Pessoas são responsáveis
pela identidade de uma cidade? O que dizer então da identidade de São Paulo,
metrópole marcada pela diversidade étnica? Perguntas complexas de se responder
de imediato, mas que traz um bom argumento para explorar no cinema. Esta foi a
ideia da diretora Anna Lucchese ao fazer ‘Identidade Cotidiana’, que teve
personagens estrangeiros como a marca original da obra.
Exibido na sessão de abril de 2016 do Cine
Clube do Salada de Cinema, ‘Identidade Cotidiana’ mostra a realidade de seis
pessoas que vieram de diferentes partes do mundo e hoje moram em São Paulo e
contam para a câmera de Lucchese como é viver por aqui. Recentemente, o filme
foi exibido no China Women’s Film Festival.
Para conhecer um pouco mais deste filme,
entrevistamos Anna Lucchese, que além de cinema, trabalha na direção do
programa A Máquina, da TV Gazeta. Acompanhe:
–
Anna, como surgiu a ideia de fazer um filme sobre São Paulo, a partir das
impressões de estrangeiros?
O filme nasceu de um conflito pessoal. Eu nasci e passei grande parte da minha vida em São Paulo. Depois de um tempo morando fora, retornei à cidade e senti um grande estranhamento, como se tivesse me tornado uma estrangeira na minha própria terra. Minhas referências culturais se transformaram com o intercâmbio e comecei a refletir muito sobre o tema da identidade. Como construímos e transformamos essas referências no cotidiano? A partir dessa ideia, decidi procurar estrangeiros que haviam escolhido São Paulo como lar e acompanhar sua rotina na metrópole. A proposta era tirar, dessa observação e de nossas conversas, uma nova visão sobre diversos temas que definem a vida de quem mora aqui, como o trânsito, a violência e algumas peculiaridades culturais que muitas vezes passam desapercebidas por quem passou a vida toda no mesmo lugar.
O filme nasceu de um conflito pessoal. Eu nasci e passei grande parte da minha vida em São Paulo. Depois de um tempo morando fora, retornei à cidade e senti um grande estranhamento, como se tivesse me tornado uma estrangeira na minha própria terra. Minhas referências culturais se transformaram com o intercâmbio e comecei a refletir muito sobre o tema da identidade. Como construímos e transformamos essas referências no cotidiano? A partir dessa ideia, decidi procurar estrangeiros que haviam escolhido São Paulo como lar e acompanhar sua rotina na metrópole. A proposta era tirar, dessa observação e de nossas conversas, uma nova visão sobre diversos temas que definem a vida de quem mora aqui, como o trânsito, a violência e algumas peculiaridades culturais que muitas vezes passam desapercebidas por quem passou a vida toda no mesmo lugar.
–
Como foi o processo de seleção das personagens?
Entrevistamos 50 estrangeiros e, junto com uma pesquisadora e uma roteirista, fui definindo o perfil de pessoas que se encaixariam melhor no tipo de documentário que eu queria fazer. Eu buscava características como pessoas com uma habilidade natural de reflexão e questionamento, que tivessem vindo para a cidade por escolha e não por necessidade, com um interesse em mergulhar na cultura local… entre outras peculiaridades que foram surgindo a partir da própria pesquisa e da pré-entrevista com os personagens. Essa seleção foi uma especie de quebra-cabeças que delineou o que viria a ser a narrativa do filme.
Entrevistamos 50 estrangeiros e, junto com uma pesquisadora e uma roteirista, fui definindo o perfil de pessoas que se encaixariam melhor no tipo de documentário que eu queria fazer. Eu buscava características como pessoas com uma habilidade natural de reflexão e questionamento, que tivessem vindo para a cidade por escolha e não por necessidade, com um interesse em mergulhar na cultura local… entre outras peculiaridades que foram surgindo a partir da própria pesquisa e da pré-entrevista com os personagens. Essa seleção foi uma especie de quebra-cabeças que delineou o que viria a ser a narrativa do filme.
Assista ao teaser de Identidade Cotidiana:
– Para você, o que São Paulo tem de especial que mereça um filme-documentário?
Em primeiro lugar, tenho um laço afetivo com a cidade. Aquilo que sou é fruto da experiência que tive aqui. Além disso, São Paulo, diferente de outros lugares, é a junção de diversas culturas de estrangeiros que povoaram a metrópole desde sua origem. Sendo assim, fica mais difícil determinar as características que definem sua identidade. Por isso, essa investigação, além de um desafio, traz uma série de contradições. E a contradição é um elemento chave para uma boa história.
