sábado, 8 de setembro de 2018

Mato Grosso do Sul já recebeu 71,7 mil imigrantes neste ano

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O dinheiro era pouco – as últimas economias da família, que havia acabado de sobreviver a um terremoto. Mas o valor foi o suficiente para comprar uma passagem e cruzar o oceano até o Brasil. 
“Eu fazia faculdade na República Dominicana, era particular, minha mãe pagava para mim, mas ela não tinha mais condições de pagar. Como eu sabia dessa imigração intensa, minha mãe decidiu comprar a passagem para eu vir e também o visto, que custou US$ 200”.
Quem conta a história é Wadner Abfalon, 29 anos, que é haitiano, mas mora em Mato Grosso do Sul desde 2014. Ele diz que a escolha de sua mãe em ajudá-lo a vir para o país tropical foi por “dois motivos: primeiro trabalhar, segundo  para concluir minha faculdade de Letras, que era muito importante para ela”.
Abfalon é um entre tantos estrangeiros que, seja por questões econômicas seja políticas, escolheram o Brasil como destino e, dentro dele,  Mato Grosso do Sul.
Com 1,5 mil quilômetros de fronteira seca com Bolívia e Paraguai e após endurecimento da política migratória do Chile, o Estado virou porta de entrada de estrangeiros. Somente até julho deste ano, 71.761 pessoas ingressaram no Brasil por MS. Em todo 2017, foram 99.104 imigrantes, segundo dados da Polícia Federal.
A maioria vem de países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, ou ainda de nações sem perspectiva diante da escassez de postos formais de trabalho e da miséria que os assola de forma crônica, como no caso de Venezuela, Síria, Colômbia e Haiti, que desde 2010 tenta se reerguer do terremoto. 
“É uma esperança pra gente. Aqui eu me tornei professor, consegui trabalho, conquistei minha família. A gente vem mesmo para trabalhar, em busca de oportunidades, mas nada é fácil”, conta Wadner, que atualmente dá aulas de Francês num projeto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e, nas horas vagas, ensina Português aos conterrâneos.
SOFRIMENTO
Mas, diferentemente do que muita gente pensa, pisar no território brasileiro não significa o fim do sofrimento para os estrangeiros. “Imagine você estar longe da sua família, num lugar que você não conhece a cultura e que ainda não sabe falar a língua, é como um pesadelo”, descreve Wadner, que também é presidente da Associação Haitiano-Brasileira.
A dificuldade, segundo o professor, é que o poder público, que antes oferecia assistência aos imigrantes, agora vira as costas para a situação. E mesmo diante dos problemas sociais, que geralmente surgem nas cidades de fronteira, permanece inerte. 
“Quando eles [estrangeiros] chegam aqui, recebem um documento para permanência durante 90 dias. Ao fim desse prazo, eles precisam voltar até a Polícia Federal para pegar  outro documento. Acontece que, sem saber o idioma, muitos ficam perdidos. Alguns até se tornam moradores de rua, porque não conseguem emprego. Com tanta gente chegando, a situação está cada dia pior”, denuncia.
Em Corumbá, um levantamento da Polícia Federal mostra que 1.306 haitianos foram atendidos no primeiro semestre do ano. Em 2016, foram apenas três pessoas e, em 2017, 14. Ao todo, 450 estrangeiros, a maioria haitianos, foram notificados a sair do Brasil, porque eram ilegais. Aumentou também o número de pessoas presas por promoção de imigração ilegal, os chamados “coiotes”. No ano passado, foram 7 e, em 2018, 15 presos só no primeiro semestre.
Em maio deste ano, seis haitianos foram presos, após serem enganados por falsários na fronteira com a Bolívia e tentarem entrar no Brasil com carimbos falsos no passaporte. Eles só foram soltos após o auxílio da Defensoria Pública da União (DPU), que estava na cidade para participar da Ação Global contra o Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes 
(GLO.ACT).
APOIO

Wadner Abfalon destaca que foi criado o Comitê Estadual para Refugiados, Migrantes e Apátridas no Estado de Mato Grosso do Sul (Cerma/MS), gerido pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (Sedhast). 

No entanto, segundo ele, o órgão pouco tem feito para ajudar os estrangeiros. “Esse comitê foi criado para isso, mas não tem feito nada. O que está acontecendo? Está sendo muito difícil, nós precisamos do apoio deles, de uma pessoa para orientar quem está chegando, senão logo teremos um caos”, alerta.

Para ajudar os estrangeiros, principalmente os haitianos, a Associação Haitiano-Brasileira faz reuniões na Comunidade Católica Divino Espírito Santo, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, que fica na Rua Coleta Ana de Góis, 46, Parque Residencial Rita Vieira. O grupo se reúne sempre nas tardes de sábado.

Em Corumbá, entidades religiosas se revezam no preparo de alimentação aos estrangeiros, sob coordenação da Pastoral da Mobilidade Humana. Juntos, eles formam uma rede de ajuda humanitária, que também fornece abrigo em hotéis e imóveis particulares. 
Correio do Estado
www.miguelimigrante.blogspot.com

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