segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Abrigo mexicano acolhe pessoas refugiadas LGBTI

“La 72”, administrado por Fray Tomás Gonzáles, localizado próximo da fronteira com a Guatemala, é o primeiro abrigo no México a atender às necessidades das pessoas refugiadas lésbicas, gays, trans e intersexo.


Um abrigo diferenciado para migrantes e refugiados, perto da fronteira com a Guatemala, ao sudeste do México, garante um lugar seguro e livre de discriminação para as pessoas refugiadas LGBTI, forçadas a fugir da violência e homofobia na América Central.
O albergue, conhecido como La 72, é administrado pelo frei Tomás González Castillo, membro da ordem religiosa cristã de franciscanos. Frei Tomás tem defendido os direitos dos solicitantes de refúgio no México, inclusive de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo, coletivamente conhecidos como LGBTI.
Todas as noites, frei Tomás visita os residentes do abrigo antes que as luzes se apaguem, dá as boas-vindas aos recém-chegados, anuncia os próximos eventos e pede um minuto de silêncio àqueles que sofrem durante sua trajetória em busca de segurança e liberdade. Numa das noites, disse: “Amanhã, o coletivo LGBTI organizará uma festa para celebrar o orgulho e todos estão convidados”.
Desde que frei Tomás fundou o abrigo em Tenosique, em 2011, o local garantiu a proteção e a assistência humanitária de mais de 50 mil pessoas, forçadas a fugir da violência, extorsão, recrutamento forçado e violações de direitos humanos em Honduras, El Salvador e Guatemala.
Este foi o primeiro albergue no México que começou a atender às necessidades das pessoas refugiadas LGBTI. Outros albergues na Cidade do México e em Guadalajara também abriram espaços seguros às pessoas LGBTI.
O albergue acolhe até 250 pessoas por vez, incluindo mães solteiras, menores e um número crescente de famílias. Em 2016, o lugar recebeu 43 pessoas refugiadas LGBTI, das quais 13 solicitaram refúgio. Este ano, acolheu 20 refugiados LGBTI até 30 de junho.
Lilly*, 20 anos, é uma mulher trans de Honduras que chegou fisicamente desequilibrada, descalça e cansada no albergue, depois de ter caminhado durante dois dias desde a fronteira. Ela relembra sua primeira noite no albergue: “Pela primeira vez, em muitos anos, dormi por várias horas. Foi como estar no céu”.
Seu sofrimento começou há muito tempo, quando foi sequestrada na Guatemala. Durante esse tempo, foi escrava sexual, apanhava e era violada constantemente pelos traficantes. Finalmente, as autoridades guatemaltecas a retiraram de seu cativeiro.
“Todas as pessoas que acolhemos no albergue são vítimas de discriminação, mas as pessoas da comunidade LGBTI são mais vulneráveis à intolerância e à homofobia”, diz frei Tomás. “Elas passam por muito sofrimento”.
María*, uma estudante que faz parte da equipe de voluntários mexicanos e estrangeiros que ajudam a administrar o albergue disse: “A primeira regra que damos às pessoas que chegam no albergue é que não se tolera a violência. Também somos muito explícitos com o fato de que acolhemos homens, mulheres e adolescentes, pertencentes à comunidade LGBTI”.
“A discriminação é uma forma de violência. Qualquer tipo de discriminação contra pessoas LGBTI não é permitida aqui”, diz María. 
Scarlett* é uma refugiada trans e, como muitas outras, carregava roupas de homens por segurança, quando deixou seu país pela fronteira. Na festa de orgulho LGBTI, usou um vestido branco e pintou uma bandeira arco-íris em suas bochechas. “Aqui me sinto livre para ser eu mesma, me sinto como uma dama especial”, diz Scarlett.
Com o apoio do ACNUR, o albergue construiu dormitórios e desenvolveu um programa para oferecer assistência e proteção às pessoas refugiadas LGBTI.
“La 72 não é apenas um lugar para alimentar algumas pessoas, mas que se envolve no futuro delas”, diz frei Tomás. “Tento fazer parte de suas vidas e motivá-las”. La 72 é o único albergue no México que responde às necessidades das pessoas refugiadas LGBTI.
“Quando começamos a implementar a assistência aos refugiados em 2013, recebemos duas mulheres trans”, diz frei Tomás. “Hoje em dia, 12 pessoas estão nas instalações para LGBTIs”.
Mark Manly, Representante do ACNUR no México, disse que aumentou o número de pessoas da comunidade LGBTI que são forçadas a fugir da discriminação de gênero no Norte da América Central.
“As pessoas refugiadas LGBTI sofrem graves abusos e discriminação, além do trauma causado pelo deslocamento, sendo importante proporcionar um lugar onde se sintam seguras e possam iniciar o processo de integração”, diz Mark.
Quando os refugiados chegam ao México, têm poucos pertences, mas carregam uma enorme carga emocional devido à violência e ao medo que passaram em seus países de origem durante sua trajetória. O primeiro passo para a recuperação é ter um lugar seguro para ficarem.
Uma reunião semanal, conduzida por um psicólogo, proporciona um espaço seguro para falar sobre suas preocupações e também uma forma de relaxar. “Temos momentos especiais aqui, simplesmente nos sentamos juntas, falamos e às vezes compartilhamos um pedaço de chocolate”, diz Lilly. “É uma coisa pequena, mas sou grata por esses momentos”.
Carlos*, 20 anos, homossexual que vive no abrigo desde novembro de 2016, diz que La 72 tem sido um lugar de aprendizagem para ele: “Eles cuidaram de mim e aprendi a ter confiança em mim mesmo”, diz Carlos.
Ele está esperando a decisão sobre sua solicitação de refúgio e sonha em se mudar para a Cidade do México para continuar com seus estudos. “Chegou a minha hora de continuar em frente... para ser feliz”, diz Carlos.

Por Elisabet Diaz Sanmartin.

Onu

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