Em primeiro lugar, tenho um laço afetivo com a cidade. Aquilo que sou é fruto da experiência que tive aqui. Além disso, São Paulo, diferente de outros lugares, é a junção de diversas culturas de estrangeiros que povoaram a metrópole desde sua origem. Sendo assim, fica mais difícil determinar as características que definem sua identidade. Por isso, essa investigação, além de um desafio, traz uma série de contradições. E a contradição é um elemento chave para uma boa história.
–
Como é estar na direção de um filme, em um meio dominado por homens, como o
cinema?
Feliz por hoje poder fazer parte desse tipo de discussão e responder a essa pergunta que talvez você não me fizesse em um passado muito recente. E satisfeita por ter sempre encarado a profissão sem me reprimir por conta de uma barreira de gênero. Acho que muitas vezes somos nós mesmos deixamos de fazer coisas por achar que há um limite ou uma posição que devemos ocupar por sermos mulheres ou qualquer outra minoria. Precisamos sempre questionar nosso papel como ser humano em uma sociedade que impeça nosso desenvolvimento no máximo de nossas capacidades. Esse tipo de barreira sempre vai existir contra qualquer coisa que fuja daquilo que a maioria acredita ser o padrão. E nada melhor do que utilizar ferramentas como o cinema para expandir esses horizontes.
Feliz por hoje poder fazer parte desse tipo de discussão e responder a essa pergunta que talvez você não me fizesse em um passado muito recente. E satisfeita por ter sempre encarado a profissão sem me reprimir por conta de uma barreira de gênero. Acho que muitas vezes somos nós mesmos deixamos de fazer coisas por achar que há um limite ou uma posição que devemos ocupar por sermos mulheres ou qualquer outra minoria. Precisamos sempre questionar nosso papel como ser humano em uma sociedade que impeça nosso desenvolvimento no máximo de nossas capacidades. Esse tipo de barreira sempre vai existir contra qualquer coisa que fuja daquilo que a maioria acredita ser o padrão. E nada melhor do que utilizar ferramentas como o cinema para expandir esses horizontes.
–
Recentemente, você exibiu o Identidade Cotidiana na China. Como foi a recepção
do público de lá? Muitas curiosidades sobre a vida em São Paulo?
Foi uma experiência muito interessante. No debate após a sessão, uma pessoa da plateia comentou que, mesmo tão distantes uma da outra, São Paulo e Pequim tem características muito parecidas. As duas concentram as contradições de uma grande metrópole e atraem um número expressivo de migrantes. Ele comentou que 50% das pessoas que moravam em Pequim eram de outras localidades da China. Outra peculiaridade interessante é que a China passou por um crescimento econômico e uma enorme transformação em um curto período de tempo. Ou seja, todas essas questões que eu abordo no filme sobre a processo de metamorfose da identidade é algo que eles estão vivendo de forma intensa e rápida neste exato momento.– Quais são seus projetos para o futuro? Existe algum novo projeto em mente?
Foi uma experiência muito interessante. No debate após a sessão, uma pessoa da plateia comentou que, mesmo tão distantes uma da outra, São Paulo e Pequim tem características muito parecidas. As duas concentram as contradições de uma grande metrópole e atraem um número expressivo de migrantes. Ele comentou que 50% das pessoas que moravam em Pequim eram de outras localidades da China. Outra peculiaridade interessante é que a China passou por um crescimento econômico e uma enorme transformação em um curto período de tempo. Ou seja, todas essas questões que eu abordo no filme sobre a processo de metamorfose da identidade é algo que eles estão vivendo de forma intensa e rápida neste exato momento.– Quais são seus projetos para o futuro? Existe algum novo projeto em mente?
Tenho um projeto que se chama “Por que
viajo sozinha?” sobre mulheres que passam por essa experiência de sair pelo
mundo desacompanhadas. Minha ideia é mostrar histórias que surgem desse ato tão
simples mas que pode, por um lado, trazer questões tão ricas e, por outro,
dificuldades tão revoltantes. Aproveitei minha viagem para China e entrevistei
cinco mulheres com trajetórias lindas e com muita coisa para contar.
Salada de Cinema
Fernanda Imperio
www.miguelimigrante.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário