terça-feira, 5 de julho de 2016

Êxodos: mostra sobre luta dos imigrantes, de Sebastião Salgado, chega a Salvador

O fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, 72 anos, precisou  deixar o Brasil na década de 1960. Militante da esquerda, viu-se perseguido pelo regime militar e foi obrigado a ir para a França. Já formado em economia no Brasil, teve que trabalhar descarregando caminhões numa cooperativa de estudantes. A esposa, Lélia, atuava como balconista.
Sensível às dificuldades por que passam os imigrantes, afinal ele as havia sentido na pele, Sebastião documentou, durante seis anos, em 40 países, a vida de pessoas que, como ele, tiveram que  abandonar sua pátria. O resultado daqueles registros rendeu a exposição Êxodos, que chega a Salvador quarta-feira. A coleção de 60 imagens permanecerá na Caixa Cultural, na Rua Carlos Gomes, no Centro, até 21 de agosto, com visitação  gratuita.
Outra parte da mostra, Refugiados e Migrados, revela pessoas obrigadas a deixar sua nação por causa de guerras, como essas mulheres de Kosovo, na fronteira com a Albânia (Foto: Sebastião Salgado/ Amazonas Images)
As fotos já haviam sido reunidas num livro homônimo à mostra, que foi lançado pela Companhia das Letras em 2000 e hoje está esgotado. Um exemplar usado de Êxodos na internet não é encontrado por menos de R$ 550. A depender da conservação do livro, pode superar os R$ 3 mil.
Sebastião observa que o movimento migratório, na maioria das vezes, é realizado contra a vontade do próprio  migrante. “É uma história perturbadora, pois poucas pessoas abandonam a terra natal por vontade própria. Algumas sabem para onde estão indo, confiantes de que as espera uma vida melhor. Outras estão simplesmente em fuga, aliviadas por estarem vivas. Muitas não conseguirão chegar a lugar nenhum”.
Aqueles que se recusaram a abandonar suas moradias também merecem destaque, na seção Luta Pela Terra (Foto: Sebastião Salgado/ Amazonas Images)
As imagens que chegam a Salvador mostram, no olhar dos fotografados, as marcas que a migração deixa nessas pessoas. Os motivos pelos quais elas abandonam sua nação são diversos, mas a guerra é um dos mais frequentes. Há, por exemplo, mulheres que saíram de Kosovo e partiram em direção à Albânia. Essas imagens estão na seção Refugiados e Migrados.
Crianças
As crianças também protagonizam alguns dos registros mais emocionantes, em uma parte da mostra dedicada a elas. “Em toda situação de crise, as crianças são as maiores vítimas. São sempre as primeiras a sucumbir à fome ou à doença. Emocionalmente vulneráveis, não têm condições de compreender por que são expulsas de suas casas”, anota. Os pequenos migrantes estão na seção Retratos de Crianças.
Crianças em um orfanato no Zaire, em 1994. Essa fotografia está na seção África da exposição, que mostra também nações como Moçambique, Angola e Sudão (Foto: Sebastião Salgado/ Amazonas Images)
Além das duas seções citadas, há ainda outras três. A primeira, chamada  África, é dedicada a países como Moçambique, Angola e Sudão. Uma outra parte, Luta Pela Terra, retrata pessoas que se recusaram a desistir e permaneceram em seu lugar de origem, como índios da região amazônica. Finalmente, há a seção Megacidades, que mostra grandes centros urbanos como Xangai e Jacarta, que recebem muitos imigrantes.
Fazenda do fotógrafo abriga Instituto TerraAtento a questões ambientais e preocupado com o futuro do planeta, Sebastião Salgado fundou, em 1998, junto com a mulher, Lélia, o Instituto Terra. A organização civil sem fins lucrativos funciona em Aimorés (MG), na Fazenda Bulcão, que já pertenceu à família do fotógrafo. A área, que originalmente era repleta de vegetação, foi devastada no século passado para dar lugar a pastos, onde a família criava gados. 
“Houve um período no Brasil em que  investia-se muito em gado e no extrativismo. Isso provocou grande parte do desmatamento”, diz Isabella Salton, diretora executiva do Instituto Terra. Dos 711 hectares que a fazenda tem, 610 foram transformados em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
À esquerda, a Fazenda Bulcão antes da intervenção do Instituto Terra; à direita, a propriedade revitalizada  (Foto: Sebastião Salgado/ Amazonas Images)
“Neste caso, o proprietário assume o compromisso de conservação da natureza. Ele tem a posse da terra, mas o uso dela é restrito a atividades ecológicas, que podem ser de educação, pesquisa ou ecoturismo. E não pode haver nenhum tipo de extrativismo”, observa Isabella. 
Desde que foi fundado, o Instituto já produziu mais de 5 milhões de mudas nativas. Parte dessas mudas foi plantada na fazenda e outra parte, fora dela. Segundo Isabella, mais de 1,5 mil hectares foram recuperados fora da fazenda e mais de 85% da propriedade foi reestabelecida com flora característica da Mata Atlântica.
O reestabelecimento da vegetação atraiu espécies animais que estavam afastadas dali. De acordo com o Instituto, foram identificadas na Fazenda Bulcão 172 espécies de aves, das quais seis estão ameaçadas de extinção, como o papagaio de peito roxo e o pica pau rei. Também foram catalogadas 33 espécies de mamíferos, inclusive algumas extintas, como o sauá e a suçuarana.
O Instituto Terra é mantido por parceiros da iniciativa privada, além de doações de pessoas físicas. Os dados para doação estão no site www. institutoterra.org.
Roberto Midlej
Diario Correio
www.miguelimigrante.blogspot.com

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