“La 72”,
administrado por Fray Tomás Gonzáles, localizado próximo da fronteira com a
Guatemala, é o primeiro abrigo no México a atender às necessidades das pessoas
refugiadas lésbicas, gays, trans e intersexo.
Um
abrigo diferenciado para migrantes e refugiados, perto da fronteira com a
Guatemala, ao sudeste do México, garante um lugar seguro e livre de
discriminação para as pessoas refugiadas LGBTI, forçadas a fugir da violência e
homofobia na América Central.
O albergue,
conhecido como La 72, é administrado pelo frei Tomás González Castillo, membro
da ordem religiosa cristã de franciscanos. Frei Tomás tem defendido os direitos
dos solicitantes de refúgio no México, inclusive de pessoas lésbicas, gays,
bissexuais, trans e intersexo, coletivamente conhecidos como LGBTI.
Todas as
noites, frei Tomás visita os residentes do abrigo antes que as luzes se
apaguem, dá as boas-vindas aos recém-chegados, anuncia os próximos eventos e
pede um minuto de silêncio àqueles que sofrem durante sua trajetória em busca
de segurança e liberdade. Numa das noites, disse: “Amanhã, o coletivo LGBTI
organizará uma festa para celebrar o orgulho e todos estão convidados”.
Desde que
frei Tomás fundou o abrigo em Tenosique, em 2011, o local garantiu a proteção e
a assistência humanitária de mais de 50 mil pessoas, forçadas a fugir da
violência, extorsão, recrutamento forçado e violações de direitos humanos em
Honduras, El Salvador e Guatemala.
Este foi o
primeiro albergue no México que começou a atender às necessidades das pessoas
refugiadas LGBTI. Outros albergues na Cidade do México e em Guadalajara também
abriram espaços seguros às pessoas LGBTI.
O albergue
acolhe até 250 pessoas por vez, incluindo mães solteiras, menores e um número
crescente de famílias. Em 2016, o lugar recebeu 43 pessoas refugiadas LGBTI,
das quais 13 solicitaram refúgio. Este ano, acolheu 20 refugiados LGBTI até 30
de junho.
Lilly*, 20
anos, é uma mulher trans de Honduras que chegou fisicamente desequilibrada,
descalça e cansada no albergue, depois de ter caminhado durante dois dias desde
a fronteira. Ela relembra sua primeira noite no albergue: “Pela primeira vez,
em muitos anos, dormi por várias horas. Foi como estar no céu”.
Seu
sofrimento começou há muito tempo, quando foi sequestrada na Guatemala. Durante
esse tempo, foi escrava sexual, apanhava e era violada constantemente pelos
traficantes. Finalmente, as autoridades guatemaltecas a retiraram de seu
cativeiro.
“Todas as
pessoas que acolhemos no albergue são vítimas de discriminação, mas as pessoas
da comunidade LGBTI são mais vulneráveis à intolerância e à homofobia”, diz
frei Tomás. “Elas passam por muito sofrimento”.
María*, uma
estudante que faz parte da equipe de voluntários mexicanos e estrangeiros que
ajudam a administrar o albergue disse: “A primeira regra que damos às pessoas
que chegam no albergue é que não se tolera a violência. Também somos muito
explícitos com o fato de que acolhemos homens, mulheres e adolescentes,
pertencentes à comunidade LGBTI”.
“A discriminação
é uma forma de violência. Qualquer tipo de discriminação contra pessoas LGBTI
não é permitida aqui”, diz María.
Scarlett*
é uma refugiada trans e, como muitas outras, carregava roupas de homens por
segurança, quando deixou seu país pela fronteira. Na festa de orgulho LGBTI,
usou um vestido branco e pintou uma bandeira arco-íris em suas bochechas. “Aqui
me sinto livre para ser eu mesma, me sinto como uma dama especial”, diz
Scarlett.
Com o apoio
do ACNUR, o albergue construiu dormitórios e desenvolveu um programa para
oferecer assistência e proteção às pessoas refugiadas LGBTI.
“La 72 não é
apenas um lugar para alimentar algumas pessoas, mas que se envolve no futuro
delas”, diz frei Tomás. “Tento fazer parte de suas vidas e motivá-las”. La 72 é
o único albergue no México que responde às necessidades das pessoas refugiadas
LGBTI.
“Quando
começamos a implementar a assistência aos refugiados em 2013, recebemos duas
mulheres trans”, diz frei Tomás. “Hoje em dia, 12 pessoas estão nas instalações
para LGBTIs”.
Mark Manly,
Representante do ACNUR no México, disse que aumentou o número de pessoas da
comunidade LGBTI que são forçadas a fugir da discriminação de gênero no Norte
da América Central.
“As pessoas
refugiadas LGBTI sofrem graves abusos e discriminação, além do trauma causado
pelo deslocamento, sendo importante proporcionar um lugar onde se sintam
seguras e possam iniciar o processo de integração”, diz Mark.
Quando os
refugiados chegam ao México, têm poucos pertences, mas carregam uma enorme
carga emocional devido à violência e ao medo que passaram em seus países de
origem durante sua trajetória. O primeiro passo para a recuperação é ter um
lugar seguro para ficarem.
Uma reunião
semanal, conduzida por um psicólogo, proporciona um espaço seguro para falar
sobre suas preocupações e também uma forma de relaxar. “Temos momentos
especiais aqui, simplesmente nos sentamos juntas, falamos e às vezes
compartilhamos um pedaço de chocolate”, diz Lilly. “É uma coisa pequena, mas
sou grata por esses momentos”.
Carlos*, 20
anos, homossexual que vive no abrigo desde novembro de 2016, diz que La 72 tem
sido um lugar de aprendizagem para ele: “Eles cuidaram de mim e aprendi a ter
confiança em mim mesmo”, diz Carlos.
Ele está
esperando a decisão sobre sua solicitação de refúgio e sonha em se mudar para a
Cidade do México para continuar com seus estudos. “Chegou a minha hora de
continuar em frente... para ser feliz”, diz Carlos.
Por Elisabet Diaz Sanmartin.
Onu
www.miguelimigrante.blogspot.com
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