sexta-feira, 24 de março de 2023

Atuação social leva venezuelana a integrar comitê que discute políticas públicas para pessoas refugiadas, migrantes e apátridas em Manaus

 

Em Manaus (AM), Nohemi busca promover os direitos de pessoas refugiadas e migrantes. ©ACNUR/Felipe Irnaldo

Desde que chegou ao Brasil, há cerca de cinco anos, a história da venezuelana Nohemi não parou de se entrelaçar com a de inúmeras pessoas refugiadas e migrantes vindas de diferentes países. Como uma vocação, ela dedica parte de seu tempo a apoiar quem precisa de orientações ou encaminhamentos para recomeçar a vida no Brasil, especialmente na cidade de Manaus (AM). Seu engajamento é tamanho que atualmente ela integra o Comitê Municipal de Políticas Públicas para Pessoas Refugiadas, Migrantes e Apátridas de Manaus (COMPREMI).  

Farmacêutica na Venezuela, Nohemi decidiu vir para o Brasil junto a um dos três filhos, ingressando pela fronteira de Pacaraima (RR), onde ficou por alguns meses até se mudar para Manaus. Na capital amazonense, Nohemi começou vendendo água e café nas ruas. Nesse período, estudou português, conquistou um emprego formal e conseguiu juntar dinheiro para abrir um pequeno negócio, que não resistiu ao período da pandemia. Depois de muito estudo, ela voltou a empreender – dessa vez, no ramo de gastronomia e coquetelaria, empreendimento que a mantém financeiramente até hoje. 

Mesmo com todas as adversidades, a venezuelana sempre esteve atenta às necessidades de pessoas que vivem realidades semelhantes à sua. De forma voluntária, ela iniciou sua história como liderança comunitária.

Cidadania

Junto a outras mulheres com perfil de liderança, Nohemi faz parte de um grupo virtual organizado em um aplicativo de mensagens que busca fortalecer, entre outros temas, o debate a respeito da participação política e social das mulheres refugiadas e migrantes em todo o Brasil. Todas as mulheres do grupo fizeram parte, em algum momento, de ações e capacitações oferecidas por Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com apoio do Governo de Luxemburgo.

A ação conjunta se iniciou em 2018, e atualmente segue por meio do programa Moverse. 

Ainda que considere a sua condição de vida atual estável, Nohemi aponta para a profissionalização e o acesso ao mercado formal de trabalho como umas das principais dificuldades enfrentadas pelas pessoas refugiadas e migrantes. “Os custos para revalidar um diploma no Brasil são muito altos – mais ainda quando pensamos que, além de pagar pelos custos, também temos que nos manter e mandar dinheiro para nossas famílias”, ressalta.

A queixa vai ao encontro dos dados revelados pela pesquisa “Oportunidades e desafios à integração local de pessoas de origem venezuelana interiorizadas no Brasil durante a pandemia de Covid-19”, lançada por meio do Moverse em 2022. Os dados apontam que são as mulheres que apresentam maior dificuldade de acesso ao mercado formal de trabalho brasileiro. 

A importância no bem-estar do próximo revela um pouco sobre como o caminho de Nohemi foi se desenhando para falar em nome de seus pares e, para hoje, ocupar a posição de suplente na presidência do COMPREMI – formado por representantes do poder público, comunidade refugiada e migrante, e pela sociedade civil. “Somos a voz dos migrantes, refugiados e apátridas. O migrante merece uma vida digna. O comitê é muito importante para dar voz a essas pessoas. É diferente quando estamos organizados, do que quando estamos sozinhos. As pessoas nos escutam”, explica. 

Sobre o Moverse

Implementado pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo, o Moverse foi iniciado em setembro de 2021. O objetivo geral do programa, com duração até dezembro de 2023, é garantir que políticas e estratégias de governos, empresas e instituições públicas e privadas fortaleçam os direitos econômicos e as oportunidades de desenvolvimento entre venezuelanas refugiadas e migrantes.

Para alcançar esse objetivo, a iniciativa é construída em três frentes. A primeira trabalha diretamente com empresas, instituições e governos nos temas e ações ligadas a trabalho decente, proteção social e empreendedorismo. A segunda aborda diretamente mulheres refugiadas e migrantes, para que tenham acesso a capacitações e a oportunidades para participar de processos de tomada de decisões ligadas ao mercado laboral e ao empreendedorismo. A terceira frente trabalha também com refugiadas e migrantes, para que tenham conhecimento e acesso a serviços de resposta à violência baseada em gênero.  

acnur.org

www.miguelimigrante.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário