sexta-feira, 13 de novembro de 2020

DIA DOS POBRES E ELEIÇÕES



Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte MG)
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

 Importantes acontecimentos, emoldurados pela referência histórica da Proclamação da República, serão vividos no domingo, 15 de novembro: as eleições municipais nas cidades brasileiras e o Dia Mundial dos Pobres. A Proclamação da República explicita o sentido maior da democracia e as eleições municipais desafiam cada cidadão a escolhas qualificadas. Justamente nesta data, os cristãos católicos vivenciam o IV Dia Mundial dos Pobres, convocação inspirada pelo Papa Francisco, com um interpelante tema para este ano: “Estende a mão ao pobre” (Sir 7,32). A coincidência da data que envolve todos esses importantes acontecimentos estimula reflexões sobre a estreita relação entre eles. Reflexões que, a partir da cidadania, da democracia, no horizonte da Doutrina Social da Igreja, podem inspirar atitudes capazes de renovar o atual modelo econômico, sob os parâmetros do desenvolvimento integral.

Afinal, é de todos o desafio de superar rumos perversos e excludentes do atual contexto econômico, repleto de contradições, distante de parâmetros humanísticos. O ser humano não pode ser considerado apenas um consumidor ou simples peça de um sistema produtivo. Se essa perspectiva perdurar, a humanidade continuará a conviver com situações absurdas, a exemplo do que ocorre neste tempo de pandemia, quando poucos que já acumulam grande fortuna se enriquecem ainda mais, enquanto cresce a pobreza entre a grande maioria dos que nada possuem.  A elaboração de estratégias, de modo racional e humanitário, para efetivar nova lógica na economia é urgente. Há valores sociais dos quais não se pode abrir mão sob pena de serem agravados os vergonhosos cenários de pobreza e de exclusão social que ferem a humanidade. Por isso mesmo, no horizonte das eleições municipais, não se pode investir naqueles que se valem de plataformas eleitoreiras, retomando discursos repetitivos – e por isso mesmo estéreis – enlatando promessas, muitas inexequíveis, sem colocar as necessidades dos pobres em primeiro lugar.

O desenvolvimento esperado só pode ser alcançado quando a realidade dos mais pobres torna-se o ponto de partida. Assim é possível mudar cenários marcados pela assustadora desigualdade social. Não se pode cair na mazela de escolhas que aparentam trazer, com grande facilidade, a solução para graves problemas, a exemplo de propostas fundamentadas em um modelo de desenvolvimento agressivo e desrespeitoso com o meio ambiente, gerando riqueza ilusória para poucos bolsos e grandes passivos para toda a coletividade. O discernimento cidadão nas eleições precisa ser capaz de identificar e selecionar quem efetivamente se dispõe a estender a própria mão ao pobre.

“Estende a mão ao pobre”- o convite-convocação deste IV Dia Mundial dos Pobres, no domingo das eleições municipais, se torne a motivação para o comparecimento às urnas.  Que esse convite-convocação possa oferecer os parâmetros para a escolha de prefeitos e vereadores nos municípios. E o compromisso cidadão de votar adequadamente seja acompanhado por um gesto concreto de generosidade dedicado aos mais pobres. É hora de compor uma ladainha de obras do bem, estendendo a mão ao pobre, por proximidade e solidariedade, conforme pede o Papa Francisco.

A mão que se estende ao votar escolha quem pode ser mão estendida ao pobre – candidatos comprometidos a efetivar novas lógicas que levem ao desenvolvimento integral e sustentável. Homens e mulheres capazes de se comover pela pobreza, dispostos a servir toda a sociedade a partir de uma sensibilidade abrangente e inclusiva, promovendo a vida em todas as suas etapas, da concepção ao declínio com a morte natural.

CNBB

www.miguelimigrante.blogspot.com


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