POR DANIEL REIS (daniel.reis@cbn.com.br)
Mais de 350 indianos solicitaram refúgio no Brasil entre janeiro e março de 2023, segundo dados da OBMigra, observatório que monitora esses fluxos. O número representa um salto de quatro vezes o acumulado de todo ano passado.
No entanto, o destino final da maioria dessas pessoas é os Estados Unidos. Instruídos por coiotes, eles saem do Sul da Ásia e passam pela Europa ou Oriente Médio antes de desembarcar no Brasil. Depois, seguem do Acre até o Peru, cortam a América do Sul, entram na América Central pelo Panamá e atravessam o continente até o México. De lá, seguem por uma arriscada viagem até os Estados Unidos.
A solicitação de refúgio no Brasil costuma ser um pré-requisito para que, no futuro, os imigrantes peçam refúgio nos Estados Unidos, de acordo com a legislação local. A coordenadora geral do Comitê Nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas e contrabando de imigrantes, Maria Bernardes, afirma ser comum que migrantes do Sul da Ásia utilizem o Brasil como rota de passagem. O Comitê faz parte do Ministério da Justiça. Em 2018, por exemplo, quase mil imigrantes de Bangladesh solicitaram refúgio no Brasil. Muitos deles tinham como destino os Estados Unidos.
"Ele inicia como uma relação negocial, entre uma pessoa que tem o interesse de cruzar uma fronteira de forma irregular e um coiote, que é quem facilita isso e cobra por isso. Historicamente esses países ali da Ásia, Bangladesh, Nepal, eles próprios falavam nas entrevistas de solicitação refúgio que tinham pagado por um passaporte. Então assim, é muito característico de contrabando de imigrantes. E aí, nessa situação, o Brasil é meio rota desses nacionais que vem para o Brasil para tentar chegar até os Estados Unidos", disse.
Segundo a OBMigra, que organiza os dados de solicitantes de refúgio do Comitê Nacional para os Refugiados, o fluxo de indianos começa a chamar a atenção. Mais de 98% dos que chegaram em 2023 são homens. O número de nepaleses solicitantes de refúgio também teve forte alta. Foram 100 nos três primeiros meses do ano, seis vezes mais do que no acumulado de todo ano passado.
De acordo com Silvio Silva, que lidera um projeto social contra o tráfico de pessoas no Nepal, os imigrantes saem do país em busca de melhores salários na Europa, Oriente Médio e Estados Unidos. Diante da vulnerabilidade, no entanto, são vítimas fáceis para exploração laboral. O alto custo da viagem faz com que eles cheguem ao destino final devendo os coiotes, conhecidos lá como manpowers.
"Nesse meio da necessidade dessa ponta e da oportunidade que está na outra entra os manpowers, que são os homens de agência. E esses homens organizam tudo. Eles organizam emprego lá, organizam a passagem aérea, orientam o candidato a fazer o passaporte. Eles que levam a maior bolada de dinheiro. Esses dias eu vi uma moça, ela ia demorar 26 meses para pagar a dívida da ida dela", conta.
O coordenador do serviço para imigrantes Fé e Alegria do Panamá, Elías Cornejo, afirma que o número de sul asiáticos que têm cruzado o país para chegar aos Estados Unidos vem crescendo. Ele reforça as inseguras relações entre migrantes e coiotes.
"Os grupos criminosos pagavam as passagens, e quando os imigrantes chegavam aos Estados Unidos tinham que trabalhar para pagá-los. Eles já estavam destinados aos lugares que iam trabalhar", afirma.
A CBN procurou a Polícia Federal para entender se há alguma investigação sobre a vinda dos nepaleses ao Brasil, mas não obteve retorno.
O Comitê Nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas e contrabando de imigrantes, no entanto, pontua que, apesar dos riscos na relação entre coiotes e imigrantes, não é possível impedir o deslocamento das pessoas se esses o fazem por conta própria.
CBN
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