"No Brasil não tem brasileiros, ou é filho de refugiados ou imigrantes. Ninguém vai me dizer que não sou brasileiro", diz o cineastra sírio Salim Mhanna no Festival Path
A palestra "O Centro é de todes: o poder
transformador da diversidade do Centro de São Paulo" começou com a
história de Salim Mhanna, palestino que encontrou acolhida na capital
paulistana. "Eu escolhi o Brasil porque aqui todo mundo é filho de
refugiado ou imigrante. Ninguém vai dizer para mim que não sou
brasileiro", diz Mhanna, que chegou ao país apenas com R$ 100 e hoje é
dono de um bar na Praça Roosevelt. Antes de vir ao Brasil, onde mora há pouco
mais de quatro anos, Salim foi responsável por criar a primeira plataforma de
vídeos on-demand no Oriente Médio, mas foi preso no Egito no período da
Primavera Árabe, onda de protestos em 2011.
"O Centro é de todes: o poder transformador da diversidade do Centro de São Paulo" Imagem: Iwi Onodera/UOL
Na palestra, estavam ainda Márcia Daylin, primeira
bailarina transexual a se formar no Theatro Municipal de São Paulo, e Maria
Nilda Rodrigues, jornalista criadora do projeto Deslocamento Criativo, que
conecta refugiados à economia criativa no Brasil. O bate-papo fez parte do
Festival Path, maior evento de inovação e criatividade do país, que aconteceu neste fim de semana, na região da Avenida
Paulista, em São Paulo. Neste ano, o evento é apresentado pelo TAB
. A mediadora da conversa foi a jornalista Denize Bacoccina,
cofundadora da startup de impacto social 'A Vida no Centro'. Ela enfatizou a
frase "Andar a pé no centro é a melhor forma de conhecer as pessoas e a
cidade", sobre uma fala da plateia que discutia a ideia de a região ter
como estereótipo a violência,
i "Onde eu já apanhei na cara por ser quem eu sou
não foi no centro", afirmou a bailarina Márcia, lembrando ataques de
transfobia que sofreu em bairros mais afastados na zona central, como Barra
Funda e Penha.
Daylin também é dançarina, na companhia de teatro
Satyros, na região da República e Praça Roosevelt. E reflete sobre a mudança da
região, que era repleta de violência no ano 2000, de acordo com ela .
Márcia Daylin, primeira bailarina transexual a se formar no Theatro Municipal de São Paulo Imagem: Iwi Onodera/UOL
"A praça era tomada por traficantes, corpos no chão
com facadas, corpos à venda das prostituas e pessoas que queriam usar os corpos
dessas meninas", afirma ela, que enxerga o local hoje como um ponto de
encontro e de harmonia na cidade de São Paulo.
O debate sobre violência na cidade tocou também Salim,
que afirma ver um exagero por parte dos noticiários da televisão quanto ao
assunto. "Sempre que ligo a TV vejo falando sobre esse tema. Parece que
querem colocar medo nas pessoas, eu não entendo", diz. Salim diz não se
assustar com a violência, apesar da cobretura intensa do tema. "Eu já
passei por sete guerras", diz, aos risos.
Giacomo Vicenzo
Colaboração para o TAB, em São Paulo
www.miguelimigrante.blogspot.com
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