Em Boa Vista, Roraima, uma colorida pintura toma conta do
muro do Centro de Convivência e Atendimento Psicossocial para refugiados e
migrantes venezuelanos. Na obra, uma mulher indígena carrega as bandeiras da
Venezuela e do Brasil e recebe os recém-chegados com uma mensagem de
acolhimento e amizade.
A artista por trás do painel saiu das fileiras de pessoas
beneficiárias do centro: Jackeline Lozada, de 25 anos, trabalhou no mural
enquanto estava grávida. Ela deu à luz uma menina poucas semanas após receber a
equipe de reportagem do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
Jackeline deixou a cidade de Puerto Ordaz com seu
companheiro em setembro de 2018. Na ocasião, estava grávida de pouco mais de
quatro meses e enfrentou sangramentos e um quadro de infecção urinária. Com
auxílio do UNFPA, foi encaminhada à rede pública de saúde local.
“Algumas pessoas disseram que eu ia perder o meu bebê se
saísse da Venezuela, mas eu sabia que não. No começo, depois que cheguei, eu
quis voltar para o meu país, eu e meu esposo temos uma boa casa lá, mas
infelizmente agora temos que pensar muito. Lá, não tenho as coisas de que preciso
para o meu bebê”, afirma.
O pai de Jackeline e parte de sua família já estavam
estabelecidos no Brasil há algum tempo no momento da chegada de Jackeline. O
casal precisou procurar auxílio da Operação Acolhida, coordenada pelas Forças
Armadas brasileiras, que lideram o trabalho com refugiados e migrantes em
Roraima.
Cinco meses após a chegada a Boa Vista, o casal conseguiu
uma vaga em um dos 11 abrigos da capital roraimense. “Pela primeira vez desde
que havia chegado ao Brasil, pude dormir tranquila”, conta a artista.
Veia artística
Na Venezuela, Jackeline costumava desenhar com grafite e
produzia pequenos retratos, apenas por prazer. “Nunca estudei, foi algo que
nasceu comigo”, lembra a venezuelana. Dentro do abrigo, após a doação de
materiais, começou a fazer alguns quadros, sempre reproduções. As obras
chamaram a atenção, tanto de voluntários e coordenadores do Fundo de População
das Nações Unidas, quanto dos locais. “Me perguntaram quanto eu cobrava, mas eu
não sabia. Nunca tinha vendido nada”, conta a venezuelana rindo.
Sempre com o sorriso aberto e simpático, Jackeline
confessa que sentiu a responsabilidade pesar quando lhe encomendaram a pintura
do muro do Centro de Convivência. “Eu nunca havia feito algo tão grande e
assim, saído da minha imaginação. Sempre fiz reproduções”, explica.
O resultado do trabalho é seu maior orgulho, o símbolo de
sua resiliência e criatividade, duas forças que ela nem sabia que tinha.
“Agora, quero fazer uma faculdade de artes. Seria um sonho realizado”, diz a
venezuelana.
O Centro de Atendimento Psicossocial
O Centro de Convivência e
Atendimento Psicossocial, onde está o muro pintado por Jackeline, é um projeto
mantido pelo Fundo de População das Nações Unidas e pelo Alto Comissariado da
ONU para Refugiados (ACNUR), com recursos da União Europeia e em parceria com o
Exército da Salvação.
O espaço é uma estratégia global do UNFPA para a resposta
à violência de gênero em situações de emergência. O estabelecimento também
fortalece a rede local de proteção das sobreviventes de violência e de
refugiados e migrantes vítimas de outras violações. Até o momento, o projeto -
que tinha uma meta de 5 mil atendimentos - já dobrou essa
quantidade, com 13
mil pessoas assistidas.
Onu
www.miguelimigrante.blogspot.com
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