sábado, 30 de outubro de 2021

Francisco e Biden: conversa sobre clima, Covid, migrantes e liberdade de consciência

 O líder dos EUA, acompanhado por sua esposa Jill, pela primeira vez no Vaticano como presidente. Longo diálogo a portas fechadas na Biblioteca Apostólica: reiterado o compromisso comum no combate à pandemia e proteção do Planeta, com atenção especial aos eventos internacionais atuais à luz do G20.

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (29/10), no Vaticano, o presidente dos EUA, Joe Biden. Às 11h59, o carro presidencial estadunidense parou na entrada da Residência Apostólica, no Pátio São Dâmaso, onde tinha sido hasteada a bandeira estadunidense. O presidente Joe Biden, que chegou à Itália durante a noite para participar do G20 em Roma, foi ao Vaticano para uma audiência com Francisco. É o primeiro encontro no cargo de presidente. No passado, Biden saudou o Papa três vezes.

Segundo um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé, depois do encontro com o Papa, Biden encontrou-se sucessivamente com o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, e com o secretário das Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher.

Durante as conversas cordiais, foi debatido sobre o compromisso comum com a proteção e o cuidado do planeta, a situação da saúde e a luta contra a pandemia da Covid-19, a situação dos refugiados e da assistência aos migrantes. Também foi feita referência à proteção dos direitos humanos, incluindo o direito à liberdade religiosa e de consciência.

As conversas permitiram uma troca de opiniões sobre algumas questões internacionais atuais, inclusive no contexto da próxima cúpula do G20 em Roma, e sobre a promoção da paz no mundo através de negociações políticas.

Depois do encontro no Vaticano, Biden se dirigiu ao Palácio do Quirinal, residência oficial do Presidente da Itália, para um encontro com o presidente italiano, Sergio Mattarella, e o primeiro-ministro, Mario Draghi.

A acolhida no Vaticano

Biden e sua esposa Jill foram recebidos pelo regente da Casa Pontifícia, mons. Leonardo Sapienza. "Muito obrigado, é bom estar de volta", disse o chefe da Casa Branca, brincando também com alguns cavalheiros de Sua Santidade, presentes nas boas-vindas oficiais. O presidente Biden, segundo presidente católico depois de John Fitzgerald Kennedy, foi acompanhado até à Sala del Tronetto, onde se realizou a primeira saudação com o Papa. Depois, Francisco se dirigiu com o presidente para a Biblioteca Apostólica às 12h10, onde houve a conversa reservada que terminou pouco depois das 13h25. Foi um diálogo de cerca de 75 minutos, provavelmente o mais longo até hoje entre um Papa e um presidente dos EUA. Em 2014, com o então presidente Barack Obama, a conversa dourou 50 minutos.

A troca de presentes

A audiência se concluiu com a tradicional troca de presentes e a saudação da delegação formada por dez membros, incluindo o secretário de Estado, Antony Blinken, e o conselheiro de Segurança da Casa Branca, Jake Sullivan. O Papa deu ao presidente dos Estados Unidos uma pintura sobre uma telha de cerâmica representando um peregrino na margem do Rio Tibre, apontando para a Basílica de São Pedro. O Papa presenteou também alguns documentos, os mesmos dados algumas horas antes ao presidente sul-coreano Moon Jae-in: a Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2021 com sua assinatura, o Documento sobre a Fraternidade Humana assinado em Abu Dhabi com o Grão Imame de Al-Azhar, e o livro sobre a Statio Orbis publicado pela Livraria Editora Vaticana (LEV) onde se encontram as fotos mais bonitas da oração do Pontífice, em 27 de março de 2020, no auge da pandemia.

Biden retribuiu com uma casula bordada à mão com flores e frutas. A casula data de 1930, quando foi encomendada ao conhecido alfaiate Gamarelli e foi usada pelos jesuítas nos Estados Unidos desde então. A casula vem do arquivo histórico da Igreja Católica da Santíssima Trindade, uma importante igreja de Washington que desempenhou um papel significativo no apoio aos direitos civis a partir de 1787. A Casa Branca garantiu que fará uma doação de roupas de inverno para organizações caritativas, em nome do Papa Francisco, para agradecer-lhe por este encontro, e em vista do Dia Mundial dos Pobres, em 14 de novembro.

Um comunicado da Casa Branca, divulgado logo após a saída de Biden do Vaticano, afirma que o presidente dos EUA "agradeceu a Sua Santidade pelo apoio aos pobres e aos que passam fome, sofrem com a guerra e perseguição no mundo". Biden "elogiou a liderança do Papa Francisco no combate à crise climática, bem como seu compromisso de garantir o fim da pandemia para todos, através de vacinas e uma recuperação econômica global justa".

Quarto encontro

A audiência de hoje é o quarto contato direto entre o Papa Francisco e Joe Biden. O primeiro ocorreu na missa inaugural do pontificado em 19 de março de 2013. A seguir, os dois se encontraram dois anos depois, em 2015, durante a visita de Francisco aos Estados Unidos, primeiro à Casa Branca e depois ao Congresso. Em 2016, o terceiro encontro em 29 de abril, no Vaticano, onde Biden estava participando da Cúpula Mundial dedicada à medicina regenerativa. Recordamos o telefonema do Pontífice, em novembro de 2020, ao recém-eleito presidente dos Estados Unidos, para as felicitações. A equipe de Biden havia anunciado que o presidente agradeceu ao Pontífice e expressou apreço "pela liderança de Sua Santidade na promoção da paz, da reconciliação e dos laços comuns da humanidade em todo o mundo". A nota também relatava o "desejo" do chefe de Estado de "trabalhar juntos com base em valores comuns", no reconhecimento "da dignidade e da igualdade de todo ser humano, cuidando das pessoas à margem e dos pobres, combatendo as mudanças climáticas, acolhendo e integrando migrantes e refugiados em todas as comunidades".

Desde 1919, seis papas receberam um presidente estadunidense no Vaticano: Bento XV, João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Os três últimos Pontífices também encontraram oficialmente um líder norte-americano em solo estadunidense.

Vatican News

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