quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

"Migrants é a ode à mais bela epopeia do ser humano"

 


O músico, autor, compositor e escritor cabo-verdiano Mário Lúcio está em Paris para participar no festival "Aux Fil des Voix" que terá lugar no próximo dia 24 de Janeiro. O fundador do grupo Simentera e antigo ministro da Cultura vai actuar na sala La Cigale, ao lado das cabo-verdianas Cármen Souza e Lucileba. Em entrevista à RFI, Mário Lúcio falou do último álbum "Migrants é uma ode a ode à mais bela epopeia do ser humano" e afirmou que as vozes de Cabo Verde continuam a encantar o mundo.

Após uma pausa de alguns anos, Mário Lúcio lançou no passado mês de Novembro o décimo álbum “Migrants”. Um álbum que canta a beleza do percurso humano, fazendo ecoar o coração da humanidade. Mário Lúcio afirma que este álbum pretende passar a "mensagem do amor", fazendo uma homenagem àqueles que partiram à procura de melhores condições de vida e aos que perderam a vida quando tentaram chegar a lugar seguro.

"Neste disco falo da migração, uma das mais belas epopeias do ser humano, que trouxe diversidade para o planeta, a ocupação do território, a evolução humana em todos aspectos, hoje também é sinónimo de drama, de vergonha e de morte. Faço a aqui uma homenagem àqueles que perderam à procura de condições melhores", referiu.

O single "Migrants Shakespearience" é inspirado num acontecimento real, ilustrando uma notícia de 2008 onde um navio de turistas socorre um pequeno bote de migrantes no Mediterrâneo. Questionado sobre a necessidade de se criarem condições para que as pessoas não tenham de correr estes riscos, o músico cabo-verdiano defende que a aposta deve ser "na livre circulação das pessoas".

"A maior injustiça do planeta é alguns julgarem-se donos de alguns pedaços do planeta, enquanto outros não têm acesso", explicou.

O álbum "Migrants" mistura as múltiplas raízes de Cabo Verde. Às mornas, às coladeiras e ao funaná, o compositor acrescentou as influências afro-cubanas e novas sonoridades. A noção de mestiçagem, o diálogo e a harmonia, entre as culturas, também são o lema desta obra musical. Um álbum que pretende quebrar a noção de fronteiras, das barreiras linguísticas, das cores, religiões ou nações.

Neste décimo disco, Mário Lúcio decidiu confiar os arranjos e a produção musical a Rui Ferreira, músico multi-instrumentista do Porto, afirmando que queria que a sua alma fosse lida por outra pessoa.

"Nada melhor do que, num disco que conta uma epopeia, deixar-se levar pelas águas. Houve um momento em que eu disse ao Rui para ficar completamente à vontade. Eu quero que tu te vejas em mim. Eu quero de tu me vejas em ti. Com essa vontade conseguimos fazer coisas incríveis", acrescentou.

“Migrants" foi nomeado para o Prémio da Crítica Alemã, uma das mais prestigiadas da Europa, fundada em 1963, por destacar a excelência da qualidade na área da música.

"Ver como este prémio é organizado, fora da indústria, por críticos, jornalistas e que tem por objectivo ir procurar a excelência. Achei muito estimulante para mim, para o Rui Ferreira, que fez os arranjos, para todos os músicos que participaram, para a editora que confiou em nós, e também para Cabo Verde", reconheceu Mário Lúcio.

rfi.fr/pt

www.miguelimigrante.blogspot.com


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