A maioria dos ingleses sente que há
demasiados imigrantes no seu país e que isso aumenta o desemprego e prejudica
serviços sociais como a saúde e a educação. Não é justo, nem verdadeiro, mas é
assim.
Após as eleições locais,
o referendo sobre a União Europeia vai dominar a política britânica. A
capacidade para definir a agenda da campanha será decisiva. O campo que defende
a saída, o “Leave”, pretende concentrar-se antes de mais na questão da imigração.
Acredita, e com razão, que se a maioria dos britânicos for votar para travar a
imigração, o não à Europa ganhará. Não é a “Londres cosmopolita” que rejeita os
imigrantes. É o resto do país. A maioria dos ingleses sente que há demasiados
imigrantes no seu país e que isso aumenta o desemprego entre os locais e
prejudica serviços sociais básicos como a saúde e a educação. Não é justo, nem
verdadeiro, mas é a percepção dominante entre os ingleses.
Do outro lado, o campo
que pretende manter o Reino Unido na União Europeia, o “Remain”, insiste que a
economia é o tema central da relação entre Londres e Bruxelas. Beneficia do
momento positivo da economia britânica, com crescimento consistente e
desemprego baixo. O “Remain” recorre ao medo pelo desconhecido e à incerteza,
que decorreria do abandono da UE, para convencer os britânicos a votarem pela
Europa. Até ao momento, o campo do Sim tem sido mais eficaz, e a economia tem
sido a questão central da campanha. Se a crise dos refugiados na Europa não se
agravar, ou se não acontecer um acontecimento dramático (no pior dos cenários,
um ataque terrorista em Londres), a economia deverá continuar a dominar a
campanha, o que beneficiará o sim à Europa.
Além disso, o campo do
Não enfrenta um problema que ainda não resolveu. Para responder às incertezas
sobre um futuro fora da UE, evoca os casos da Suíça ou da Noruega, e defende a
manutenção do acesso do Reino Unido ao mercado único. No entanto, o acesso
pleno ao mercado europeu não resolve o problema da imigração. O Reino Unido
seria obrigado a aceitar o princípio da liberdade de circulação das pessoas.
Como dizem os ingleses, é impossível ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo.
A taxa de participação
no referendo será o outro factor decisivo. Aqui, o campo do Não pode ter vantagem.
De acordo com a maioria dos estudos de opinião, os reformados e os mais velhos
são maioritariamente a favor da saída. Pelo contrário, os mais jovens querem
ficar na Europa. Mas os estudos também dizem que a taxa de abstenção é bem
maior entre os jovens. Uma das prioridades do campo do Sim é convencer os
jovens a votar. O Não espera que eles não votem.
Há ainda um segundo
problema para o “Remain”: a mobilização do eleitorado trabalhista. O líder do
campo do Sim é o PM, o líder dos Conservadores, David Cameron. Se os britânicos
votarem a favor da Europa, ele será o político mais beneficiado. Não vale a
pena ter qualquer ilusão sobre isso. Legitimamente, muitos trabalhistas
interrogam-se: por que razão irão contribuir para uma vitória política de
Cameron? Como ouvi a um trabalhista fanático (e há muitos): “not with my vote.”
O resultado das eleições
locais na Escócia irá aumentar a relutância dos trabalhistas para “votarem em
Cameron.” O partido trabalhista está convencido que a sua queda acentuou-se com
o facto de terem feito campanha ao lado dos conservadores para a Escócia ficar
no Reino Unido. E agora, foram relegados para o lugar de terceiro partido,
atrás dos Tories, impensável há alguns anos.
Não admira que Cameron e
os seus assessores no Nº 10 estejam a fazer todos os esforços para convencer
figuras importantes dos trabalhistas para participarem activamente na campanha
a favor da Europa. O actual líder, Jeremy Corbyn, já começou a fazer campanha
pelo Sim, mas muitos duvidam do seu empenho (no referendo de 1975, votou contra
a Europa). Mas Cameron e os seus aliados querem convencer sobretudo Gordon
Brown, os irmãos Miliband e outras figuras maiores, sobretudo líderes
sindicais, capazes de mobilizar o eleitorado trabalhista.
O campo do Sim acredita
que se a taxa de participação for de cerca de 60%, o voto a favor da Europa
ganhará. O problema é que o líder do partido conservador precisa do eleitorado
trabalhista para ganhar. O seu eleitorado natural é insuficiente.
Observador
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