quarta-feira, 4 de março de 2020

Novas regras para imigração no Reino Unido não contemplam trabalhadores menos qualificados, mas que fazem a economia girar”, diz advogado brasileiro em Londres

Daniel Martins - Advogado
O governo britânico revelou na última quarta-feira (26) uma nova política de imigração que vai vigorar no Reino Unido a partir de 2021, quando o país deixar definitivamente a União Europeia. Para compreender melhor as novas condições impostas pelos ingleses a quem deseja viver e trabalhar no país, a RFI entrevistou o advogado brasileiro Daniel Martins, baseado em Londres, e que é especialista em questões migratórias.
O objetivo das novas políticas anunciadas pelo governo conservador de Boris Johnson é atrair imigrantes mais qualificados. Para isso, será adotado um sistema de pontos que vai definir quem pode viver e trabalhar no Reino Unido.
“A intenção é atrair imigrantes que tenham qualificações que o país precisa para desenvolver a sua economia”, explica Daniel Martins. “A ideia é implementar uma política migratória mais segura para os ingleses e mais justa, ou seja, baseada nas qualificações e sem descriminação com relação à nacionalidade. Isso vai colocar no mesmo patamar os europeus e outros nacionais”, acrescenta.
Critérios
Martins explica os critérios que serão analisados. “Por exemplo, se a pessoa tem um PhD, ou experiência de trabalho, ela ganha mais pontos. O governo vai dividir os migrantes entre trabalhadores qualificados e o que eles chamam de talentos globais. Os pontos serão baseados nas qualificações e na experiência”, observa o advogado.
“No momento, já há um plano piloto para esse tipo de residente chamado ‘global talent’, que pode ser um pesquisador internacional, profissional da área científica ou industrial, esses já estão sendo atraídos”, esclarece o especialista.
Se o candidato a residente já tem uma oferta de trabalho, tem direito a 20 pontos. Falar inglês corretamente corresponde a 10 pontos. Diploma de doutorado na área desejada soma mais 10 pontos. E a remuneração do trabalhador também pesa nessa equação.
“Eles exigem £ 25.600 por ano (cerca de R$ 145 mil), o que não é compatível com funções de baixa qualificação, para as quais o Reino Unido tem necessidade”, analisa Martins, alertando para um problema anunciado.
“Há um número grande de trabalhadores sazonais, que vêm somente para um período, para passar seis meses e aprender inglês ou fazer uma pós-graduação e depois vão embora. Porém, esses não estão sendo levados em consideração nas novas regras, ainda que representem uma grande parte da máquina que faz girar a economia”, adverte.
“Se essa política baseada em pontuação visa trazer os mais qualificados e com experiência, ela não leva em consideração esse tipo de trabalhador menos qualificado, mas que vai fazer falta. Esse valor exigido de remuneração é incompatível, por exemplo, com alguém que trabalha num hotel em início de carreira”, compara.
Estudantes já têm sistema de pontos
Estrangeiros que estudam no Reino Unido ou tenham planos de fazer um curso no país vão seguir as regras já existentes.
“No momento já existe um sistema de pontos para visto de estudante. O candidato precisa de 40 pontos para poder entrar no Reino Unido. Dez pontos são obtidos através de matrícula em uma escola reconhecida pelo Ministérios da Educação e do Interior e os outros 30 pontos são alcançados quando ele demonstra que tem como se manter financeiramente no período de estudos. Contudo, estudantes não podem trabalhar”, reafirma Daniel Martins, preocupado com uma possível falta de mão de obra.  
“O Reino Unido já teve no passado um sistema de pontos que não funcionou, mas, ao que parece, eles não aprenderam com os próprios erros”, acrescenta.
Por fim, quando questionado se as novas regras devem desencorajar migrantes que desejam entrar no Reino Unido, o advogado é categórico.  “Não inibe. O Reino Unido sempre foi e sempre será um país para onde as pessoas vêm e onde acabam conseguindo trabalhar. Pode ficar mais difícil, mas acho que não vai inibir”, conclui.
RFI
www.miguelimigrante.blogspot.com

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