"Inglaterra reconheceu o meu mérito, porque precisa de gente para
trabalhar e reconhecem as nossas qualificações, mas não consigo viver neste
país se todos os dias tiver medo de ir trabalhar com medo de ataques. Não sei
como é que amanhã saio de casa para o trabalho, tenho medo. É assustadora a reação
das pessoas", elaborou a Cláudia, sendo uma das muitas estrangeiras a
viver num limbo que já valeram agressões, cuspidelas e campanhas de ódio contra
portugueses. "Go away, go away foreigners", é uma das frases
que grupos do UKIP e Britain First têm proferido no metro de Londres, por
exemplo. Como é que será a partir de agora?
Mas a história remonta a 2014, período das eleições européias e dos primeiros sinais de popularidade do partido responsável pelo referendo, o UKIP de Nigel Farage. Desde que chegou a solo britânico, logo recebida com os outdoors e autocolantes do UKIP onde se lia "Out with EU immigration", Cláudia tem vivido na pele "a normalização do racismo", no local de trabalho e no dia-a-dia. Durante seis meses, Cláudia trabalhou sob a tutela de um supervisor simpatizante do UKIP: "Dizia-me com freqüência que era nacionalista e que tinha que defender as fronteiras de pessoas como eu, dizendo que viemos para cá viver de subsídios. Eu não tenho direito a subsídios", explicou.
Na verdade, o sistema de benefícios do Reino Unido para Espaço Econômico Europeu (EEA) tem vindo a tornar-se cada vez mais complexo e restrito desde 2014 - e Cláudia foi vítima dessa burocracia que agora, após esta iminente saída do Reino Unido da União Européia, pode colocar emigrantes europeus em maus lençóis. Para um cidadão do EEA ter acesso a determinados benefícios, como o subsídio inicial de pessoa à procura de emprego ou abonos de família, deve provar que tem, tal como se lê nos documentos oficiais do Governo britânico, "chances genuínas" de ser contratado". Aqueles que chegam ao Reino Unido com emprego ficam elegíveis para receberem subsídios de habitação ou créditos fiscais, mas o cidadão deve provar que o seu trabalho é considerado "genuíno e eficaz".
Oficialmente, segundo dados dos consulados de Londres e Manchester, há cerca de 500 mil portugueses a viver no Reino Unido, mas apenas 234 mil portugueses estão inscritos na Segurança Social britânica. Segundo uma reportagem do Jornal de Notícias, os consulados recomendam "calma e peçam o cartão de residente permanente no Reino Unido". Que a maioria não tem e que é, efetivamente, também burocrático e demorado.
Mas até o consulado "não dá o apoio necessário", explica
Cláudia. "Não temos apoio de ninguém. Há seis meses mandei um email
para o consulado e ainda não me responderam. Perdemos dias ao
telefone a tentar um contacto. Não é fácil aceder ao consulado", elabora a
emigrante portuguesa. A SÁBADO tentou entrar em contacto por telefone com o
Consulado Geral de Portugal em Londres e não foi possível.
Ao arranjar o seu primeiro emprego no Reino Unido, Claúdia trabalhava "16 horas por dia num contrato a zero horas", mas só lhe pagavam nove horas. A emigrante portuguesa procurou ajuda junto do sindicado Unison e do Advisory, Conciliation and Arbitration Service (ACAS), mas sem sucesso. "Até hoje, volvido quase um ano, estou a aguardar receber o dinheiro. O sindicato não fez nada, Unison pertence ao Labour, não têm qualquer apoio a estrangeiros", explica.
A quando do incidente com o seu supervisor apoiaste do UKIP, a emigrante portuguesa fez queixa à sua manager que respondeu "que ele tinha direito às suas opiniões". Por sua vez, Cláudia fez queixa ao "manager da sua manager" que abriu uma investigação. O caso complicou-se quando Cláudia acabou por ser acusada por "violação de confidencialidade". O desfecho? "Recorri aos recursos humanos e foi quando finalmente consegui um pedido de desculpas e ele foi despedido. Este povo normalizou o racismo", conta.
Ao arranjar o seu primeiro emprego no Reino Unido, Claúdia trabalhava "16 horas por dia num contrato a zero horas", mas só lhe pagavam nove horas. A emigrante portuguesa procurou ajuda junto do sindicado Unison e do Advisory, Conciliation and Arbitration Service (ACAS), mas sem sucesso. "Até hoje, volvido quase um ano, estou a aguardar receber o dinheiro. O sindicato não fez nada, Unison pertence ao Labour, não têm qualquer apoio a estrangeiros", explica.
A quando do incidente com o seu supervisor apoiaste do UKIP, a emigrante portuguesa fez queixa à sua manager que respondeu "que ele tinha direito às suas opiniões". Por sua vez, Cláudia fez queixa ao "manager da sua manager" que abriu uma investigação. O caso complicou-se quando Cláudia acabou por ser acusada por "violação de confidencialidade". O desfecho? "Recorri aos recursos humanos e foi quando finalmente consegui um pedido de desculpas e ele foi despedido. Este povo normalizou o racismo", conta.
Ingleses contra os estrangeiros: racistas ou apenas medrosos?
Um pouco por todo o lado, especialmente após ter sido referendado o Brexit, os jornais internacionais têm noticiado casos de ódio levados a cabo por apoiantes do UKIP e do Britain First contra estrangeiros muçulmanos e europeus. Porquê? William, inglês simpatizante do UKIP, garante que "não é racismo, é medo do desconhecido". "As pessoas têm receio. O mundo está a tornar-se num lugar perigoso e imprevisível. Quando isso acontece, as pessoas ficam naturalmente nacionalistas. O mesmo acontece em todos os países que não se têm dado bem com a União Européia", explica William, acrescentando que "o crescente fenômeno da imigração tem assustado muita gente".
Na opinião do inglês de 36 anos, chamar ao Brexit um referendo "racista" é "redutor". "Ao longo de séculos, nós tivemos uma das maiores industrias fabril e de transporte no mundo. Depois, com a Margaret Thatcher, veio o neo-liberalismo, e as nossas industrias foram apagadas ao serviço de uma economia de serviço. Isto dizimou a região de Midlands Ocidentais. Minas foram fechadas, fábricas abandonadas e docas encerradas. Essas áreas nunca mais foram recuperadas. E foram ignoradas pela União Européia", explica William. Foram exactamente nessas áreas que o voto pelo "Sair" obteve, em média, quase 70% dos votos.
Mas enquanto o "medo" incita a violência nas ruas do Reino Unido, as comunidades estrangeiras também se escondem na incerteza e no medo. "Eles percebem que eu sou estrangeira, basta ouvirem a nossa língua", explicou à TSF Anabela Sousa, emigrante portuguesa que, até agora, não tinha "medo de nada, mas vai começar a ter". "[Conheço um caso onde] cuspiram-lhe e acho que tentaram agredi-la. (..) A polícia já está alertada (...), mas até agora não fizeram nada", explicou à TSF.
Nas redes sociais também não faltam vídeos e tweets que demonstram o ódio de alguns simpatizantes do Britain First e do UKIP. Veja a fotogaleria com algumas das denuncias:
Cláudia e milhares de emigrantes têm um longo caminho a percorrer
até compreenderem a sua situação. Até lá, a emigrante portuguesa não tem
dúvidas que a situação está a piorar: "Esta votação é resultado de
uma campanha xenófoba de extrema-direita levada a cabo pelo governo
conservador britânico, UKIP e Britain First. (...) É a segunda vez na
vida que a direita conservadora me empurra e me tira o pouco
que conquistei."
Revista Sabado
Nenhum comentário:
Postar um comentário