Na CPI da Covid, as tentativas de silenciar as mulheres mostraram uma das faces da violência política - Jefferson Rudy/Agência Senado
Mais da metade da população feminina brasileira (51%) já sofreram algum tipo de violência como eleitoras, candidatas ou no exercício de um mandato, segundo a pesquisa Políticas de Saia, do Instituto Justiça de Saias, divulgada nesta quinta-feira (25), no Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher.
Das entrevistadas pelo instituto, 50,3% relataram xingamentos; 35,9%, exclusão, expulsão ou restrição a espaço político; 21,6%, ameaças; 18%, ataques sexuais; 16,8%, alvo de notícias falsas; 6%, agressão física; e 7,4%, invasão nas redes sociais.
Durante a coletiva de imprensa, Luciana Terra, advogada e coordenadora do Políticas de Saia, destacou como uma tentativa de silenciamento na política o episódio da CPI da Pandemia no qual o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, chamou a senadora Simone Tebet (MDB-MS) de “descontrolada”.
Como consequência dessas violências, as mulheres relataram danos materiais, prejuízos financeiros e morais, perda de emprego, cortes no salários, bens destruídos e questões de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Algumas, devido à perseguição nas redes sociais, também relataram que tiveram que excluir suas contas no ambiente virtual. Por não confiarem no Poder Judiciário, não saber onde e como denunciar ou por medo, no entanto, apenas 9,4% denunciaram os agressores.
A pesquisa foi realizada entre 8 de outubro e 22 de novembro, no formato online, com 1.194 entrevistadas. A maior parte delas é do estado de São Paulo (572 respostas, 48,3%), seguido por Minas Gerais (111, 9,4%), Rio de Janeiro (102, 8,6% ), Paraná (63, 5,3%) e Rio Grande do Sul (55, 46%). A maioria tem ensino superior completo (73,7%), filhos (60,5%) e, em média, 42,3 anos.
Representatividade
O levantamento também mostrou que 89% das entrevistadas não se sentem representadas por homens na política, 95,4% acreditam que há uma subrepresentação feminina e 96,7% afirmam que a presença de mulheres na política traz impactos positivos no desenvolvimento de políticas públicas em prol da população feminina. Nesse sentido, a maioria (53,1%) apoia e entende que a política é um espaço para as mulheres (93,3%).
“Não podemos nos ater a retórica de que as mulheres não se interessam por política, os dados dizem o contrário, 62% exercem algum tipo de liderança, almejam uma transformação social, são líderes comunitárias, são empresárias, são professoras, são cidadãs com anseio de mudança e justiça de ponta a ponta do Brasil”, afirma a promotora Gabriela Manssur, presidente do Instituto Justiça de Saias.
Segundo dados da União Interparlamentar (UIP), o Brasil está na 142° colocação do ranking de participação de mulheres na política nacional, dentre 192 países.
Na Câmara dos Deputados, dos 513 parlamentares, apenas 77 são mulheres: apenas 15% diante de 52% que a população feminina representa no país. No Senado, dos 81 parlamentares, 12 são mulheres.
“Nós precisamos mostrar para a sociedade brasileira a importância e o impacto positivo das mulheres nesses espaços. Nós temos esse espaço, esse lugar e essa legitimidade. O que me incomoda são os homens definindo os direitos das mulheres. Nós precisamos ter isso de forma democrática, coletiva”, afirmou Mansur, durante a coletiva de imprensa.
Para Mansur, infelizmente, os resultados já eram esperados, mas a compilação desses dados, em suas palavras, são importantes para poder pleitear os direitos das mulheres na política.
Edição: Vivian Virissimo
Brasil de Fato
www.miguelimigrante.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário