“Uma boa parte deles diz que emigrou do
Haiti para melhorar a sua condição de vida. A maioria diz que emigrou para
buscar trabalho. E é o trabalho que dá respostas a outras questões como
moradia, saúde, estudos, casamentos”, etc. Foi o que observou o Pe. Gelmino
Costa logo na abertura do “2º Diálogos no CEM”, que teve como tema central
“Memória da imigração haitiana em Manaus, no período 2010-2014”, e foi
realizado em 17 de maio, na Missão Paz, São Paulo.
Pe.
Gelmino Costa falou também sobre aspectos marcantes da imigração haitiana em
Manaus-AM, como a total falta de sensibilidade e de apoio do poder público para
a acolhida emergencial e orientação aos imigrantes que chegavam ávidos para
recomeçar suas vidas, mas sem saber por onde e como começar, já que não
compreendiam a língua portuguesa e portavam apenas um protocolo para acesso a
um documento. Se o poder público amazonense praticamente se omitiu ou preferiu
não enxergar humanitária aquela realidade, por outro lado, foram marcantes e
significativas as respostas de solidariedade, criatividade e arranjos da
sociedade civil, mediados a partir da Paróquia São Geraldo, que possibilitaram
a acolhida emergencial, coletas de alimentos, locação de imóveis para
residência, cuidados com a saúde, apoio para documentação e inserção dos
imigrantes no mercado de trabalho que, logo transpôs as fronteiras regionais
alcançando as Regiões Sudeste, Centro Oeste e, principalmente, a Região Sul do
Brasil.
Manaus,
entreposto para outros sonhos. De acordo com o Pe. Gelmino, as ações junto aos
imigrantes não foram fáceis, pois muitos deles apenas passavam por Manaus e
logo buscavam outros destinos como a Guiana Francesa e, de lá, realizar o sonho
de chegar a França. Ainda outros haitianos eram contratados para trabalhar em
Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, etc. Ou seja, Manaus era
uma cidade de trânsito para boa parte deles em sua trajetória migratória.
Temas
ligados à cultura e interculturalidade, trabalho, mediações com o poder
público, religiosidade e vivência da fé foram abordados. O público participante
(cerca de 50 pessoas) interagiu com perguntas e comentários que instigaram o
Pe. Gelmino a ampliar e aprofundar questões como interculturalidade e mediações
com o poder público em vista de políticas para os imigrantes. Dentre o público
presente havia professores, pesquisadores, religiosos, estudantes, imigrantes
bolivianos, argentinos, haitianos, norte-americanos, angolanos, brasileiros dos
diversos estados federados.
Um
desafio político e social é superar o tratamento estatístico e economicista da
migração. Os imigrantes não são apenas número. Eles têm culturas, vivências,
saberes, alma. Adentrar o mais profundo das expressões culturais e buscar
compreender a realidade dos migrantes para ajuda-los concretamente no
reconhecimento e respeito aos seus valores como trabalho e dignidade humana.
Este foi o teor das considerações de Pe. Gelmino Costa ao final do evento.
O
3º “Diálogos no CEM” está agendado para o dia 24 de junho/2016 e contará com as
exposições de Ir. Ines Faccioli, mscs e Roberval Freire que, há décadas,
desenvolvem trabalhos com os migrantes nacionais e internacionais, no âmbito da
Pastoral do Migrante, tendo em vista o seu protagonismo e organização em
grupos, associações, comunidades ou expressão artística e cultural.
José
Carlos Pereira
Centro
de Estudos MigratóriosPe
Pe. Gelmino Costa durante o 2º Diálogwww.miguelimigrante.blogspot.com
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