dobro de toda a ajuda internacional e quase tanto como todo o investimento direto estrangeiro", explicou William Swing, acrescentando que se trata de um recurso que os governos não estão a capitalizar.

"Eu diria que a diáspora é o mais negligenciado aspeto das políticas de imigração dos vários Governos", sintetizou.

Por outro lado, defendeu a integração dos migrantes "através de políticas" especialmente dedicadas à questão.

"Está muito claro que vamos falhar se nos países de destino não tivermos políticas de integração especialmente dedicadas à migração, para garantir uma rápida adaptação ao contexto e à nova área, à economia", disse o responsável da OIM.

Um falhanço nesta área, recordou, tem consequências para a segurança das sociedades.
"A maioria dos ataques terroristas recentes [nas sociedades ocidentais] - Paris, Nice, Bruxelas, Orlando (Florida) - são um produto local, são o resultado de uma integração falhada. Por isso temos de acordar e perceber que se marginalizarmos as pessoas elas não só não vão contribuir como podem virar-se para fazer coisas que nos são prejudiciais", alertou.

DN

www.miguelimigrante.blogspot.com

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