sábado, 1 de julho de 2023

Cinco ônibus com afegãos refugiados ficam parados na Rodovia Anchieta após Prefeitura de Praia Grande recusar abrigo


Afegãos que estavam abrigados no Aeroporto Internacional de SP, em Guarulhos, são encaminhados a uma colônia de férias no litoral paulista — Foto: Guilherme Gandolfi


Cinco ônibus com afegãos refugiados no Brasil ficaram parados na noite desta sexta-feira (30) no km 40 da Rodovia Anchieta, na região de São Bernardo do Campo, após a Prefeitura de Praia Grande recusar abrigo. A situação só foi resolvida horas depois, após o município fechar um acordo com o Ministério da Justiça.

Os afegãos estavam no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, e partiram para Praia Grande, onde deveriam se abrigar na Colônia de Férias do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas, no bairro Solemar.

Mas na noite desta sexta, durante o trajeto dos afegãos, a prefeitura soltou uma nota dizendo que não aceitou os afegãos, já que, segundo eles, o local onde os refugiados ficariam não tem Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) e que eles "colocariam em risco a saúde dos moradores da cidade".

Guardas Civis municipais foram acionados para impedir a entrada dos afegãos na Colônia de Férias. A Prefeitura de Praia Grande alegou ainda que não arcaria com despesas com os afegãos.

Após o impasse, a prefeitura divulgou uma nova nota afirmando que havia chegado a um acordo com o Ministério da Justiça para permitir a entrada dos afegãos. O município fez uma série de exigências ao governo federal.

Refugiados que estavam no ônibus falaram à TV Globo que entraram no veículo sem nenhum representante da sociedade civil ou da Acnur e que ficaram "aflitos" com a situação.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informou, em nota, que as tratativas para o acolhimento dos imigrantes afegãos foram realizadas diretamente com o sindicato. "A vistoria do local já foi providenciada junto ao Corpo de Bombeiros".

Em relação às despesas e cuidados ao grupo, o MJSP garantiu que serão custeados pelo governo federal. "A prefeitura de Praia Grande não terá qualquer custo ou responsabilidade com este acolhimento".

"A medida é uma ação emergencial para retirar refugiados que hoje vivem em situação delicada e precária, dos quais 35 crianças, e está sendo construída em parceria com o governo de São Paulo, prefeitura de Guarulhos, Acnur, Cáritas e outras entidades da sociedade civil envolvidas com a temática".

Citada pelo MJSP, a Prefeitura de Guarulhos informou à reportagem que o responsável pela coordenação da transferência foi o governo federal, que o município garantiu o transporte ao litoral de SP e forneceu alimentação durante o trajeto, conforme solicitado pelos agentes da União. "

"Todas as 177 vagas exclusivas para acolhimento de imigrantes e refugiados na cidade estão lotadas". Sobre a decisão da Prefeitura de Praia Grande, os gestores de Guarulhos lamentaram o ocorrido e disseram esperar uma solução o mais rápido possível para o grupo que está no ônibus.

 

Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informou que não se opõe em colaborar com questões humanitárias e se solidariza com a situação dos imigrantes afegãos, que estavam no aeroporto sem condições de higiene e saúde. No entanto, ressaltou que a ação não pode pôr em risco a saúde dos moradores da cidade.

A prefeita Raquel Chini (PSDB) recebeu, na tarde desta sexta-feira (30), contato do Secretário de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo informando que os governos federal e estadual buscavam uma parceria, sem ônus para o município, para hospedar, na Colônia dos Químicos, os afegãos por 30 dias. Ela teria sido informada que os refugiados não estariam doentes.

A administração municipal afirma ter sido deixada de lado das conversas após o primeiro contato e chamou disse que a ação humanitária foi executada de forma "equivocada".

Ainda com base na nota, depois que informados da vinda dos imigrantes, receberam uma "nota técnica com obrigações da cidade para recepcionar os afegãos como médicos, vacinas, exames laboratoriais, pois as pessoas estão doentes e precisam ficar isoladas".

Ação humanitária

A decisão de mover os afegãos do aeroporto para a colônia de férias no litoral de SP partiu da deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP). A parlamentar contatou o vereador Hélio Rodrigues (PT), da capital, que reservou o espaço de forma provisória.

"Trata-se de um encaminhamento com estadia emergencial até que se estruture uma ação conjunta para acolher de fato os imigrantes, que têm vistos humanitários e não estão em situação irregular no país”, explicou Juliana.

Segundo a equipe da deputada, hotéis e pousadas se recusaram a receber os afegãos porque parte dos imigrantes está com sarna.

Governo federal anunciou medida na quinta-feira

O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou na quinta-feira (29) que os afegãos seriam acolhidos e poderiam ficar alojados em hotéis enquanto o governo federal busca uma solução definitiva para a questão.

"Nós definimos uma ação emergencial do Ministério da Justiça e Segurança Pública, essas pessoas vão ter a possiblidade de ser adequadamente acolhidas em hotéis, não só em Guarulhos, mas em outras cidades, até que se estruture uma política definitiva para dar conta desse grave problema."

Em uma rede social, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, informou que determinou o envio de força tarefa emergencial da pasta "para atuar na situação dos migrantes afegãos que estão abrigados no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo" e que a equipe se junta à do Ministério da Justiça para tomar as providências necessárias.

 

 

 

Na última contagem, realizada no domingo (25), 208 refugiados afegãos estavam abrigados no aeroporto.

Ao todo, existem 1.059 vagas destinadas a imigrantes e refugiados em centros de acolhida em São Paulo e em Guarulhos, incluindo equipamentos gerenciados pelas prefeituras e pelo governo do estado. Entretanto, no momento, 100% dessas vagas estão ocupadas.

Surto de sarna

Na semana passada, ao menos 20 refugiados afegãos foram diagnosticados com escabiose, doença popularmente conhecida como sarna.

O surto foi identificado na quinta-feira (22) por médicos da Prefeitura de Guarulhos e confirmado no domingo (25) por médicos de ONGs que atuam no auxílio das famílias recém-chegadas ao Brasil.

A sarna é uma doença contagiosa transmitida pelo contato direto entre as pessoas ou por meio de objetos, como roupas, cobertores e travesseiros compartilhados, explica o infectologista do Instituto Emílio Ribas Jamal Suleiman.

Por isso, entre as medidas necessárias para conter o surto, estão os banhos, a constante higienização dos bancos das áreas comuns do aeroporto e a troca de roupa dos doentes.

As vestimentas devem ser lavadas e passadas, uma vez que temperaturas altas são necessárias para acabar com os ovos do parasita.

As organizações Coletivo Frente Afegã, Afghanistan Refugee Recue Organization e Projeto Abarcar — que auxiliam os refugiados recém-chegados ao país — pediram que o aeroporto libere os banheiros para higienização pessoal dos afegãos.

 g1.globo.com/sp/sao-paulo

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