segunda-feira, 19 de julho de 2021

Em Dourados, migrantes enfrentam violações de direito, diz relatório da OAB

 


Um relatório elaborado pela Comissão de Direitos Humanos da OAB de Dourados aponta que direitos básicos como acesso à educação, saúde, documentação e emprego estão sendo de difícil acesso para os migrantes e refugiados do município, formado em sua maioria por haitianos e venezuelanos. Os dados do documento apontam violação de direitos e para garantir a efetivação dos mesmos a Ordem dos Advogados do Brasil 4ª Subseção oficiou diversos órgãos municipais e estaduais. Além disso, a Comissão está realizando atendimentos com orientações jurídicas e encaminhamentos gratuitos.

Em entrevista ao Jornal O PROGRESSO, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Tiago Botelho, que também é coordenador do curso de Direito da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), disse que é chegado o tempo de dar maior atenção aos migrantes e refugiados que se encontram em Dourados.

Tiago Botelho, presidente da Comissão de Direitos HumanosTiago Botelho, presidente da Comissão de Direitos Humanos

"É inaceitável que direitos básicos como acesso à educação, saúde, documentos e emprego continuem sendo tão difíceis. O relatório construído pela Comissão busca pontuar exatamente violações de Direitos que podem ser evitadas pelo município de Dourados e pelo estado de Mato Grosso do Sul. Oficiamos inúmeros órgãos públicos e esperamos que os mesmos passem a dar maior atenção aos Direitos Humanos dos migrantes e refugiados. É inaceitável que vidas continuem sendo tão mal tratadas no nosso estado e município", destacou Tiago.

A advogada e professora universitária Juliana Tomiko Ribeiro Aizawa, que participou da elaboração do documento, afirma que os desafios para os haitianos e venezuelanos são inúmeros. "Os desafios são inúmeros, principalmente com a atual política migratória brasileira, que não é integrativa e fomenta a repulsa de pessoas que permanente são exploradas e alocadas a vulnerabilidades ainda maiores. Por esta razão, iniciativas como a orientação jurídica de forma integrativa e cooperativa entre instituições, possibilita à acolhida, o despertar de habilidades e pelo próprio trabalho, quando oportunizado à essas pessoas, reafirmam a esperança de um recomeço humano e digno", frisou.

O documento aponta que uma das grandes dificuldades é o atendimento médico, pois devido ao idioma, eles não conseguem comunicar-se com precisão. Além disso, enfrentam problemas em abrirem conta em bancos, alugar imóveis para residência, solicitarem o ligamento de água e luz. Isso porque, a solicitação de visto e refúgio é declarada por um protocolo (um ‘papel’), emitido na Polícia Federal, com o timbre oficial e matrícula do servidor, por vezes desconhecido pelos setores, sendo necessário uma autodeclaração sobre o protocolo para reafirmar que o ‘papel’ é um documento oficial.

O presidente da OAB de Dourados, Alexandre Mantovani, destacou a importância do trabalho da Comissão. "Sempre digo que além de sermos uma instituição classista em defesa da advocacia, somos atuantes na sociedade civil e dialogamos com diversos segmentos. A ação da Comissão de Direitos Humanos contra a violação de direitos e em favor daqueles que estão em situação de vulnerabilidade reforçam esse nosso posicionamento de uma Ordem atuante", destacou.

Acolhida

A orientação jurídica à população migrante e refugiada fomentada pela OAB em parceria com espaço cedido pelo Frei Silvio e Irmã Gema na Igreja São José Operário é uma ferramenta de acolhida que viabiliza a integração social dessas pessoas. Sendo que, as necessidades mais recorrentes diagnosticadas nos atendimentos são: idioma, burocracia e inserção laboral.

Juliana citou que o idioma por vezes torna mais vulnerável as vulnerabilidades sofridas, isso porque o ato de emitir e receber a mensagem, nem sempre a compreensão é em sua essência. "Em um dos atendimentos jurídicos o migrante de etnia haitiana buscava informações sobre um curso de idiomas, no panfleto estava escrito "material e matrícula gratuito" e ele entendeu que o curso era gratuito, ao fazer a matrícula soube que teria que pagar o curso, mas não tinha condições de arcar com as mensalidades, pois além de prover o próprio sustento as remessas (valores) mensais aos familiares no país de origem são uma realidade desse perfil migratório", contou ela.

Outra situação recorrente é a busca por informações sobre a renovação de documentos como - passaporte, vistos, solicitação de refúgio; portarias do Ministério da Segurança Pública e Justiça; nacionalização e por vezes a ânsia em ratificar informações distorcidas recebidas como: "se pagarem determinada importância conseguirão autorização de residência".

ção de residência". "A desídia de estelionatários a esse perfil de vulneráveis é uma dura realidade e em situações como esta, em que a orientação jurídica chega de forma tempestiva, é possível tratar de forma acertada e evitar a superexploração de pessoas que não compreendem bem a nossa língua, muito menos conhecem a legislação brasileira", explicou Juliana.

Por: Cristina Nunes

.douradosagora.com.br

www.mioguelimigrante.blogspot.com

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