sábado, 8 de abril de 2023

Dificuldades de imigrantes na PF emperram mais de 12 mil vagas de emprego no Paraná

 

Estrangeiros aguardam meses por atendimento e documentação para estarem aptos ao trabalho no Brasil.| Foto: Juliet Manfrin/Especial para a Gazeta do Povo

Depois de venezuelanos e haitianos, a região da tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina tem recebido uma nova e expressiva onda migratória. Com a perspectiva de deixar a crise econômica enfrentada pelo país natal, argentinos que chegam à região oeste do Paraná buscam, além de se manterem próximos da Argentina, oportunidades de novos empregos. Porém, a colocação formal no mercado de trabalho tem esbarrado na burocracia. Imigrantes relatam dificuldades para agendar ou de conseguir atendimento na Delegacia da Polícia Federal (PF) em Cascavel, município da região. O procedimento é fundamental para formalizar a condição de trabalho em território brasileiro.

“Temos milhares de vagas de trabalho, empresas dispostas a contratar, precisamos muito destes profissionais, mas sem a regularização necessária, não temos como encaminhar o processo de admissão”, explicou o coordenador da Câmara Técnica de Empregabilidade da região e coordenador da Agência do Trabalhador no município de Toledo, Rodrigo Souza.

Composta por 50 municípios, a região paranaense concentra cinco das dez maiores cooperativas do agro brasileiro, que juntas registraram faturamento de R$ 65 bilhões em 2022. Na região, agricultura e pecuária as maiores fontes de gerações de emprego e renda. Por lá, as indústrias oferecem 12 mil vagas formais que seguem há meses sem preenchimento. O processo migratório tem levado centenas de estrangeiros ao entorno, mas os relatos de impasses nesse processo são semelhantes.

Brayan é venezuelano, tem 18 anos e está com problemas para emitir a documentação. O desespero vai tomando conta porque enfrenta dificuldades financeiras. O jovem diz que já perdeu a conta de quantas vezes foi à Delegacia da PF para tentar um agendamento, mas voltou sem resposta. Enquanto isso, ele conseguiu uma colocação informal para coleta de recicláveis.

A falta de informação relatada por quem procura a PF também dificulta o acesso à documentação. “Estou há dois anos no Brasil e preciso de ajuda para tirar o RG, não sei como faço. Minha família também precisa do RG”, relata a também venezuelana Claudia.

O argentino Ari tem 32 anos e vive em um albergue no oeste do Paraná. “Vendo doces no sinal e peço ajuda. Enquanto não consigo trabalhar com registro, vou me virando como dá, mas está difícil. Já fui na agência [do trabalhador], mas disseram que preciso dos documentos para trabalhar. Só que não consigo agendar horário na Polícia Federal”, conta.

Setor produtivo pede soluções

O problema, que vem sendo registrado há meses, fez com que o setor produtivo regional se mobilizasse. Com tantas oportunidades de trabalho aguardando profissionais, as indústrias avaliam o risco da estagnação de plantas por falta de mão de obra.

 

O Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), que reúne as maiores indústrias e empregadores regionais, tem se mobilizado a partir da Câmara de Empregabilidade e de órgãos que atuam no atendimento a imigrantes. Eles vão pedir informações à Polícia Federal no Paraná sobre a demora para agendamentos e atendimentos a estrangeiros, além de solicitar mecanismos para resolução dos entraves.

“Os migrantes encontram na região uma oportunidade para recomeçar suas vidas, com emprego e dignidade. O que seria uma oportunidade de ser conquistada acaba não acontecendo pela falta da documentação. Atendemos casos em que se espera por um agendamento há 120 dias”, destacou a coordenadora da Embaixada Solidária, Edna Nunes. A entidade atua na assistência a estrangeiros que chegam sem uma rede de apoio. De lá, são encaminhados para acesso a políticas públicas e de empregabilidade. “Somente nas duas últimas semanas registramos cerca de 50 casos com esses mesmos problemas. São pessoas de diversas etnias, mas temos sentido um aumento muito grande na chegada de argentinos à região”, pontua ela.

Conhecida como fronteira aberta, a passagem entre Brasil, Paraguai e Argentina, com baixo controle e fiscalização migratória, além da falta de atendimento formal, evidencia a dificuldade em contabilizar o número de argentinos que estão estabelecendo residência no Brasil.

Juliet Manfrin

gazetadopovo.com.br

www.miguelimigrante.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário