quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Mais da metade das brasileiras já sofreram algum tipo de violência política, segundo pesquisa

 

Na CPI da Covid, as tentativas de silenciar as mulheres mostraram uma das faces da violência política - Jefferson Rudy/Agência Senado

Mais da metade da população feminina brasileira (51%) já sofreram algum tipo de violência como eleitoras, candidatas ou no exercício de um mandato, segundo a pesquisa Políticas de Saia, do Instituto Justiça de Saias, divulgada nesta quinta-feira (25), no Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher. 

Das entrevistadas pelo instituto, 50,3% relataram xingamentos; 35,9%, exclusão, expulsão ou restrição a espaço político; 21,6%, ameaças; 18%, ataques sexuais; 16,8%, alvo de notícias falsas; 6%, agressão física; e 7,4%, invasão nas redes sociais. 

Durante a coletiva de imprensa, Luciana Terra, advogada e coordenadora do Políticas de Saia, destacou como uma tentativa de silenciamento na política o episódio da CPI da Pandemia no qual o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, chamou a senadora Simone Tebet (MDB-MS) de “descontrolada”.

Como consequência dessas violências, as mulheres relataram danos materiais, prejuízos financeiros e morais, perda de emprego, cortes no salários, bens destruídos e questões de saúde mental, como ansiedade e depressão.

Algumas, devido à perseguição nas redes sociais, também relataram que tiveram que excluir suas contas no ambiente virtual. Por não confiarem no Poder Judiciário, não saber onde e como denunciar ou por medo, no entanto, apenas 9,4% denunciaram os agressores.

A pesquisa foi realizada entre 8 de outubro e 22 de novembro, no formato online, com 1.194 entrevistadas. A maior parte delas é do estado de São Paulo (572 respostas, 48,3%), seguido por Minas Gerais (111, 9,4%), Rio de Janeiro (102, 8,6% ), Paraná (63, 5,3%) e Rio Grande do Sul (55, 46%). A maioria tem ensino superior completo (73,7%), filhos (60,5%) e, em  média, 42,3 anos.

Representatividade

O levantamento também mostrou que 89% das entrevistadas não se sentem representadas por homens na política, 95,4% acreditam que há uma subrepresentação feminina e 96,7% afirmam que a presença de mulheres na política traz impactos positivos no desenvolvimento de políticas públicas em prol da população feminina. Nesse sentido, a maioria (53,1%) apoia e entende que a política é um espaço para as mulheres (93,3%).

“Não podemos nos ater a retórica de que as mulheres não se  interessam por política, os dados dizem o contrário, 62% exercem algum tipo de liderança, almejam uma transformação social, são líderes comunitárias, são empresárias, são professoras, são cidadãs com  anseio de mudança e justiça de ponta a ponta do Brasil”, afirma a promotora Gabriela Manssur, presidente do Instituto Justiça de Saias. 

Segundo dados da União Interparlamentar (UIP), o Brasil está na 142° colocação do ranking de participação de mulheres na política nacional, dentre 192 países.

Na Câmara dos Deputados, dos 513 parlamentares, apenas 77 são mulheres: apenas 15% diante de 52% que a população feminina representa no país. No Senado, dos 81 parlamentares, 12 são mulheres.

“Nós precisamos mostrar para a sociedade brasileira a importância e o impacto positivo das mulheres nesses espaços. Nós temos esse espaço, esse lugar e essa legitimidade. O que me incomoda são os homens definindo os direitos das mulheres. Nós precisamos ter isso de forma democrática, coletiva”, afirmou Mansur, durante a coletiva de imprensa. 

Para Mansur, infelizmente, os resultados já eram esperados, mas a compilação desses dados, em suas palavras, são importantes para poder pleitear os direitos das mulheres na política.

Edição: Vivian Virissimo

Brasil de Fato 

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