sábado, 23 de julho de 2022

Pandemia agrava pobreza e desigualdade no Brasil e gera desafios para mais vulneráveis

 Relatório “Pobreza e Equidade no Brasil – Mirando o Futuro Após Duas Crises”, do Banco Mundial, analisa situação da população brasileira após a Covid-19; país é o terceiro mais afetado pelo vírus no mundo.


A Covid-19 causou graves estragos no Brasil e em sua economia. Com mais de 33 milhões de casos diagnosticados, o país tem sido o país mais afetado na América Latina e o terceiro em todo o mundo. 

No início da pandemia, aproximadamente 30% dos brasileiros eram pobres e 8% da população vivia na extrema pobreza. 

Dados comparáveis

Neste novo relatório, o Banco Mundial mostra que esses percentuais não mudaram muito desde 2012, 33% e 7,4%, respectivamente, o primeiro ano para o qual há dados comparáveis. 

Especialistas do Banco Mundial lembram que o Brasil não tem uma linha oficial de pobreza. De acordo com a definição utilizada no relatório, estão abaixo da linha de pobreza pessoas com renda per capita inferior a R$ 499 por mês.

Favela no Rio de Janeiro, Brasil
Unicef/Giacomo Pirozzi
Favela no Rio de Janeiro, Brasil

 

Tendo diminuído substancialmente em 2020, as taxas de pobreza aumentaram, acentuadamente, assim que a assistência do governo minguou, tornando evidente a dependência das famílias brasileiras do suporte do Estado diante de más condições no mercado de trabalho.

No entanto, estima-se que essas taxas tenham sido inferiores em pouco mais de um ponto percentual em 2021 em relação a 2019. O programa Auxílio Emergencial, iniciado em 2020 pelo governo federal para enfrentar a Covid, ajudou a conter o aumento da pobreza naquele ano, informa o relatório.

Tecnologia e capital humano

O baixo acesso à tecnologia e ao capital humano tornou mais difícil para os mais pobres sua adaptação ao mercado de trabalho durante a pandemia. É o que explica Gabriel Lara Ibarra, economista sênior do Grupo de Pobreza e Equidade do Banco Mundial, responsável pelo relatório.

“Segundo o relatório, os pobres e vulneráveis do Brasil sentiram mais duramente as consequências econômicas negativas da pandemia. A deterioração do mercado de trabalho diminuiu a renda domiciliar do trabalho, com os 40% mais vulneráveis da população sendo os mais atingidos. O baixo acesso à tecnologia e ao capital humano é comum entre os pobres, limitando sua capacidade de adaptação ao ambiente de trabalho ocasionado pela Covid-19.

A participação das mulheres na força de trabalho diminuiu significativamente mais do que para os homens, em grande parte devido aos papéis sociais tradicionais de gênero que aumentaram o trabalho doméstico não remunerado das mulheres e os encargos educacionais infantis durante os bloqueios escolares. Entre os jovens, aqueles de baixa escolaridade, os afro-brasileiros e os residentes nas regiões Norte e Nordeste tiveram maior probabilidade de perder seus empregos como resultado da pandemia”.

Norte e nordeste do Brasil

A pandemia gerou um alto custo para a acumulação de capital humano a longo prazo e ampliou a lacuna de desigualdade. Em novembro de 2020, 27,8% das crianças das regiões Norte e Nordeste, as mais pobres do país, não estavam matriculadas ou não tinham acesso às atividades escolares. 

Brasil tem sido o país mais afetado pela pandemia na América Latina e o terceiro em todo o mundo
Aldeias de Crianças SOS Colômbia
Brasil tem sido o país mais afetado pela pandemia na América Latina e o terceiro em todo o mundo

 

O acesso também foi menor para as crianças que vivem em áreas rurais. Em meados de 2021, o envolvimento em atividades escolares ainda era afetado de forma desigual pela pandemia.

Os dados mostram que apenas metade das crianças que viviam em um domicílio entre os 20% mais pobres da população estava envolvida (presencialmente ou virtualmente) em atividades escolares durante toda a semana, enquanto esse era o caso de três em cada quatro crianças nas famílias mais ricas.

Problemas históricos

O relatório mostra que, apesar do progresso realizado nas décadas anteriores, as profundas divisões socioeconômicas no país são problemas históricos.

Entre 2001 e 2012, o PIB do Brasil cresceu a uma taxa média anual de 2,6% em termos reais, e a diferença de desigualdade de renda diminuiu significativamente à medida que o Brasil experimentou uma redução significativa de 16 pontos percentuais na pobreza geral.

Ainda assim, as disparidades na população brasileira permanecem: quase três em cada 10 pobres são mulheres afro-brasileiras que vivem em áreas urbanas, enquanto três quartos de todas as crianças que residem em áreas rurais são pobres.
Impactos diretos

O documento aponta que é necessária uma visão ampla e renovada para dar aos grupos populacionais mais vulneráveis uma vida decente no futuro. 

Rua Augusta, em Bela Vista, na cidade de São Paulo
Rovena Rosa/Agência Brasil
Rua Augusta, em Bela Vista, na cidade de São Paulo

No curto prazo, as prioridades políticas devem se concentrar na proteção dessas populações contra a erosão (ou esgotamento) dos ativos. As políticas devem abordar os impactos diretos da pandemia: proteger o capital humano das crianças e ajudar os indivíduos a voltar ao trabalho.

No longo prazo, esforços devem ser feitos para construir e promover a acumulação de ativos para a base mais ampla possível. Investimentos em capital humano são necessários para aumentar a produtividade da força de trabalho – presente e futura. 

Deve haver um forte impulso para apoiar a transformação econômica estrutural que está ocorrendo no Brasil. Além disso, investimentos em infraestrutura e acesso a ativos produtivos são necessários para melhor conectar e proteger as populações vulneráveis para que o Brasil possa se orientar para um crescimento inclusivo e resiliente.

*Do Banco Mundial, em Brasília, Sidrônio Henrique.

Onunews

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